As ideias de Guilherme Leal

O pensamento econômico por trás de Marina Silva. Integra da entrevista de Guilherme Leal, o vice de Marina, para a Carta Capital.

Do Escrevinhador, de Rodrigo Vianna

Por onde caminha a terceira via
de Carta Capital”, por Celso Marcondes

Guilherme Leal: o vice de Marina Silva tenta seduzir o empresariado e evitar a polarização PT/PSDB. A íntegra da entrevista publicada na edição 603.

A menos de um mês licenciado da copresidência da Natura, o empresário Guilherme Leal, um dos homens mais ricos do País, investe agora na política. Candidato à Vice-Presidência da República pelo Partido Verde na chapa de Marina Silva, Leal é incisivo ao dizer que “o Brasil não pode crescer a taxas chinesas” e que deve “tornar-se um exemplo de economia sustentável”. Criticou os governos Lula e FHC e demonstrou otimismo ao avaliar o engajamento do empresariado com a causa ambiental. A seguir, a íntegra da entrevista, que teve uma parte publicada na edição 603 de CartaCapital.

CartaCapital: Quanto o Brasil pode crescer? 6 ou 7% ao ano seria um limite ou podemos almejar algo semelhante às taxas da China?
Guilherme Leal: O Brasil não pode crescer a taxas chinesas, o mundo enfrenta este dilema. Por isso temos a oportunidade de crescer de maneira responsável, de buscar caminhos para o desenvolvimento que nos coloquem como liderança neste novo padrão, nesta nova alternativa de desenvolvimento humano. Na década de 70 o Brasil teve a ilusão de crescimento, achando que com a crise do petróleo seria uma ilha de prosperidade, podia crescer a taxas elevadíssimas de maneira sustentável e levar o Brasil para outro patamar. Foi uma ilusão. Estamos em um momento muito favorável da economia brasileira. O mundo, apesar da crise de 2008, se dá conta que sua base de recursos naturais – que é a base da economia e da prosperidade e do bem-estar da humanidade – está ameaçada pelos padrões de produção e consumo atuais.

MilMilhões de pessoas têm, não apenas no Brasil, saído da linha de pobreza. Na Índia, na China, na Indonésia, o que é uma notícia excelente. Só que a capacidade de regeneração dos recursos naturais do planeta está sendo superada em mais de 30 ou 40% e este estado de coisas não é sustentável. A China está investindo fortemente num novo padrão de desenvolvimento, os EUA estão investindo fortemente nesta nova economia. O Brasil tem um potencial como nenhum outro país por conta de sua base de recursos naturais. Tem uma condição excepcional pela sua matriz energética limpa, sua diversidade, seu biomas e pelo gap de infraestrutura que tem. Ou seja, pelo que tem a fazer, pode fazer certo. Pode se tornar um exemplo de uma economia sustentável.

CC: Porém o País precisa de mais usinas, estradas, aeroportos, portos.
GL: Ele não tem poupança suficiente para financiar os investimentos necessários para essa taxa de crescimento. Sabemos que o Estado arrecada 38% da poupança, da riqueza produzida anualmente na nação e só investe 1,5% desta riqueza. Portanto, dependemos excessivamente da poupança externa para financiar este crescimento. Isso é um constrangimento, é uma restrição muito significativa, portanto é um outro fator. Se este crescimento não for devidamente financiado, teremos problema de financiamento, de pressões inflacionárias e coisas desta natureza. São restrições, temos que, buscar o crescimento, que é um fator ainda muito relevante para reduzir a pobreza, mas temos que investir na qualidade deste crescimento. A infraestrutura é necessária, o aperfeiçoamento de questões do custo-Brasil é fundamental, mas a grande diferença é investir na qualificação das pessoas, na educação.

