A disputa pelo cargo de Roger Agnelli

Do Estadão

Dilma quer blindar Vale de apetite político

Antonio Maciel Neto, que dirige a Suzano, é cotado para presidência da mineradora

14 de março de 2011 | 0h 00

Vera Rosa – O Estado de S.Paulo

A presidente Dilma Rousseff está convencida de que é preciso trocar o comando da mineradora Vale, mas quer blindar a companhia do apetite político para não causar turbulência no mercado nem impacto nas ações da companhia na Bolsa de Valores. Agora, há um novo executivo cotado para substituir Roger Agnelli na Vale: trata-se do presidente da Suzano Papel e Celulose, Antônio Maciel Neto.

O nome de Maciel, ex-presidente da Ford do Brasil, circula no Palácio do Planalto e também nas negociações com os acionistas, mas o governo sabe que a substituição não será uma operação fácil. Agnelli não quer sair e a Vale está em boa situação: é líder mundial na produção de minério de ferro e, no ano passado, atingiu o segundo maior lucro da história entre as empresas de capital aberto (R$ 30,1 bilhões), só perdendo para a Petrobrás.

DesdDesde o segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, no entanto, a avaliação no Planalto é a de que Agnelli privilegia as exportações em detrimento da indústria nacional. Recusa-se a investir, por exemplo, em produto com valor agregado, fazendo com que o Brasil exporte minério de ferro para a China e seja obrigado a importar trilhos chineses para as ferrovias.

É por isso que Dilma, a exemplo de Lula, gostaria de ver um perfil diferente no comando da empresa: alguém que seguisse a estratégia de desenvolvimento para o País ditada pelo Planalto, como faz a Petrobrás, mesmo que a Vale seja empresa privada.

Influência. A eleição do Conselho de Administração da Vale está marcada para maio e nenhum sócio controlador da empresa, privatizada em 1997, tem preferência na escolha do presidente. Mesmo assim, o governo exerce papel importante, já que os fundos de pensão das estatais – Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, Funcef (Caixa Econômica Federal) e Petros, dos servidores da Petrobrás – detêm 49% das ações.

Na tentativa de despolitizar a sucessão na Vale, Dilma incumbiu o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, de tratar do assunto. O BNDESPar, braço de participação do banco, integra a lista de sócios controladores da mineradora.

Na prática, Dilma não quer expor a Vale no momento em que uma nova polêmica vem à tona: o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) cobra da companhia uma dívida de quase R$ 4 bilhões referente ao pagamento a menor dos royalties da mineração a cidades de Minas Gerais, Pará e Bahia. A Vale contesta o valor da dívida, mas a presidente disse que a empresa terá de pagar os royalties.

“Precisamos acabar com essa história de capitania hereditária na área mineral”, resume o senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos. “Quer queiram ou não, devemos ter uma nova regulamentação do setor, um novo código.”

Comunicado. Em janeiro, preocupada com suas ações na bolsa, a Vale divulgou comunicado ao mercado negando a substituição de Agnelli, que está no comando desde 2001. Os rumores sobre a dança de cadeiras, porém, nunca cessaram. Com fama de “consertador” de empresas, Maciel Neto conta agora com a simpatia de Luciano Coutinho e de ministros com assento no Planalto.

Engenheiro mecânico, o presidente da Suzano Papel e Celulose trabalhou dez anos na Petrobrás e foi secretário-executivo do Ministério da Indústria e Comércio no governo Collor. Outros nomes já foram citados antes dele para substituir Agnelli, mas todos esbarraram em algum empecilho.

Na lista estão Rossano Maranhão, presidente do Banco Safra – convidado para assumir a nova Secretaria da Aviação Civil -, Fábio Barbosa (Santander), Octávio Azevedo (Andrade Gutierrez) e Wilson Brumer (Usiminas). Atualmente, Maciel Neto é visto pelo Planalto como o homem que pode ser a solução na Vale. Até maio, no entanto, muita coisa pode acontecer. 

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador