A lógica do dólar no Brasil

Coluna Econômica

O investidor I.C. ficou rico jogando contra o Brasil. Ou melhor, apostando em sucessivas marchas da insensatez da política cambial. Ele espera esticar a corda do câmbio. Quando está bem esticada, e os buracos nas contas tornam-se cada vez maiores, passa a comprar títulos cambiais ou ativos expressos em dólar. Aí o dólar explode ele vende os ativos e, imediatamente, passa a comprar ativos em reais – ações de companhias.

No momento seguinte, os juros internos explodem, o câmbio começa novamente a apreciar e ele realiza o segundo movimento de lucro.

Ganhou muito dinheiro com a crise cambial de 1999 e com a crise cambial de 2008. Nesta última, o dólar explodiu devido à crise internacional. Não fosse a crise internacional, teria explodido com a deterioração nítida das contas externas brasileiros.

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I.C. começou a se movimentar de novo. Ele olha os dados da balança comercial – caindo, caindo até entrar no vermelho ainda este ano. Nos aeroportos, vê o movimento de sacoleiros e de turistas deitando e rolando com as compras em Miami e Nova York.

Depois, olha os dados das contas correntes (toda a movimentação de entrada e saída de dólares). Olha a conta turismo tornando-se cada vez mais negativa. Sua última olhada é no IED (Investimento Externo Direto). Enquanto o IED conseguir cobrir os rombos das demais contas, ainda não é hora de se mexer.

Quando o IED não for suficiente, ele começa a agir.

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O sinal amarelo acende quando o IED não conseguir dar conta mais dos saldos negativos das contas externas. É o que já está ocorrendo. No começo, será uma luz ainda fraca, porque o investidor sabe que o BC ainda conta com um colchão de reservas cambiais de US$ 400 bilhões.

À medida que o buraco aumenta, os investidores levam a mão ao coldre. Quem consegue sair na frente (isto é, recomprar os dólares e retirá-los do país) perde menos; quem demorar, perde mais. E quando começar o estouro, há grande probabilidade das reservas virarem fumaça.

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O passo seguinte já é conhecido do nosso investidor. Os dólares saem em disparada do país. Há uma explosão nas cotações e um reflexo sobre os preços internos. Para combater risco de inflação, o BC jogará as taxas de juros nas alturas.

O investidor que saiu correndo, para, então e olha para trás. Percebe que, com a desvalorização expressiva do real, em pouco tempo as contas externas voltarão ao azul. Ao mesmo tempo, os juros explodirão internamente. Ele trará, então, de volta os dólares, venderá a preço alto, comprará títulos públicos com as novas taxas de juros. Ou então comprará ações de empresas brasileiras na bacia das almas, esperando sua recuperação futura.

Como o governo precisa controlar a inflação, o movimento seguinte será de nova apreciação do real. A cada rodada, ele ganhará com os juros e com a apreciação do real.

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Na economia em geral haverá um trauma. Empresas endividadas em dólar quebrarão, a política econômica será desmoralizada, haverá traumas políticos de monta. Mas o Brasil continuará a ser o peru gordo do mercado financeiro internacional.

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Antes de ontem, o Banco Central eliminou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas aplicações de recursos externos. Já entrou no primeiro estágio dos novos tempos.

Luis Nassif

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