CC: Mas o crescimento aumenta a demanda por carne, leite, energia. As classes C e D querem acesso aos automóveis, aos gêneros alimentícios. Como segurar?
GL: Não podemos repetir erros do passado. O Brasil teve oportunidades importantes de, definitivamente, deixar de ser um país emergente para se tornar um país desenvolvido. No sentido não apenas de ter altas taxas de consumo, mas de ser um país mais justo, com uma menor diferença e todos os seus cidadãos com possibilidades de exercer na plenitude suas potencialidades. Isto é, com acesso à educação de qualidade, à moradia de qualidade, às condições mínimas de saúde, de segurança. Se focar apenas num crescimento exacerbado e baseado pura e simplesmente no crédito e no consumo, será um equívoco.

CC: Mas o cidadão quer consumir.
GL: É muito claro, as pesquisas de opinião demonstram, que o cidadão quer sim consumir, e é um direito que ele tem, mas ele quer serviços públicos de qualidade, não está satisfeito com a segurança, principalmente nas periferias das grandes cidades. Ele não está satisfeito com a qualidade da educação, da saúde, dos serviços essenciais que o Estado deve lhe prover. Principalmente com o Estado tendo uma carga tributária que não é proporcional a de países com o mesmo grau de desenvolvimento. Não sou eu que estou dizendo, são as pesquisas que indicam. O cidadão não quer apenas consumo, quer ter o direito a seu carro, mas ele não quer ficar parado 4, 5 horas por dia no congestionamento das grandes cidades. Quer um transporte publico de qualidade, quer ter uma mobilidade de qualidade, um espaço público de qualidade, segurança para se locomover. Não devemos subestimar a inteligência e os desejos das camadas emergentes.

CC: E as grandes obras de infraestrutura que o País demanda, elas não têm que ser feitas?
GL: É óbvio que o desenvolvimento de uma economia, de uma agricultura produtiva, demanda uma infraestrutura, uma logística, que é fundamental e nós devemos prover energia, sabemos que precisamos de 3, 4 milhões de gigawatts por ano para dar conta do crescimento do PIB, isto é indispensável. Sabemos que isto deve vir de hidrelétricas, da aceleração do uso de energias alternativas, de energia eólica, que tem um potencial enorme, com as novas gerações de torres mais elevadas, temos um potencial fantástico de biomassa para ser explorado. Temos alternativas e deve-se investir fortemente nisto, temos a necessidade de uma estrutura física, mas não só de estrutura física. O capital humano, o investimento em educação, volto a dizer, é subestimado.

Apesar dos esforços que têm sido feitos, em termos relativos avançamos muito pouco. Continuamos muito atrasados em relação a outros paises, não só aos mais avançados, mas em relação ao Chile, a parceiros da América Latina. Este é nosso grande problema, é a prioridade, nosso passaporte de fato para nos tornarmos esta liderança que o mundo tem a expectativa que o Brasil possa ser.

CC: O senhor não acha que o empresariado, na sua esmagadora maioria, já optou pelas candidaturas de Dilma ou Serra?
GL: Não acredito. O empresariado está aberto para esta percepção de que existem novos caminhos para o desenvolvimento. Que esta nova economia é um caminho inexorável. A questão da precificação do carbono, ainda que ninguém tenha um prazo definido e que haja percalços institucionais, ainda que Copenhague tenha sido um fracasso do ponto de vista do entendimento entre os chefes de Estado, é um caminho em marcha. Por exemplo, a indústria da cana sabe que ela pode liderar. Para que o etanol se torne de fato uma commodity com trânsito internacional, ela tem que atender as demandas ambientais e sociais, tem que resolver a sua herança ainda problemática e, portanto, a indústria é uma aliada. Mas, veja, não estou falando de preferências eleitorais, mas de visão do futuro.

