A indústria de chips no Brasil

Da Folha

País lança ofensiva por indústria do chip

Governo diz que incentivos para atrair fabricantes de componentes eletrônicos serão mais generosos a partir de agora

Deficit da balança de componentes para chips e telas pode alcançar os US$ 10 bilhões neste ano, diz governo 

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

O governo brasileiro vai lançar nova ofensiva internacional para atrair a cadeia industrial do chip e das telas usadas em TVs, computadores e celulares. A importação desses itens bate recorde e revela a imensa dependência brasileira.

O governo estima que o deficit nesses produtos supere os US$ 10 bilhões neste ano. Só em chip, a conta deve ser de US$ 4 bilhões. Por isso, o governo decidiu agir.

As concessões do Brasil incluem “road shows” e a ampliação da oferta de desonerações, hoje restrita ao chip, para toda a cadeia, diz o coordenador de microeletrônica do Ministério da Ciência e Tecnologia, Henrique de Oliveira Miguel.
O pacote brasileiro foi montado em 2007. Inclui isenções de IPI, PIS e Cofins, além de reduções de até 88% no Imposto de Importação para projetos no polo industrial de Manaus.

AlguAlguns dos benefícios também constam do programa criado pelo governo para trazer a indústria do chip e das telas ao país.”O pacote brasileiro não é suficiente para atrair a indústria, estamos cientes disso. Hoje, o Brasil não tem condições de exigir nada. Estamos numa posição em que temos de fazer mais concessões”, afirma Miguel.

O tamanho dessas concessões ainda não está totalmente dimensionado. O governo quer ouvir o setor industrial (investidores e fornecedores) para saber o que mais precisa ser feito para a construção dos elos de uma cadeia de componentes usados em vários produtos de consumo.

“O governo tem ações a realizar. Se você quer montar os elos dessa cadeia, é preciso ouvir os investidores e os fornecedores para viabilizar a vinda de todos ao país. Sem isso, teremos uma indústria que monta displays, mas é totalmente dependente de importação, e isso não é sustentável.” O plano brasileiro prevê também exportações.

Além dos incentivos, o tamanho do mercado brasileiro (com TV digital, banda larga e o crescimento da demanda de televisores de LCD, notebooks e desktops) fez com que Samsung, Phillips e a chinesa H-Buster anunciassem fábricas de displays em Manaus. Há expectativas de que a CCE faça o mesmo.

Esse movimento da indústria agradou ao governo, mas ainda não atende ao objetivo final: criar uma cadeia de fornecedores de componentes para os fabricantes de equipamentos.

A questão estratégica não é apenas aliviar o crescente peso na balança comercial, mas também dar ao país condições próprias para ter independência na obtenção desses insumos.

“O jogo aí é mais pesado”, diz Miguel. O Brasil não tem a pretensão de enfrentar a China nessa competição, mas acha que tem condições de enfrentar emergentes como o México, a Polônia ou o Vietnã -alguns dos países que aspiram atrair essa indústria. 

Estatal do chip de R$ 500 mi está parada

Fábrica inaugurada por Lula em fevereiro no Rio Grande do Sul ainda aguarda instalação de equipamentos

Direção da primeira fábrica de chip no Brasil diz que os primeiros componentes só saem da linha no ano que vem

DE SÃO PAULO

O Ceitec S.A. é a primeira fábrica de chip no Brasil. Foi inaugurada em fevereiro pelo presidente Lula, mas ainda não tem produção de componentes. A unidade, na qual o governo brasileiro já injetou R$ 500 milhões, só deve produzir em 2011.
Cylon Gonçalves da Silva, presidente do Ceitec S.A., explica que ainda faltam equipamentos para iniciar a produção dos primeiros circuitos integrados. O único setor ativo é aquele responsável pelo desenho do chip, o design. Mas todos os componentes desenhados estão sendo montados fora do país.

A estatal faz parte dos esforços da PDP (a política industrial do governo Lula) de fundar no país uma cadeia industrial para produção de semicondutores. Além dessa unidade, etapa crítica da cadeia do chip, o BNDES negocia a instalação de projetos privados no país. Quais, o banco não informa.

TAMANHO DA CONTA

“O painel acendeu”, diz Henrique Miguel, coordenador de microeletrônica do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia). O aumento da demanda de semicondutores e agregados eleva a US$ 10 bilhões o deficit.

No primeiro semestre, só as compras de chips custaram US$ 2 bilhões, US$ 800 milhões a mais do que o gasto no mesmo período do ano passado. Mas chip é só parte do problema. As telas são outra dor de cabeça.

Segundo Victor Mammana, coordenador do grupo de displays da política industrial do governo, o país consome hoje 70 milhões de telas por ano. Número que inclui de TVs a celulares, de mostradores em eletrodomésticos a telas usadas nos jatos da Embraer. A dependência externa é total.

A demanda por televisores chegará a 11 milhões neste ano. Pela primeira vez, mais de 50% será de LCD ou plasma. “Nossa importação de displays em 2009 atingiu US$ 1 bilhão, e isso é extremamente preocupante”, afirma Miguel. Entre janeiro e julho deste ano, o país já gastou US$ 741 milhões.

O próprio BNDES tem mostrado (veja tabela) o crescente deficit do complexo eletrônico. O governo teme o efeito que a nova demanda representará para as contas da balança comercial. O tempo não é favorável ao país. (AB) 

Luis Nassif

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