A “paulada” dos juros de Meirelles

Da Folha

Juro levará “paulada”, diz Meirelles a Lula

Presidente já foi avisado pelo dirigente do Banco Central de que alta mais forte da Selic agora trará menos desgaste político

Na cúpula do governo, já se espera um aumento de 0,75 ponto percentual, ao final da reunião do Copom, que acontece hoje e amanhã

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já está ciente de que a taxa básica de juros da economia subirá nesta semana num grau maior do que ele desejava.

Recentemente, Lula ouviu avaliação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de que seria preciso dar uma “paulada”, de acordo com expressão de um auxiliar direto do presidente.

Na cúpula do governo, espera-se uma alta de até 0,75 ponto percentual na Selic, hoje em 8,75% ao ano. Lula tinha expectativa de que o processo de elevação dos juros seria gradual, mas Meirelles o persuadiu de que seria melhor fazer subidas mais fortes em menos reuniões. Argumentou que o desgaste eleitoral seria menor e o efeito, mais rápido.

Antes da conversa reservada com Meirelles, Lula tinha expectativa de alta de 0,25 ponto. Mas, como havia uma combinação com Meirelles para retardar a alta dos juros neste ano, seria necessária uma subida mais forte na reunião de hoje e amanhã do Copom, o Comitê de Política Monetária.

Segundo um auxiliar direto de Lula, Meirelles ficou com a imagem arranhada ante o mercado ao adiar a alta dos juros na última reunião, que aconteceu em março. Ele transmitiu a imagem de que teria priorizado o cálculo eleitoral à política monetária, diz um ministro.

Meirelles queria deixar o BC para ser candidato a vice da pré-candidata do PT à Presidência, a ex-ministra Dilma Rousseff, sem ficar com o carimbo de ter elevado os juros.

Mas seu projeto político fracassou. Para recuperar credibilidade, ele deverá agora aplicar uma dose maior de aumento.

Em março, o próprio Meirelles acertou com Lula que não haveria alta dos juros. Fez a reunião do Copom. Defendeu que a Selic ficasse em 8,75% e ainda votou pela alta na época a fim de sinalizar que, na reunião de abril, a Selic subiria.

Ele tinha a esperança de que Lula bancasse seu nome junto à cúpula do PMDB para vice de Dilma. Mas o presidente não quis comprar uma briga com o partido, fechado com o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), que deverá ser indicado para companheiro de chapa da petista.

Meirelles permaneceu no BC sustentando um discurso frágil.

Disse que ficava para garantir a estabilidade econômica e afirmou que nunca tivera aspiração política. A Folha apurou que Lula não gostou do discurso de “guardião da estabilidade”. O presidente disse em conversa reservada que o guardião era ele, que recebera os votos em 2002 e 2006 para administrar o país. Com seu projeto político inviabilizado, Meirelles tentará nesta semana retomar a imagem de austero presidente do BC.

Apostas

A maioria dos especialistas concorda que o BC precisa aumentar os juros agora, mas defende uma elevação de 0,5 ponto percentual. “Não há um descontrole de preços, mas a pressão que já se instalou pode fazer estragos lá na frente, caso nenhuma providência seja tomada”, afirma Manuel Enriquez Garcia, professor da USP (Universidade de São Paulo).

Ontem, mais um grande banco estrangeiro elevou as suas projeções para o crescimento da economia brasileira em 2010. Para o Morgan Stanley, o PIB (Produto Interno Bruto) do país vai avançar 6,8% neste ano. Duas semanas atrás, o JPMorgan afirmou que a alta será de 7%.

Na opinião de Homero Guizzo, economista da LCA Consultores, a intenção do BC ao elevar a Selic agora é justamente conter as expectativas. “Dessa forma, não precisaria deixar os juros em um patamar mais elevado por muito tempo e poderia fazer aumentos menores no segundo semestre”, comenta.

As previsões para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o indicador oficial utilizado pelo governo, subiram pela 14ª vez nesta semana na pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC com analistas de mercado, passando de 5,32% para 5,41%. A estimativa para a Selic no final do ano foi elevada de 11,5% para 11,75%.

Luis Nassif

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