Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Agricultura e negócio atividades complementares, por Rui Daher

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Agricultura e negócio atividades complementares

por Rui Daher

em CartaCapital

“As desigualdades na agricultura” foi o título dado à minha coluna anterior. Olhava-se do alto e com lupa qualidade e preços dos alimentos, segmentados em exportações e consumo interno.

Não sugiro, mas o título da coluna de hoje até poderia ser “Parte 2”. Desigualdades também, mas sob ângulos diferentes.

Trato das opiniões publicadas pelo engenheiro agrônomo e florestal gaúcho Sebastião Pinheiro, em página de rede social, entrevista para o site Sul21, e reproduzidas no GGN, do jornalista Luis Nassif.

Pinheiro e eu temos quase a mesma idade. Discípulos, em pensamento agrícola, de pioneiros fundamentais como o gaúcho José Lutzenberger (Porto Alegre, 1926-2002) e da austro-brasileira Ana Maria Primavesi (1920-). A partir da década de 1980, junto a outros pesquisadores, deram força aos movimentos ambientalistas que, então, se multiplicaram e impediram que a devastação fosse ainda maior.

Não concordo, porém, quando Pinheiro afirma que “A agricultura passou a ser agronegócio (…) saiu a cultura e entrou o negócio. Foram retirados valores da agricultura e agronegócio passou a significar só dinheiro”. Mesmo?

Não acredito nessa bipolaridade, nem é o que vejo nas Andanças Capitais, em todas as regiões do País. Agronegócio é e continuará sendo agregar valor ao que é plantado em qualquer lavoura, agricultura pois, com toda sua riqueza antropológica e cultural.

Criado o estigma, para melhor entendimento, talvez fosse melhor quebrar a generalização-aspirina e usar termos como agroindústria, agromobilidade, agrofarmacêutica, enfim, tudo o que entra, é produzido, e sai das propriedades agrícolas, como definido pelo saudoso empresário e agrônomo Ney Bittencourt, da Agroceres, multinacional coisa nenhuma, como cita Pinheiro.

Ney foi um empresário brasileiro de visão, que fez uma grande empresa e formou ótimos executivos, que ainda hoje estão no “maldito” agronegócio. Saúdo-os, amigos Luís Antônio e Ivan.

E mais: tem que envolver dinheiro, sim, caso contrário é masturbação acadêmica que não dará sobrevivência ao produtor rural. Generalizações assim criam uma contraposição nefasta ao rachar atividades totalmente complementares e, aí sim, segmentadas nas dimensões determinadas pelas demandas de quem vive neste planeta e não em um mundo acadêmico, fechado e supostamente correto.

Cansei de escrever: quem produz acerolas no Vale do São Francisco, colhe as frutas, leva-as até suas packing-houses, onde cinco moças verificam a qualidade e as colocam em caixinhas, operários rurais as levam até caminhoneiros, e milhares de quilômetros, ora aos supermercados de Copacabana, ora aos aviões que chegam a Paris. O gajo fez o quê, doutor? Loteca?

Outro Tonho, que plantou 10 mil hectares de soja em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, investiu em insumos e maquinários, diversificou destinos para exportação e consumo interno, fez o quê? Só ganhou dinheiro ou muitas vezes perdeu?

Quer dizer, se o plantador de dois hectares de acerola parasse na “agricultura”, a diversão seria dos passarinhos? Se o grande proprietário ou arrendatário do Mato Grosso não garantisse competitividade para exportar, Mr. John Smith, agricultor no Mid-West dos EUA, nos emprestaria dólares para cobrir o déficit da balança comercial?

Pois bem, tanto em Petrolina como em Lucas, se fez agricultura e agronegócio, ou o raio do termo que preferirem. Em complementaridade. Como ensina a economia sobre bens primários, industrializados, processados e prestadores de serviços.

Em futebol, bom atacante é o que chuta com os dois pés, motivo de a agropecuária brasileira estar indo tão bem.