CC: Não é um setor pequeno do empresariado com esta visão? O senhor sente isso mesmo?
GL: Eu não tenho dúvidas. O Brasil tem uma classe empresarial ampla, diversa, com o que tem de mais moderno e o de mais atrasado, ainda tem trabalho escravo em certos setores, não vamos ser simplistas. Mas foi o empresariado brasileiro que se colocou à frente das próprias posições governamentais no pré- Copenhague. Dizendo que assumia metas e que o governo deveria assumir metas de redução das suas emissões porque o mercado internacional demandava isso e não adiantava o Brasil não assumir metas, quando na verdade as próprias condições do mercado internacional exigiam que as empresas brasileiras assumissem uma posição mais pró-ativa.

Estamos falando de setores como a mineração, o setor bancário, o setor mais leve – como o da empresa da qual eu faço parte -, setores já comprometidos. Hoje você vê o Brasil exportando cultura da responsabilidade social, você vê no setor bancário, bancos que foram adquiridos por grandes conglomerados internacionais e que a partir das suas filiais brasileiras exportam para suas matrizes as culturas de responsabilidade social corporativa.

CC: Mas isso dá para ser visto também em setores como o varejo, que pressiona pelo aumento de consumo?
GL: No varejo, o Walmart, a partir da operação brasileira, está exportando para sua matriz. É vanguarda dentro da sua rede internacional, exemplo de uma cultura socialmente responsável. O Brasil está sendo uma liderança nesta visão de que a responsabilidade social e ambiental é um fator de diferenciação, inclusive na competitividade dos negócios. Eu acredito que existe uma dispersão, não há uma unanimidade e eu não estou dizendo que todos são apoiadores de Marina Silva, isto é outra questão.

CC: Acredita que existe um espaço para Marina crescer aí?
GL: Existe sim. O empresariado brasileiro tem uma vanguarda que já não é tão pequena, não estamos falando apenas dos criadores do Instituto Ethos. É um movimento muito mais amplo e significativo. Existem muitas empresas, em diversos setores, na mineração no setor bancário, no setor de varejo, na distribuição de energia, nos mais variados setores você vê empresas se preocupando. É óbvio que ainda existe o marketing verde barato, mas existem muitas empresas buscando formas de melhorar sua performance, sua eficiência ambiental e seu comprometimento social. E novas formas de desenvolver suas operações comprometidas com este modelo.

Elas percebem, mais do que isso, as oportunidades de inovar em função destas novas demandas, de criar novos negócios a partir destas oportunidades e dessas demandas sociais e ambientais que se colocam. É isso que eu vejo para o Brasil como uma grande oportunidade, mais do que uma restrição. É óbvio que existe uma transição, que existem políticas públicas a serem desenvolvidas, existem estímulos e punições, é lógico que existe um sistema de incentivos e penalizações para serem criados, para estimular isso, porque essa transição é complexa e precisa de fatores de indução, mas existe uma oportunidade muito grande.

CC: Porém não permaneceria presente a contradição entre crescer e conservar?
GL: Estive outro dia num fórum altamente respeitável e tradicional, o fórum do ministro Reis Velloso. Lá foi apresentado um trabalho do economista Cláudio Frischtak, que falava da questão da economia da sustentabilidade, intitulado “O Brasil e a Economia da Sustentabilidade”. Ele conclui exatamente que é falso o dilema entre crescimento e conservação, mostra os vetores que a economia da sustentabilidade apresenta como novos drivers do crescimento econômico a partir desta nova economia. A economia verde pode ser um grande driver do crescimento, em oposição àquilo que tradicionalmente tem sido mostrado. Muito do que me move é justamente tentar dialogar com a classe empresarial brasileira de uma maneira mais ampla sobre estas oportunidades que eu entendo que existem.

