Alta do Copom não surpreende; confira repercussão

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Foto de Pixabay

A decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central em aumentar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual não surpreendeu agentes do mercado financeiro, mas o setor produtivo segue crítico ao aperto monetário.

Confira abaixo a repercussão da decisão do comitê do Banco Central:

CNI – Confederação Nacional da Indústria

Em nota, a entidade afirma ter recebido a alta dos juros “com total indignação”, uma vez que “o nível da Selic antes da reunião desta quarta-feira (18) era mais do que suficiente para manter a inflação sob controle”.

“É emblemático que no mesmo dia em que os Estados Unidos decidem baixar a taxa básica após meses, o Brasil resolva o contrário, elevar a Selic. Torna a nossa diferença de juros reais ainda mais grave e cria condições desfavoráveis ao investimento no país. Até que ponto a especulação do mercado futuro de juros influencia as narrativas da expectativa de inflação futura?”, questiona o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Segundo o presidente da CNI, Ricardo Alban, a alta da Selic não apenas impõe custos desnecessários sobre a economia, como coloca o Brasil na contramão do que a maioria dos países, desenvolvidos ou em desenvolvimento vem fazendo.

ACSP – Associação Comercial de São Paulo

Para o economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da ACSP, Ulisses Ruiz de Gamboa, “a decisão de aumentar a Selic levou em consideração a inflação resiliente, acima da meta anual, num contexto de atividade econômica e mercado de trabalho ainda aquecidos”.

Dentro dessa análise, expectativas inflacionárias desancoradas e o aumento da incerteza no campo fiscal, que contribui para manter o câmbio elevado, parece ter mudado o balanço de riscos da inflação na direção de uma política monetária mais conservadora.

“Esse aumento gradual pode ter sido influenciado tanto pela deflação do IPCA em agosto, quanto pela redução dos juros básicos norte-americanos, que poderia mitigar, pelo menos em parte, a depreciação cambial”, acrescenta o economista.

APAS – Associação Paulista de Supermercados (APAS)

Embora a decisão tenha sido esperada pelos agentes econômicos, a Associação Paulista de Supermercados (APAS) entende que a atual conjuntura econômica tanto doméstica quanto internacional permitia não apenas a manutenção, mas também a redução da taxa básica de juros.

“O Brasil, na atual conjuntura, segue numa tendência inversa do cenário internacional. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve optou por reduzir os juros, e na Zona do Euro, as ações de política monetária são de estímulo econômico”, explica Felipe Queiroz, economista-chefe da associação, ressaltando que os fundamentos econômicos não justificam o aumento.

“Vale lembrar que o Brasil já possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo, o que agrava ainda mais os desafios ao crescimento econômico do país. Com uma taxa de juros tão elevada, é difícil fomentar o nível de investimento necessário para um crescimento sólido e consistente no médio e longo prazo da economia do país. Na visão da APAS, havia espaço para manter ou até reduzir os juros, e a decisão de elevá-los favorece mais os setores especulativos do que a produção de bens e serviços”.

Rafael Yamano, economista da SulAmérica Investimentos

Segundo o economista, aalta de juros foi justificada pela deterioração do cenário inflacionário prospectivo, com hiato do produto mais apertado (atividade econômica mais forte) e a inflação mais forte nos últimos dados sendo destacadas no comunicado.

“O COPOM não deu indicação sobre o que vai fazer na próxima reunião (forward guidance), não dando pistas se deve seguir no ritmo gradual ou acelerar para o ritmo de 50 pb de alta por reunião, apenas que os ajustes futuros e a magnitude total do ciclo dependerão pelo compromisso que eles têm de fazer o necessário para levar a inflação para a meta”, disse, indicando que a tendência mais provável é de novo aumento na próxima reunião.

Cristiane Quartaroli economista chefe do Ouribank

Em nota, a economista explica que “o Banco Central já vinha sinalizando em comentários e relatórios que faria esse movimento, então, o mercado já havia antecipado grande parte desse ajuste”.

Ela explica que a decisão de subir os juros teve como base o avanço das projeções de inflação para 2025, principalmente – que passaram a se distanciar da meta de acordo com os últimos relatórios FOCUS disponibilizados pelo Banco Central.

“A alta dos juros aqui no Brasil somada à queda dos juros nos EUA (conforme comentário mais cedo) faz com que o diferencial de juros (carry trade) aumente e isso, em tese, é positivo para o câmbio”.

Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Asset Management

Para o economista, o comunicado do Copom foi realista e hawkish (marcada pela alta de juros e contração monetária) e não deixa claro o tamanho da alta por conta das variáveis necessárias, como inflação e ritmo de atividade.

“É claro que, se tivermos surpresas, pode não vir outras altas, mas eu não acredito, porque eles estão sendo muito explícitos nisso. Eles não acreditam que vai, de imediato, acabar essa condição pior”, pontua.

“Conforme o comitê colocou no último comunicado também fala da questão fiscal. Então, basicamente, repetiu o comunicado inteiro. Mas o detalhe mais importante é a questão da assimetria da inflação e o início de um ciclo de alta (…)”, ou seja, dando a entender que virão novos aumentos – e o ritmo do ajuste vai depender dos dados.

Felipe Sant’ Anna especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk.

Na visão do economista, as expectativas de inflação no Brasil perderam a ancoragem e o cenário fiscal ainda preocupa muito, levando o BC a subir a taxa também para controlar esse “crescimento” da atividade econômica.

“Interessante analisar nas próximas horas, qual será a posição do governo e de sua equipe econômica em relação ao anúncio, visto que Gabriel Galípolo, indicado por Lula para o próximo mandato à frente do BC, votou favoravelmente ao aumento, o que antes gerava críticas efusivas à atuação de Campos Neto”, diz o economista.

Ao mesmo tempo, a decisão do Copom aliada à queda dos juros nos EUA pode afetar o desempenho de alguns papéis na bolsa de valores. “No mesmo dia em que a remuneração da renda fixa americana perdeu um pouco de brilho, o título público brasileiro ganhou, abrindo caminho para que esses dólares migrem para o nosso “quintal”, em busca da rentabilidade e segurança do Tesouro Nacional”.

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2 Comentários

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  1. Na realidade o que o COPOM faz, é sancionar a decisão já efetuado pelo o mercado finaceiro, o resto é estória para boi dormi. O Brasil precisa urgentemente reformular o funcionamento do BACEN, se não, corremos o risco dO país virar uma USUROCRACIA, se é que de uma certa forma já não somos.

  2. Todos os meios de comunicação estão destacando o fato de que o Brasil possui atualmente e antes também a segunda maior taxa real de juros no Mundo, estando atrás apenas da Rússia, que está com ativos sequestrados e em guerra a mais de dois anos. Já era de todos, praticamente sabido que haveria essa elevação da taxa SELIC. Independentemente de qualquer razão para a decisão, não deve ficar nisso, pois não teria nenhuma justificativa plausível elevar os juros agora. Nenhum aumento na SELIC tem efeito imediato para o motivo desse aumento, que é o desancoramento da buscada meta de inflação. Desde que o COPOM encerrou o ciclo de redução da taxa SELIC, o próximo passo aguardado pelo “o mercado” , estava em qual momento ia subir. São expectativas versus perspectivas. Saiu-se das expectativas. Agora vamos esperar quais são as perspectivas. As reações práticas dentro do cenário econômico.

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