– Ah, mas está mesmo?

– Não. Existem as mazelas e muitas delas dão razão ao professor Pinheiro.

O atual processo político desmantelador das salvaguardas do meio ambiente; o uso indiscriminado de agroquímicos; a concentração da produção de insumos em poucos fabricantes transnacionais; a demonização pela Federação de Corporações e a bancada ruralista dos movimentos sociais e ambientalistas; o alívio na venda de terras a estrangeiros; a falta de apoio aos assentados e à agricultura familiar; o pouco interesse na aplicação de resíduos sólidos e líquidos de natureza orgânica, que além de preservacionistas diminuem o custo de produção do agricultor.

Muito, nâo? Teria mais. Contra isso, eu e Sebastião Pinheiro poderemos lutar juntos.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

2 Comentários

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  1. Agricultura…..

    Bipolaridade, Academicismos e Ilusões. Que diferença e que falta fazem Andanças Capitais, em todas as áreas por todo este país?! Falamos da Amazônia (50% do território nacional) como falamos da Sibéria. Parece outro mundo. Primeiro mostrado por Jacques Custeau, e agora, por National Geographic. É inacreditável, não conhecemos nosso próprio país. Nem mesmos Estudiosos, Pesquisadores ou Intelectuais. Miami é muito mais próximo que Porto Velho ou Campo Grande. Como Leitor, li a tal matéria do seu amigo, assim como a sua em CC, e aguardava a resposta que sabia que viria. Então o Dono da Agroceres não era aquele Empresário Brasileiro ‘covarde’, que não investe e só procura o lucro fácil? Não é o que diz a Biblia Ideológica Tupiniquim?  Vendeu a Empresa para alguma multinacional estrangeira, antes que o Estado Brasileiro a falisse? Ou fabricamos outro resultado, fora a oligopolização e monopolização do Mercado, para Empresas Estrangeiras? Diremos que a culpa é do Trump e do maldito Imperialismo Yankee. Nossas desculpas são fáceis e rasas. O MST é o maior produtor de Arroz Orgânico do país. Isto é uma esquerda que evolui. Isto é olhar para a frente. Isto é querer respaldo em ações políticas. Rotular de forma simplista a Agropecuária, contra o Meio Ambiente, quando temos rios-esgotos produzidos pelas cidades é fanatismo ideológico. Quando a cidade de São Paulo avança sobre a Serra da Cantareira, e já se emenda com Franco da Rocha, Francisco Morato, Jundiai, Campo Limpo, em continua favela é fanatismo ideológico. Coincidência a água do Sistema Cantareira ter se esgotado, por incompetência medíocre de 25 anos de Tucanistão, uso excessivo e ocupação desordenada das suas margensE a FEBRE AMARELA chegar à Capital por esta região? É muito fácil, rotular como Latifúndio, áreas em estados da federação, que tem população menor que certos bairros da cidade de São Paulo. Quando Latifúndios Urbanos e seus ‘Coronéis’ não são nem revelados, nem discutidos? E Tribos Indigenas viraram Favelados, expulsos pela Ocupação Urbana? Ou o indígena da Amazônia é melhor que o do Pico do Jaraguá ou de Parelheiros? Ou as Favelas nos morros do RJ, na Freguesia do Ó ou Vila Brasilândia, na capital paulista não são quilombos? Caro sr., Universidades Norte Americanas, fazem Andanças Capitais e nos conhecem, melhor que a nós mesmos. Nós ainda, às vésperas de 2020, estamos discutindo o valor de Andanças Capitais. Pobre País Rico. Nós nos explicamos. abs.   

  2. Esporte errado

    “Em futebol, bom atacante é o que chuta com os dois pés,”

    Nesse governo Treme todos os jogadores chutam com os dois pés. (muitas vezes com os quatro!)

    Pena que o jogo deles não é de futebol.

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