A importância da integração latino-americana

Coluna Econômica – 28/05/2010

Uma das maiores impropriedades da pré-candidatura de José Serra são os sucessivos ataques a países vizinhos – ao Mercosul, à Venezuela e, agora, à Bolívia.

Esse tipo de interferência não é adequada a quem se pretende futuro presidente da República. Mesmo porque, os interesses do Brasil na região independem de governos eventuais.

Desde os anos 90 há em curso um plano de integração continental capaz de impulsionar a região. Foram identificadas sete regiões no continente que, após a integração de infraestrutura, se transformarão em zonas de crescimento dinâmico.

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Na verdade, o grande desafio é acelerar essa integração. Recentemente, Renato Queiroz e Thaís Vilela – do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – procederam a um amplo balanço sobre a integração energética do continente.

A integração energética é vantajosa por um conjunto de fatores.

1. Complementariedade dos recursos energéticos aproveitando, por exemplo, a diversidade hidrológica entre os países;

2. Possibilidade de aplicação de tarifas mais competitivas; e

3. Sobretudo do ganho da diversificação da matriz energética dos países

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Os obstáculos são de ordem legal e política. O primeiro, o da insegurança política e jurídica. Em 2006, a Bolívia mudou as regras de comercialização do seu gás. Em 2007 houve a interrupção do fornecimento de 2 mil MW (megawatts) da Argentina. Houve a renegociação dos contratos de Itaipú, solicitado pelo Paraguai e o racionamento de energia elétrica da Venezuela, afetando o suprimento de Roraima, e a redução drástica de fornecimento de GN (gás natural) pela Argentina ao Chile

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Dizem os dois especialistas: “há de haver um reconhecimento de que os países possuem culturas empresariais distintas, diversidade de padrões culturais e, também, eventos históricos que deixaram ressentimentos entre os países da região. As probabilidades de avanço no processo podem ocorrer em um ambiente cooperativo, em que a premissa maior é a integração energética da região e, não somente, os interesses em projetos de cada país”.

Já existem fóruns de debates apropriados para essas negociações, como a CIER (Comisión de Integracion Electrica Regional) a IIRSA (Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul-americana) e a criação da União das Nações da América do Sul (UNASUL), espelhando-se na União Europeia.

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No gás natural e na eletricidade, há fatores que favorecem a integração. Em relação à eletricidade, as interconexões elétricas podem ser facilitadas com a implantação de hidroelétricas binacionais e por contratos de comercialização firmes entre países.

Isso já aconteceu com a hidrelétrica de Salto Grande entre a Argentina e o Uruguai,que começou a operar em 1979; a de Itaipu, entre Brasil e Paraguai, concluída em 1982; e a de Yacyretá entre a Argentina e o Paraguai, que começou a operar em 1994.

Calcula-se que em 2010, a comercialização de energia entre os países da América do Sul chegue a significativos 7% da energia gerada.

Luis Nassif

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