As diferenças entre a crise de 29 e o momento atual

Por luiz felipe panerai

Comentário ao post “Os grandes ventríloquos e a voz das ruas

É duvidosa a afirmação de que os trabalhadores tiveram a seu lado a ex-URSS, na década que se seguiu ao crash de 1929 e conduziu à II WW.

O ano emblemático da crise capitalista marcou também a ascensão definitiva de Stalin no comando da ex-URSS, com a eliminação da última oposição organizada no interior do PCUS, a “Oposição de Esquerda” (que contava com proeminentes revolucionários bolcheviques, além de Trotsky).

Para não falar da controvertida política ultraesquerdista adotada pela terceira Internacional nos anos da Grande Depressão, a qual excluiu a possibilidade de alianças eleitorais com partidos socialdemocratas.

É indiscutível que a tática de “classe contra classe” do Comintern dominado pelo stalinismo facilitou, para dizer o mínimo, a ascensão nazista na Alemanha.

Mais do que as lutas travadas pelos trabalhadores na Grande Depressão, chama mesmo a atenção o comportamento dos grandes sindicatos nas “economias desenvolvidas” (especialmente nos EUA e UK), aliados aos monopólios capitalistas durante a crise.

Sindicatos e monopólios garantiram aumentos monotônicos de renda, lucros e preços em plena Depressão contra o desemprego da maioria (no “modelito” clássico, ambos os vetores deveriam se ajustar à “concorrência”, com desemprego e queda de lucros).

O embate que se avizinha na segunda década do século XXI será qualitativamente distinto a 1929. Certamente, o “aperto de liquidez” a ser promovido pelo FED forjará cenários assemelhados à Grande Depressão, mas com pelo menos os seguintes planos não combinados aos fatos de 1929:

1) Ao contrário de 1929, o mundo não é mais unipolar (nem bipolar). Já era (uni) às vésperas da Grande Depressão, quando o FED também decidiu aumentar sua taxa de juros ( para esvaziar o “boom” da bolsa dos EUA) contra a economia mundial que já caminhava para a recessão por fatos adversos;

2) Claramente o bloco Rússia-China dá sinais de que não aceitará decisões unilaterais dos EUA (militares ou econômicas);

3) Novos atores – Brasil e Índia (que podem suportar de três a cinco anos de significativos déficits em conta corrente) – reafirmarão projeções conquistadas na última década e manterão a aliança tática dos BRICS, apesar do avanço chinês sobre a América Latina, África e Ásia;

4) A brutal proeminência do petróleo como fonte de energia, apesar de todo o otimismo da AIE com o “gás de xisto”;

5) O papel da Alemanha.

No que será o eixo de igualdade, a crise repetirá:

1) Mais uma vez, a Europa se verá presa na crise a um “padrão ouro” – hoje o “Euro”, cujo futuro passa a pertencer ao futuro;

2) Um cinturão recessivo atingirá todas as economias orientadas à exportação de commodities na América Latina, da qual nem a “Aliança do Pacífico” as livrará (a única “aliança” possível nos tempos que virão é em defesa do balanço de pagamentos).

É porque mais e mais a nova divisão internacional do trabalho se mostra como emergirá da nova crise: pela via da geopolítica.

O mundo lutou duas guerras mundiais para derrotar a agenda do capital financeiro-especulativo, rearmado em nosso tempo pela era Reagan-Volcker e mantido pelos Estados do alto capitalismo após 2008 contra o absurdo empobrecimento das suas populações pela cartilha da “austeridade”.

A conferir.

Luis Nassif

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