As empresas americanas guardando dinheiro

Empresas dos EUA engordam o caixa, para azar da economia 

The Wall Street Journal

Por VIPAL MONGA DANA MATTIOLI, EMILY CHASAN(Colaborou Ellen Byron.) ..AUGUST 11, 2011, 7:17 P.M. ET

As empresas americanas vêm guardando dinheiro para a época de vacas magras desde o início da crise. Agora, o cenário é de vacas esquálidas — e o setor empresarial se sente preparado.

Empresas de setores que não o financeiro e que integram o índice de 500 ações da Standard & Poor’s acumulavam US$ 1,12 trilhão em dinheiro e investimentos líquidosnos balanços mais recentes, 59% a mais que os US$ 703 bilhões do terceiro trimestre de 2008. Tanto caixa está servindo para proteger as empresas em meio à turbulência na economia e no mercado.

Mas o conservadorismo dessas empresas pode acabar sendo uma má notícia para a economia. A turbulência recente confirma a cautela dos executivos e pode levar alguns deles a coibir os gastos e aumentar as já inchadas pilhas de dinheiro poupado.

“Vamos ser cautelosos e aumentar gradualmente os gastos e o investimento até que tenhamos mais certeza”, diz John Leahy, diretor financeiro da iRobot Corp., que tinha US$ 123 milhões em dinheiro, ativos líquidos e investimentos de curto prazo em 2 de julho, ante US$ 98,8 milhões um ano antes.

A fabricante de robôs para os mercados consumidor e militar, sediada em Bedford, no Estado de Massachusetts, estuda adiar para o ano que vem os planos de novas contratações, disse Leahy, depois do rebaixamento inédito da nota de crédito dos Estados Unidos e consequente queda no mercado.

Até 26 de julho, a Moody’s Investors Service previa que as empresas começariam a gastar seus recursos “a um ritmo crescente”. Não mais.

“Sem dúvida, as empresas vão parar um pouco”, disse esta semana o analista Steven Oman, da Moody’s. “É mais provável que elas guardem o dinheiro por causa da incerteza maior.”

As reservas das grandes empresas já estão enormes e têm aumentando ainda mais. AMicrosoft Corp. informou que tinha dinheiro, ativos líquidos e investimentos de curto prazo da ordem de US$ 52,8 bilhões em 30 de junho, uma alta de 43% em relação a um ano antes, enquanto o Google Inc. informou que tinha US$ 39 bilhões em dinheiro, ativos e ações líquidas em 30 de junho, uma alta de 30% frente um ano antes. Nenhuma delas quis comentar.

Na varejista e fabricante de roupas Polo Ralph Lauren Corp., que tem marcas como Polo by Ralph Lauren, Chaps e Club Monaco, o diretor operacional, Roger Farah, disse que o grupo vai poupar seu dinheiro e que acredita que outras empresas farão o mesmo.

“As pessoas vêm economizando dinheiro desde a última crise e acho que provavelmente estavam prestes a investir um pouco”, disse. As reservas da Polo em dinheiro e aplicações aumentaram para US$ 981 milhões em 2 de julho, ante US$ 710,8 milhões em 28 de junho de 2008.

Farah disse que seria “precoce” começar a pensar em cortar despesas planejadas. Mas ele disse que isso pode mudar. “Se você realmente acha que o consumidor está mudando e que o modelo econômico está sob pressão, certamente vai olhar para 2012 e 2013 de forma mais cuidadosa”, disse.

Na firma de biotecnologia Acorda Therapeutics Inc., o diretor-presidente Ron Cohen disse que gastar agora é arriscado porque os juros podem subir por causa do rebaixamento da nota de crédito dos EUA, o que encarece o capital. A empresa não vai mudar os planos de gastos no momento, mas está acompanhando atentamente os acontecimentos na economia.

A Acorda informou que tinha US$ 228 milhões em dinheiro, ativos líquidos e aplicações de curto prazo em 30 de junho, ante US$ 216 milhões um ano antes.

Cohen 
disse que a empresa mantém a maior parte desses recursos em títulos do governo americano e nos mercados monetários, o que rende “significativamente menos que 1%”.

Mas ele acrescentou que “é muito mais importante para nós preservar o capital que obter um retorno alto. E neste ambiente, é impossível conseguir um retorno alto sem arriscar o capital”.

Se as empresas continuarem optando pelo estilo conservador ou se entrincheirarem ainda mais, será mais um peso na economia americana, que cresceu a um índice anual de menos de 1% na primeira metade do ano.

Os investimentos de capital das empresas respondem por apenas 12% do PIB, mas são cruciais para o crescimento e renda, disse Jay Mueller, gerente de carteira e economista do Wells Capital Management.

Alguns executivos estão mantendo os projetos planejados. A química Cabot Corp, de Boston, vai seguir adiante com uma expansão de US$ 10 milhões de uma fábrica de colorizantes para cartuchos de tinta em Massachusetts, disse seu diretor financeiro, Eduardo Cordeiro.

Mas 80% do faturamento da Cabot vem de fora dos EUA e Cordeiro disse que teme “as repercussões” nos mercados estrangeiros causadas pela crise nos EUA. “Todos esses mercados estão muito interligados”, disse ele. “Acho que as pessoas estão só esperando para ver o que acontece.”

A Cabot aumentou as despesas de capital dos nove meses encerrados em 30 de junho para US$ 138 milhões, ante US$ 57 milhões no mesmo período do ano anterior. Mesmo assim, divulgou um total de dinheiro e ativos líquidos de US$ 344 milhões em 30 de junho, ante US$ 129 milhões em setembro de 2008.

Luis Nassif

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