A Internet, como foco de políticas públicas

Do Último Segundo

Coluna Econômica 09/03/2010

Ontem estreei um projeto novo na TV Brasil (da Empresa Brasileira de Comunicação). Trata-se de uma tentativa de casar a linguagem da televisão com a Internet. O nome é Brasilianas.org.

Durante a semana, levanta-se um tema de política pública na TV – Defesa, comunicações, políticas sociais, economia do futebol etc. Depois, chama-se o telespectador para vir contribuir na Internet.

Ele entra, então, em um portal – que está sendo concluído -, assiste os vídeos, lê os trabalhos apresentados, dá sua opinião, traz novas informações, novos trabalhos. Há uma discussão e uma construção coletiva do conhecimento.

Depois, essa matéria prima bruta é lapidada e gera reportagens jornalísticas sintetizando os principais pontos da discussão.

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O que está por trás disso é a revolução do conhecimento, que finalmente chega ao país através da Internet.

Antes dessa era, o conhecimento ficava restrito a grupos específicos, cada qual desenvolvendo suas ideias mas sem sair do mesmo circuito.

Hoje em dia o país tem uma estrutura de grupos de conhecimento de nação desenvolvida. É possível encontrar especialistas em economia, em mercado, em modelo ferroviário, em transporte intermodal, em inovação, tecnologia, universidade, ensino básico. É um processo fervilhante, que percorre a Internet através de listas de discussão, foruns, sites especializados.

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Até agora, havia enorme dificuldade para que esse conhecimento alcançasse a opinião pública. Em parte, por falta de partidos políticos. Em países maduros, cada partido tem seu instituto pensando o novo, analisando cenários, novas ideias, projetos, visando apresentá-los aos eleitores nas campanhas eleitorais. Por aqui, os partidos não são programáticos.

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Um segundo círculo de disseminação de conceito é a Universidade. No Brasil, elas não cumprem esse papel. Em geral, grupos acadêmicos seguram zelosamente seu conhecimento, porque é uma forma de poder: novas ideias permitem a grupos se imporem sobre outros grupos na mesma universidade ou em universidades concorrentes.

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A terceira obstrução é a chamada grande mídia – que deveria focalizar grandes temas nacionais. Os jornais lutam contra as limitações de espaço para excesso de notícias. A disputa do leitor obriga a matérias curtas de apelo fácil. Na televisão aberta, a busca de audiência é um obstáculo a programas de conteúdo.

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Resta, então, o caminho da Internet. O grande desafio consiste em captar as discussões, saber fazer as provocações adequadas e as sínteses corretas.

Esse modelo – que em breve se expandirá para todas as áreas – muda completamente o eixo político do país. Obriga a um grau de transparência inédito. Não haverá mais a figura dos governos providenciais, decidindo unilateralmente o que é bom para o país ou tomando a decisão grave sem maiores reflexões.

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Um dos belos desafios da imprensa – especialmente a regional, que fala para públicos mais focados e menos abrangentes que a mídia nacional – será reproduzir essas instâncias de discussão em sua zona de atuação.

Através dessa teia, que está se erguendo em todo o país, haverá possibilidades inéditas de melhoria das políticas públicas – seja federais, estaduais ou municipais.

Luis Nassif

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