CC: Na campanha o PV se coloca como uma terceira via. Ele não faz nenhuma diferenciação entre os governos Lula e FHC?
GL: O Brasil avançou, os acúmulos não são apenas econômicos, o processo democrático institucional, que garantiu inclusive a alternância de poder, está na base desta evolução. É um privilégio termos uma eleição como a de hoje, com tranquilidade, com três candidatos da melhor qualidade. Se a gente olhar para eleições passadas, tem que se louvar o respeito tanto a Dilma como a Serra, mas Marina também merece respeito por toda sua biografia e trajetória. Marina é resultado de um acúmulo de processos. Se quisermos falar mais especificamente dos governos FHC e Lula: é muito claro que sem medidas absolutamente fundamentais tomadas no período FHC não teríamos a prosperidade no governo Lula.

Se não tivessem existido fatores determinantes como o Plano Real, medidas de responsabilidade fiscal, de saneamento financeiro e mais uma série de outras medidas, não haveria condição de o governo Lula ter tido o êxito que teve, com novas medidas e avanços importantíssimos. O que é não é correto é achar que as coisas começaram a partir de 2003. É um equívoco, é uma avaliação inconsequente. Outra questão é a conjuntura internacional. Na gestão FHC houve uma série de problemas e crises internacionais que trouxe problemas. Podem questionar: “mas em 2008 também teve uma crise fantástica e importantíssima”. Mas que bom que em 2008 o Brasil já tinha mudado tanto que teve condições de enfrentar com competência, temos que reconhecê-lo. É inquestionável. Aí é uma postura nova de Marina: é reconhecer, sem constrangimento, que seus antecessores, sejam azuis ou vermelhos, têm qualidades e têm defeitos.

CC: Qual a principal crítica que tem aos governos Lula em Brasília e Serra em São Paulo?
GL: O governo do Serra em São Paulo teve problemas na Educação. Ele não conseguiu atingir claramente as metas para a Educação em São Paulo em 16 anos de governo do PSDB. Deixa muito a desejar. Não conseguiu apresentar os resultados que deveria. Na própria Segurança deixou a desejar, até conseguiu resultados importantes durante um tempo, mas claramente hoje não conseguiu. E temos aí indicadores que estão voltando a apresentar crescimentos importantes. Essa é uma critica clara que se faz ao governo do José Serra. No governo Lula, também a Educação. Apesar de avançar, é uma frustração, que alguém que vem com a legitimidade das classes populares, que podia ser a redenção da questão educacional desse país, como principal fator de liberação, de oportunidades, não deu a prioridade, principalmente no seu primeiro período de governo. E na questão ambiental, que foi a grande motivação que levou Marina Silva a sair do seu governo, foi uma miopia muito significativa. Em vez de entender como uma grande oportunidade, entendeu como um problema a ser tratado.

CC: O senhor acredita que o PV conseguirá escapar da polarização entre Serra e Dilma e criar condições para ir ao segundo turno?
GL: Nós acreditamos na força de mobilização, como a gente diz. Na força de comunicação que Marina tem, pela sua biografia e a identificação, o que tem de parecido com o presidente Lula, ela é “Silva”. Ela é uma pessoa que tem uma identificação com o povo brasileiro que poucas pessoas têm. Sendo que ela transcendeu, investindo na própria questão da educação, que é a nossa grande proposta de transformação, de passaporte para a transição para essa sociedade do século XXI. Nós acreditamos na força dessa empatia que ela tem com a população brasileira, com as mulheres, as mães, com as pessoas sofridas. Ela fala sobre a questão da saúde tendo o conhecimento de uma senadora da República, que se debruça sobre os problemas da saúde, sobre o financiamento, as questões dos municípios e a dificuldade de lidar com a absorção das responsabilidades – que é o grande problema que se tem hoje na saúde e não a transferência dos recursos pela União e pelos Estados.

E por outro lado o fato de ela ter sofrido na pele como usuária desse sistema de saúde, coisa que pouquíssimos governantes de fato viveram, essa é uma combinação poderosa, que poucos têm a oferecer. Ou seja, olhar como analista e como vítima desse processo. Sem se vitimizar, sem ser melodramática, demagógica, mas com a sensibilidade de quem viveu essa situação.

