As leituras sobre a Ata do Copom

As atas do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) nunca foram modelo de clareza. O estilo melhorou nos últimos tempos mas muitas vezes encerra suficiente dubiedade para que comporte várias leituras.

Os jornais interpretaram a última ata como sinal certo de que deverão ocorrer mais altas de juros. A ata não diz nem sim, nem não, muito pelo contrário.

O que é claro na Ata é que o “ciclo de altas” deve prosseguir por bom tempo. Por tal entendam-se novas altas ou entenda-se manutenção da taxa Selic no alto nível atual, até que o quadro inflacionário clareie.

Isso porque simplesmente não existem conclusões definitivas sobre as tendências inflacionarias.

Da Ata, depreende-se o seguinte:

Fatores de pressão

A alta atingiu preços comercializáveis (influenciados pelas cotações internacionais) e não comercializáveis – a chamada inflação de serviços.

A atividade econômica poderá prosseguir robusta tendo em vista a expansão da massa salarial e o impulso do crédito – ainda que mitigado.

Fatores indefinidos

Evidências de moderação da recuperação da economia global devido à crise no Japão e às incertezas sobre o mercado de trabalho americano. Reconhece, no entanto, a dificuldade de qualquer previsão mais segura.

Sinais de acomodamento

Identifica tendência de moderação da taxa de crescimento da economia, assim como do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação, embora ainda em patamares elevados. E a moderação dos preços internacionais de commodities.

O cenário prospectivo

Embora ainda aposte em atividade econômica robusta, reconhece que a partir do quarto trimestre haverá queda nos índices de inflação anual. Na ponta (que é o que interessa) as projeções para o terceiro e quarto trimestre deste ano apontam desempenho próximo ao padrão histórico do período – contra a explosão de preços no mesmo período do ano passado. A partir daí os índices anuais se deslocarão na direção da trajetória das metas inflacionarias.

Esse cenário contempla também moderação na expansão do crédito, devido às medidas macro prudenciais já adotadas, assim como as medidas monetárias.

Em vista disso, reconhece “um ambiente econômico em que prevalece nível de incerteza acima do usual, e identifica riscos à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta”. Ou seja, incertezas e riscos. Se houvesse certezas de alta de inflação, teria havido aumento da taxa Selic e mantido “viés de alta” – o que não foi feito.

Parte das incertezas se deve ao tempo necessário para avaliar efeitos das medidas macro prudenciais e monetárias. No âmbito interno, ações macroprudencias e, principalmente, ações convencionais de política monetária recentemente implementadas ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços”.

A Ata reconhece que o cenário prospectivo para a inflação aina não evoluiu favoravelmente. E aí solta a frase dúbia: “O Copom entende, de forma unânime que, diante das incertezas quanto ao grau de persistência das pressões inflacionárias recentes, e da complexidade que envolve hoje o ambiente internacional, o ajuste total da taxa básica de juros deve ser, a partir desta reunião, suficientemente prolongado.”

Não significa necessariamente que haverá novas altas, mas que será mantido o alto nível atual das taxas. Porque “a maioria do Comitê entende que um substancial esforço anti-inflacionário já foi introduzido na economia no último quadrimestre e que há defasagens no mecanismo de transmissão desse esforço para a atividade e para os preços, o que, associado à decisão de se prolongar o ciclo de ajuste, recomendaria uma reavaliação da estratégia de política monetária”. 

Luis Nassif

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