Do Globo.com
Fiesp: País precisa voltar ao “nacional desenvolvimentismo”
SÃO PAULO – O Brasil está começando a entender a dimensão da dependência da indústria nacional em relação aos importados e precisa voltar ao “nacional desenvolvimentismo” não por xenofobia, mas para defender seu setor fabril. A opinião é de João Guilherme Sabino Ometto, segundo vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ometto preside na manhã desta terça-feira, 27, uma mesa sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no 8º Fórum de Economia organizado pela Fundação Getulio Vargas, e fez essas declarações antes de os debates começarem.
O empresário citou como exemplo a Argentina, cujo Produto Interno Bruto (PIB), segundo ele, é metade da economia do Estado de São Paulo. “Por que alguns países como a Argentina fracassaram? A Argentina acabou. São posições que esses países tomaram e com as quais temos que tomar muito cuidado, porque podemos condenar nosso país a uma decadência muito grande”, disse.
Segundo Ometto, o Brasil está acordando muito tarde para o problema vivido pela indústria. “Estamos vendo a indústria nacional diminuindo seus investimentos em tecnologia, passando decisões importantes para outros países e realmente nossa indústria ficou muito dependente das importações. Não evoluimos em tecnologia enquanto as matrizes estão trabalhando muito”, afirmou.
Ometto destacou a indústria química, que se tornou dependente de importações e agora deve viver um mau momento com a alta do dólar. Segundo ele, o país “perdeu” sua produção de fertilizantes, o que é grave, já que o Brasil é um grande produtor de commodities. “Isso é uma questão de soberania nacional. Somos o grande país abastecdor do mundo de matérias-primas e não temos a segurança de fertilizantes”.
O segundo vice-presidente da Fiesp também criticou a situação da indústria de autopeças, que compra componentes estrangeiros com maior tecnologia e já tem fornecedores sistêmicos. “Sai no jornal que 60% da indústria de autopeças é nacionalizada, mas tirando o marketing e o lucro, na prática são 20%”, calculou. “Os próprios trabalhadores se revoltam porque não querem ser só apertadores de parafusos”.
Sobre o aumento do IPI para defender a indústria automobilística nacional, Ometto considerou positiva a exigência de que 5% do faturamento deve ser investido em inovações no país, mas não acredita que as grandes empresas do setor são nacionais. “Na verdade, elas têm toda a inteligência de produção e, quando querem, mandam todos os dividendos para fora”.
(Arícia Martins | Valor)
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