Do Brasil Econômico
A um ano da Copa, preços no Brasil já assustam
Brasil Econômico – Por Claire de Oliveira Neto/AFP
O Rio é hoje a terceira cidade com os hotéis mais caros do mundo. Um quarto custa em média US$ 246,71, mais caro do que em Nova York e Paris.
Beber uma água de coco na praia ainda é um pequeno prazer acessível no Brasil. Já ir ao restaurante, se hospedar num hotel ou viajar pelo país virou luxo. A um ano da Copa do Mundo, os preços estão entre os mais caros do mundo.
Porta de entrada do turismo no Brasil, com sua bela baía, suas praias, o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, o Rio de Janeiro está no epicentro de grandes eventos que vão ditar a vida do Brasil nos próximos três anos. Mas uma consequência não é tão agradável para turistas e, sobretudo, para cariocas: a incrível escalada dos preços.
A “cidade maravilhosa” tem uma agenda inédita. Ela se prepara para acolher três partidas da Copas das Confederações (15 a 30 de junho), inclusive a grande final no novo Maracanã. Em seguida, recebe a Jornada Mundial da Juventude católica, que contará com a presença do Papa, no final de julho. Em 2014, será a vez da Copa do Mundo e, em 2016, dos Jogos Olímpicos.
O Rio é hoje a terceira cidade com os hotéis mais caros do mundo. Um quarto custa em média US$ 246,71, mais caro do que em Nova York (US$ 245,82) e Paris (US$ 196,17), de acordo com um estudo do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), publicado na semana passada.
Tudo é caro, menos o cigarro
Victor Mameaux e Damien Lambrecht, dois parisienses de 32 anos, acabam de passar 15 dias na cidade, onde pagaram € 1 mil para alugar um apartamento de 20 metros quadrados em Copacabana. Os bairros de Ipanema e Leblon são ainda mais caros.
“Chegamos na cidade com os velhos clichés em mente: ‘Rio, cidade barata e perigosa’, mas é exatamente o contrário”, declarou Victor à AFP.
“Num restaurante de Ipanema, no almoço, eu paguei € 30 por uma feijoada sem bebida. Isso é mais caro do que eu pago em Paris”, continuou.
Em dez anos, os preços aumentaram 140%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Tudo é caro, menos o cigarro”, resumiu Damien.
Ao contrário do que se pensa, os dois parisienses não se sentiram inseguros, nem mesmo na favela que visitaram, o morro Dona Marta, a primeiraa ser “pacificada” pelas autoridades, em 2008.
Dólar supervalorizado, oferta limitada
Para o presidente da Embratur, Flávio Dino, a explosão dos preços é ligada inicialmente à uma mudança: “Os preços estão inflacionados em função do real estar supervalorizado em relação ao dólar”, mas também por causa da oferta limitada numa época de grande demanda turística. “A infraestrutura não está à altura de um mercado de consumo em massa”, declarou Dino.
O Brasil paga o preço do progresso: o crescimento e os programas sociais tiraram 40 milhões de brasileiros da miséria na última década, e eles estão consumindo cada vez mais.
Porém, quase tudo se paga no crédito, em dez vezes ou mais, seja por um par de sapatos ou implantes de silicone.
O governo quer fazer da Copa do Mundo uma alavanca de desenvolvimento nas 12 cidades sedes, todas com vocação turística.
“Temos que aumentar a oferta hoteleira e também de companhias aéreas para estimular a concorrência”, explicou Dino. Nos últimos dez anos, o número de passageiros mais que dobrou nos voos nacionais, chegando a 100 milhões. Internacionalmente, são seis milhões, número que deve chegar a dez milhões até 2020.
Um plano de modernização dos aeroportos, obsoletos e saturados, foi posto em prática pelo governo e US$ 4 bilhões foram investidos na infraestrutura hoteleira.
Não matar a galinha dos ovos de ouro
“O Brasil é um destino custoso e viajar dentro do país é algo muito caro porque vivemos uma situação de monopólio, com basicamente duas companhias aéreas, TAM e Gol. É um obstáculo para o turismo”, lamentou Daniel Pla, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em marketing.
Assim, seguir uma equipe por diversas cidades pesará no bolso do torcedor. “Ir do Rio à Fortaleza sai tão caro quanto ir à Miami. O governo precisa quebrar esse monopólio”, afirmou Del Pla.
O Rio de Janeiro ficou “especialmente caro” desde que foi escolhido em 2009 como sede dos Jogos Olímpicos. Nas outras cidades, como Fortaleza, Recife e Salvador, os preços são mais moderados.
No Rio, o setor hoteleiro investiu cerca de 1,5 bilhão de dólares na construção de 250 novos hotéis para passar dos 30.000 quartos oferecidos hoje para 50.000 em 2016.
O Ministério do Turismo promete vigiar os preços dos hotéis, mas o presidente da Embratur descarta “qualquer interferência do governo, a não ser em casos de abusos”.
“O problema é depois de 2016. O Brasil não pode ser visto como um destino caro, senão vamos matar a galinha dos ovos de ouro para as próximas décadas”, avisou o presidente da Embratur.
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