CC: Quais os principais recursos a campanha tem para mostrar isso e crescer nos próximos meses?
GL: Acreditamos na força das redes sociais. Estamos apostando bastante na internet e no poder de mobilização dessas redes sociais, através da internet, multiplicando os tempos de televisão, dos horários estaduais que temos para se comunicar com as massas. Marina ainda é muito pouco conhecida. Na medida em que ela tenha a condição de se comunicar com as pessoas da classe mais pobre, mais emergente, terá a capacidade de provocar uma identificação muito grande, pela sua história, pelo seu conhecimento, mas acima de tudo pelo que ela é de fato.

CC: Mas terá a capacidade de se aproximar mesmo com os recursos limitados que a campanha tem?
GL: É o grande desafio. Sabemos que não é uma tarefa fácil. Não temos vãs ilusões. Estamos aqui para um projeto que sabemos ser desafiador, sabemos que é Davi e Golias. Não temos a estrutura monstruosa de um governo federal, de um governo do Estado de São Paulo, que é a terceira maior estrutura da América Latina, somente atrás do governo federal e da Argentina. Sabemos que é uma luta absolutamente desproporcional, mas acreditamos na força das idéias. É como ela diz, citando a frase do Victor Hugo: “É a força de uma ideia cujo tempo chegou”. Se nós voltarmos seis meses atrás, a discussão estava muito pobre. A proposta de fazer uma comparação, para ver apenas quem tinha sido melhor, se de 94 a 2002 ou de 2003 a 2010, é uma discussão muito pobre. É dever dos brasileiros discutirem qual é o futuro que nós queremos.

Eu acho que Marina trouxe isso para essa discussão e vai continuar provocando essa discussão entre todos os candidatos e com todos os brasileiros. Isto é uma tarefa fantástica que eu acho que já eleva de uma maneira definitiva o nível da discussão política. Essa é uma contribuição inquestionável que está sendo trazida para essa eleição. Isto pode ter um efeito surpreendente, a gente não sabe. Vocês analistas políticos conhecem melhor do que eu que as eleições podem trazer grandes surpresas. Nós sabemos que podemos vir a ser a surpresa dessa eleição, nós não somos o mais provável, mas, sim, a possível surpresa.

CC: Na Convenção do PV, o senhor disse que “a política hoje está ancorada em lotear cargos, distribuir e compartilhar espaços entre as principais forças”. Mas acontecendo “a surpresa”, acredita ser possível governar sem os maiores partidos ou chamariam os outros partidos?
GL: Sem dúvida nenhuma, nós chamaríamos os melhores quadros do Brasil. Eu acho que este é o grande potencial. Essa talvez seja a melhor proposta que nós tenhamos a oferecer, além da visão e da história que habilita Marina a fazer essa convocação, pela sua biografia, a sua ética, a sua experiência de vereadora à ministra do Meio Ambiente, seus 16 anos como senadora. Essa é a proposta, a de quebrar o quadro atual. Porque a crítica que se faz é que Serra e Dilma ou, para não personalizar, PT e PSDB, são duas faces da mesma moeda, que se joga para cima e cai A ou cai B. E hoje disputando um conjunto de alianças que não tem mais diferenciação. Antigamente se dizia: “Não, eu não me componho com A ou com B”, porque tinha aquela tentativa de se separar do que eram as forças antigas da política brasileira. E tanto PT quando PSDB representavam as forças mais modernas e tinha um conjunto de outras forças políticas que eram as forças que representavam o atraso, a velha política brasileira.

Hoje não tem mais diferenciação. Então, PT e PSDB, representando esses dois pólos antagônicos, ambos nascidos em São Paulo, disputam esse conjunto de alianças para montar a sua governabilidade. O que Marina representaria no governo? Uma proposta para os melhores quadros de PT, PSDB, PMDB, PPS, DEM, os melhores quadros do Brasil, porque existem bons quadros em todos os partidos.

