A guerra contra os juros altos

Coluna Econômica

Luiz Carlos Bresser-Pereira é mais do que um grande intelectual do desenvolvimentismo brasileiro. É um incrível animador das grandes discussões contemporâneas. A 7a Semana de Economia, da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, é exemplo dessa disposição.

Durante dois dias, especialistas de diversas linhas econômicas discutiram os principais empecilhos ao desenvolvimento sustentável.

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Nas discussões, sobreassaem alguns temas relevantes.

O primeiro, a questão das taxas de juros. Não há lógica para períodos tão prolongados de taxas de juros elevadas. A constatação foi unânime tanto da parte de economistas keynesianos, como Yoshiaki Nakano, Bresser e Geraldo Biasotto Jr (que está preparando o programa do candidato José Serra), quanto de antigos monetaristas, formados em Chicago – como Paulo Rabello de Castro e Fernando Hollanda Barbosa (este, considerado o mais respeitável especialista brasileiro em política monetária).

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O ponto central para a desmontagem desse modelo será eliminar as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), instrumento criado por André Lara Rezende no período bravo de superinflação.

Na época, havia razão de ser. Inflação elevada poderia provocar uma fuga para o dólar, já que a compra de títulos pré-fixados (aqueles em que se sabe a rentabilidade nominal no momento da aquisição), ou mesmo de pós-fixados (tendo como base a correção monetária) implicava grandes riscos para os investidores.

As LFTs passaram a ser corrigidas pelo CDI (as taxas dos Certificados de Depósito Interbancário, pela qual os bancos trocam suas reservas entre si). Com isso, reduziu-se substancialmente o risco.

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É da lógica do mercado que ativos com risco menor paguem menos juros – e vice-versa. Passou o período da superinflação, mas o Banco Central jamais teve o menor interesse em eliminar as LFTs. Assim, o custo da dívida do Tesouro era influenciado diretamente pelas necessidades de caixa dos bancos. Somou-se risco zero com alta rentabilidade, acabando por influenciar toda a estrutura de juros do sistema.

O primeiro desafio do próximo governo será acabar com as LFTs sem traumas.

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O segundo desafio será proceder a uma reformulação total de prioridades. Hoje em dia, a política econômica está subordinada à política monetária. A taxa de juros é instrumento de política econômica. Através dela, consegue-se estimular a economia, promover investimentos, aumentar o emprego. Ao subordiná-la completamente às tais metas inflacionárias – como lembrou Biazotto, em um paper muito bom -, inverteu-se a lógica: subordinou-se a economia real à economia financeira, pois taxas elevadas passaram a mexer também com o câmbio.

Câmbio valorizado prejudica a competitividade da economia. Ao utilizar a taxa de juros para combater a inflação (e abrir mão de todos os demais instrumentos), subordina-se todo o desenvolvimento futuro do país às questões de curtíssimo prazo.

Se não se inverter essa lógica, o futuro do país poderá estar sendo comprometido justamente no período mais favorável da sua história. 

Luis Nassif

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