A infraestrutura na agricultura

Do Terra Magazine

Infraestrutura: Questão de velocidade

Rui Daher
De São Paulo

É comum a mídia repercutir queixas de produtores rurais e de entidades que os representam sobre a falta de infraestrutura para desenvolverem suas atividades de forma competitiva. Nada mais justo.

Os mesmos atores, de uns anos para cá, ranqueiam o País na liderança mundial de vários setores agropecuários, desfiando conquistas da balança comercial mesmo com nossa moeda sobrevalorizada, participação crescente do agronegócio no PIB e preços relativos dos alimentos numa agricultura minimamente subsidiada.

Tudo também muito verdadeiro. Duas situações, porém, que sugerem uma pergunta: afinal, somos ou não competitivos? Imagino a resposta de muitos: poderíamos ser muito mais.

Lembremo-nos que o Brasil não é um país apenas com falta de infraestrutura para a produção. Ela se mantém inadequada para qualquer atividade, seja esta econômica, social ou cultural.

Assim como nos faltam portos, modais de transportes e armazéns para viabilizarmos grandes safras agrícolas, também não nos sobram escolas, hospitais e aparelhos de saneamento básico para formatar uma população de vida qualificada.

País de industrialização tardia, as obras de infraestrutura aqui sempre estiveram a cargo do Estado e em períodos de bonança econômica.

Foi assim nas décadas de 1960/70, com os governos militares, e agora poderá sê-lo na esteira de um crescimento mais robusto, após 25 anos estacionados numa economia vulnerável a espirais inflacionárias, crises internacionais e desenganos políticos sucessivos.

Se não por um atavismo clássico da iniciativa privada, que foge de investimentos pesados com retorno lento, foram tempos em que seria perverso guardar esse papel para ela. Ainda mais, após o Consenso de Washington, que ao gosto neoliberal ajustou o Estado a um papel apenas indutor. Algo assim como a expressão “comigo não, violão”.

Há, no entanto, um aspecto esquecido com frequência quando se discute falta de infraestrutura adequada na agricultura. O tempo de resposta.

Poucos devem se lembrar de Emil Zátopek (1922 – 2000) que venceu a Corrida de São Silvestre de 1953, em São Paulo. No ano anterior, a “Locomotiva de Praga” ganhara três medalhas olímpicas em Helsinque. Recordista mundial, o tcheco corria os 10.000 metros em 29′ 17”.

Precisou mais de meio século para que o atual recordista, o etíope Kenenisa Bekele, diminuísse em três minutos o tempo do mesmo percurso (Bruxelas, 2005).

Dificilmente, governos de países até pouco tempo registrados em cartórios mundiais como pobres ou subdesenvolvidos ousavam investir em infraestrutura esperando produção ou comércio que, como Godot*, poderiam nunca chegar. A produção brasileira de grãos só passou a evoluir em taxas mais altas na última década.

Não é prudente colocar a carroça na frente dos bois, sobretudo, quando há necessidades mais prementes. A agricultura quando se expande em direção às novas fronteiras tem uma velocidade de Zatopek ou Bekele. A infraestrutura, de tartaruga.

Enquanto a agricultura vai mobilizando o cultivo para rincões longínquos, mas adequados climaticamente e a preços de terras acessíveis, seus olhares para a infraestrutura do local são tímidos.

As estradas poderão ser longos caminhos de terra intransitáveis durante o período de chuvas. A energia será resolvida com um pequeno gerador. Os mercados internos e os portos de exportação próximos não estarão aparelhados, a safra atravessará longas distâncias e pagará fretes caríssimos até atingir portos mais bem estruturados.

Aos pioneiros caberá sonhar com a chegada da infraestrutura, a passos não de Zatopek, mas de tartaruga.

(*) – “Esperando Godot”, peça de teatro escrita pelo irlandês Samuel Beckett, em 1952. 

Luis Nassif

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