Brasil e EUA querem evitar metas rígidas de endividamento

Do Valor

Brasil e EUA querem evitar compromisso de corte de gastos no G-20

Por Assis Moreira

O Brasil vai se aliar aos Estados Unidos no G-20 para evitar metas rígidas de endividamento publico, por considerar que isso poderia “matar” a já frágil recuperação da economia mundial.

Ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais dos países do G-20, grupo que reúne as 20 principais economias do mundo, se reúnem na semana que vem em Moscou, num cenário em que a consolidação fiscal deve continuar a ser prioridade em 2013 para boa parte dos países desenvolvidos.

A Alemanha está insistindo em um novo compromisso no G-20 para limitar o endividamento público nos paises ricos, apesar de vários paises terem considerado um erro o tipo de acordo feito em 2010 na cúpula de Toronto.

Na ocasião, os países ricos tinham se comprometido com planos fiscais para pelo menos cortar pela metade seus déficits até 2013 – o que não foi alcançado – e estabilizar ou reduzir as dividas publicas em relação ao PIB até 2016.

Agora, está na mesa a discussão sobre se os países desenvolvidos retomam a meta fracassada de 2013 ou se estabelecem novos objetivos, para sinalizar aos mercados o comprometimento permanente com ajustes e reformas.

Mas, em recente reunião preparatória, em Nova Déli, os EUA mostraram-se bem mais incisivos contra os alemães. Alertaram que o multiplicador fiscal tem sido muito pior do que se imaginava. Ou seja, os países menosprezaram o tamanho do impacto negativo da consolidação fiscal sobre a demanda e o crescimento econômico.

Para os EUA, é preciso na verdade rever o ritmo da consolidação fiscal nas grandes economias. Uma preocupação do Brasil e de outros emergentes é ver como será formulado um eventual acordo, pois o que querem é estímulo para a economia global se recuperar mais rapidamente.

Em todo caso, ninguém no G-20 menciona “austeridade”, termo maldito entre os negociadores, mesmo entre os alemães.

Como destaca o Deutsche Bank, os governos nas economias desenvolvidas enfrentam desafios consideráveis de curto, médio e longo prazos quanto à sustentabilidade da dívida. Em comparação, a tendência é a divida pública dos emergentes continuar caindo, graças a uma combinação de sólido crescimento econômico, baixa taxa de juros e, no geral, políticas fiscais sustentáveis. Para o banco, a dívida total dos emergentes continuará estável ou declinará minimamente nos próximos cinco anos.

Em Moscou, o encontro de ministros e presidentes de BCs ocorrerá em meio a dúvidas no mercado sobre a durabilidade e a dimensão da recuperação global para 2013, apesar de sinais positivos no começo do ano.

Para analistas do banco britânico Barclays Capital, a política fiscal nos EUA poderá representar freio de 1,5 ponto no PIB, ou até mais, no caso de fracassar a negociação entre republicanos e democratas no Congresso para diminuir gastos.

Na Europa, sob a influência alemã, a consolidação fiscal continua no topo da agenda política. Embora os mercados financeiros pareçam achar que o pior já passou, a situação continua fluida, com várias fontes de riscos. O mais provável é uma atenuação no ritmo da consolidação fiscal para evitar o prosseguimento da recessão.

Mesmo na China, a política fiscal tende a ser mais restritiva no longo prazo, por causa de passivos na seguridade social. O Barclays diz não esperar, porém, que o novo governo volte atrás da nova rodada de estímulos, como os de 2008-09, e o crescimento continuará por volta de 7,5% e 8%.

Outro tema de confronto em Moscou será o atraso nas reformas do FMI, diante da resistência dos europeus em aprovar uma nova formula de quotas para redistribuir poder de voto no fundo. Além disso, a reforma de quotas de 2010 sequer entrou em vigor porque o Congresso dos EUA ainda não ratificou o compromisso.

Outro tema será o financiamento de investimentos de longo prazo. Os negociadores vão “mapear” o tema. Na véspera, em Londres, um grupo formado por ex-presidentes de BCs, incluindo Jean-Claude Trichet, vai divulgar um relatório sugerindo um “gap” trilionário nas necessidades de financiamento para os próximos anos, a menos que sejam feitas profundas mudanças nos mercados e nas regulações nacionais.

A regulação bancária também estará na agenda, com recomendações para controlar os “shadow banks”.

A questão de guerra cambial, com países continuando políticas de desvalorização artificial de suas moedas, deve ser discutida também, mas, segundo um negociador, “sem foco especifico.

Luis Nassif

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