CC: O senhor acha é viável quebrar esta divisão?
GL: Esta seria a proposta sim, de liderar com os melhores quadros, pois o Brasil é uma sociedade complexa, com diferenças regionais, é uma federação. Obviamente o PV não tem a menor pretensão de ter quadros para governar o Brasil isoladamente. Se nem PT, nem PSDB, nem PMDB isoladamente se arvoram a competência para governar o Brasil, o PV teria essa arrogância? Mas justamente ele estaria livre dessas amarras, tanto das idiossincrasias que impedem de fazer uma composição com o melhor, como evitando também a situação de um PSDB que não coloca nada que lembre PT e vice-versa.

Ele estaria livre para fazer uma convocação para os melhores quadros. Talvez essa seja a grande oportunidade de começar a escrever um novo momento político desse país.

CC: Isso mudaria também a relação do governo com o Congresso e poderia enfrentar a política do toma-lá-dá-ca?
GL: Acredito que sim. Essa é a proposta e essa é a esperança. A ideia é que esta identificação de Marina, a história de sua relação com a sociedade civil, ajude a governar com a sociedade. Para quebrar o fisiologismo a sociedade tem que estar reconectada. Os jovens, a sociedade de uma maneira geral, que anda desiludida com a política tradicional porque acha que não tem mais jeito quando começa a ver tudo igual, as velhas figuras, tudo o mesmo. A verdade é que principalmente depois da eleição de 2002 e com as histórias do “todos temos o nosso mensalão”, existe uma certa desilusão da sociedade. Eu acho que precisamos de um processo e uma reforma política que nunca ocorre porque quem tem que fazer a reforma política são os próprios políticos que não fazem porque ela vai afetar a eles mesmos.

CC: O senhor acha mesmo possível mudar isso?
GL: Acho que tem que haver uma reconexão da sociedade com a política, aliás eu acho que uma coisa digna de uma enorme celebração é o “Ficha Limpa”. É uma coisa que vem da sociedade que diz: “Eu quero sim uma política onde eu me veja representada”. Eu acho que talvez ainda a gente não tenha se dado conta da relevância que é o “Ficha Limpa”. 5 milhões de assinaturas e todo o processo que fez, aos trancos e barrancos, que foi sendo empurrado e que hoje está ai.

É um fenômeno muito relevante, ainda talvez não tenha “caído a ficha”. E o que Marina esta trazendo é uma reconexão, é uma maneira de fazer política com a sociedade. É a única forma de quebrar esse presidencialismo dependente do Congresso, dependente desse fisiologismo que tem se repetido desde lá atrás, que não é privilégio desse governo. É montar um governo mais aberto para a sociedade, mais transparente. Onde essas negociações estejam mais iluminadas e que possam, portanto, ser mais diluídas. Esta é a perspectiva, essa é a proposta.

CC: Sua candidatura é um momento de exceção em sua trajetória pessoal e profissional ou significa o início de uma carreira política?
GL: Uma vez eu vi uma entrevista do Gilberto Gil, uns cinco meses atrás, eu me identifiquei muito com ele. Ele falava como se todo cidadão, depois de um tempo, devesse prestar um serviço civil voluntário. Eu me vejo prestando um serviço civil voluntário por uma fase da minha vida. Eu tenho atuado como empresário e também na sociedade civil organizada em diversas atividades e instituições ao longo da minha vida, como o Ethos, o WWF. Tenho atuado no interesse público, mas não na política institucional. E neste momento achei que era importante e que tinha uma contribuição a oferecer e aqui estou. Eu acho que isso tem um período, um serviço civil voluntário que estou prestando. Em princípio, como a Marina disse que ela é contra a reeleição, esse serviço tem data marcada: dezembro de 2015.

 

CC: Isso quer dizer que daqui três meses posso perguntar se o senhor vai ocupar também um ministério no governo de Marina?
GL: Não sei, aí dependerá das definições da presidente. 
 

 

Luis Nassif

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