As medidas macroprudenciais e a Selic

Coluna Econômica

Bíblia do mercado financeiro mundial, o jornal The Wall Street Journal publicou uma bela reportagem sobre a maneira como os bancos centrais do mundo se armam para impedir bolhas financeiras.

Embora apresentadas como novidades, as medidas em nada diferem das ferramentas tradicionais de política monetária. Identificam-se bolhas e atua-se diretamente sobre elas. É o que o mercado batizou de medidas “macroprudenciais”, utilizadas com sucesso  pelo Banco Central no início do governo Dilma.

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Essas formas de atuação visam minimizar o uso dos juros como elemento de contenção da demanda. Na verdade, o modelo de metas inflacionarias – adotadas pelos BCs do mundo inteiro – obedeciam muito mais a uma orientação ideológica do que à  busca de resultados práticos.

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Por exemplo, se existe uma bolha no mercado de financiamentos de veículos, o que é mais eficaz: aumentar os juros da economia como um todo ou atuar expressamente sobre os financiamentos de veículos, reduzindo os prazos ou exigindo maior valor na entrada? É evidente que o caminho “macroprudencial” é o mais adequado.

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Em países de economia avançada, utilizava-se o sistema de metas inflacionarias como uma ferramenta de desregulação da economia, impedindo as atuações pontuais dos BCs nos mercados especulativos.

Para consolidar o modelo, instituíram-se falsas verdades sobre o uso dos instrumentos de política monetária, como a de que um instrumento (no caso os juros) só devem perseguir um objetivo (o controle da inflação). Com isso, deixavam-se de lado outros objetivos centrais de política econômica, como a preservação do nível de atividade econômica e de emprego.

No caso brasileiro, os efeitos foram muito piores, porque impactando diretamente a dívida pública.

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Esse arcabouço institucional desarmou as autoridades bancarias e levou à grande crise de 2008. E, com ela, ao seguinte paradoxo: os BCs precisam reduzir os juros para reativar as economias nacionais; ao mesmo tempo tem que atuar contra bolhas especulativas que surgem em todo ambiente de muita liquidez e juros baixos.

Foi esse quadro complexo que tem levado os BCs a abandonarem a ortodoxia e estimularem cada vez mais as medidas “macroprudenciais”.

A reportagem do Wall Street Journal traz vários exemplos bem sucedidos dessa estratégia.

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Curiosamente, o Bacen, que antecipou-se a esses movimentos e adotou medidas “macroprudenciais” eficientes, aparentemente recuou, quando voltou a apostar na elevação da taxa Selic.

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Há duas justificativas para isso. Uma, de ordem econômica: o índice de disseminação dos aumentos, que andava meio generalizado. Mas a verdadeira razão é bem reveladora de como políticas econômicas são discutidas em nichos privilegiados sem expor as verdadeiras razões por trás das medidas.

No caso da Selic, a preocupação maior do BC é com a reversão da política monetária norte-americana, o aguardado aumento de juros que, em um primeiro momento, provoca um “overshooting”, atraindo dólares do mundo todo e provocando oscilações no câmbio de diversos países.

Esta é a razão primordial para o aumento da Selic. O resto é apenas para pisar no tomate.

Luis Nassif

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