Brasilianas: o desafio de desalavancar a economia, segundo Felipe Rezende

Há uma imensa dificuldade da análise econômica brasileira em aprender com os próprios erros.

Na entrada do Real, em julho de 1994, a redução da inflação provocou um boom nas vendas do comércio. Milhões de pessoas, de repente, ganhavam poder de compra. Houve um processo de alavancagem (endividamento) das empresas, para atender à nova demanda.

No final do ano, a economia bateu no seu limite. A impudente apreciação cambial provocou uma crise nas exportações, especialmente no agronegócio, que começou a se espalhar pela economia.

Começa, então, uma volta ao patamar anterior.

Trata-se de um processo que tem que ser tratado gradativamente, dando tempo para a empresa ir desovando o estoque adicional e quitando seus financiamentos.

Nos dois momentos – 1995 e 2015 -, em vez de um processo gradativo, o Banco Central promoveu um choque de juros e de crédito. As empresas que vinham crescendo mais rapidamente, ficam presas ao endividamento. Os juros explodem, não conseguem renegociar o prazo da dívida e acabam batendo no paredão da falta de liquidez. Atrás dela, vêm os fornecedores e a cadeia produtiva em geral.

Os bancos elevam as taxas de juros, aceleram a inadimplência, obrigam o setor real a queimar seus ativos e sua poupança. Depois, renegociam com os moribundos.

Se o Banco Central não compreende esse fenômeno, a desalavancagem tem efeitos deletérios sobre a economia como um todo e sobre a taxa de investimento. Enquanto não se livram da dívida antiga, as empresas não recuperam a condição de crescimento.

O endividamento circular de 1994 e 1995 levou quase 7 anos para ser vencido. Agora, se entra em um novo ciclo. Como enfrentar esse desafio?

Os alertas sobre a alavancagem

Há tempos, o economista Felipe Rezende vem alertando sobre a questão da alavancagem na economia brasileiro, e os erros de diagnóstico cometidos no período Mantega-Lega-Meirelles.

Ele concedeu uma entrevista à Plataforma Brasilianas sobre o tema:

A entrevista tem 5 partes

Parte 1 – a armadilha da alavancagem

Famílias e empresas saíram de um endividamento de US$ 200 bilhões em 2002 para US$ 1,5 trilhão em 2015. No primeiro momento refletiu a melhoria da economia, com melhora da atividade, novos marcos regulatórios.

De 2010 a 2014 houve forte queda dos lucros agregados e desde 2011 queda forte da rentabilidade. Combinação perigosa: forte alavancagem com queda da capacidade de gerar fluxo de caixa precipitando a crise..

Parte 2 – a nova matriz econômica

Rezende mostra os erros de cortes de impostos e subsídios, que não sustentam crescimento do investimento. De 2014 em diante, houve tentativa de desalavancagem do setor privado, para pagamento de dívidas, sobrando menos para investimentos e gastos operacionais.

Parte 3 – o pacote Levy-Meirelles

Erros de política econômica pioram a crise. Choque forte de preços administrados, contaminou os preços e Banco Central reagiu jogando juros lá para cima em plena fase da desalavancagem. Em um momento em que precisaria diminuir as despesas financeiras.

O segundo erro foi o corte de gastos. Não se pode fazer esse ajuste em plena fase de desalavancagem.

Parte 4 – o BC e os indicadores de alavancagem

Até crise de 2007 e 2008, as variáveis financeiras não eram consideradas como cruciais para decisão de política de juros. Houve esforço nos últimos 10 anos para que BCs adotassem essas melhorias. O BC brasileiro não fez. Só em 2015 e 2016 aparecem os primeiros relatórios sobre alavancagem do setor privado, tarde demais.

Parte 5 – o tempo para desalavancagem

Nem toda crise é igual. Mas há características comuns. Crescimento de crédito no período anterior. E no período pós-crise, tem que pagar dívidas. No Brasil, vai até 2022 e 2023 para recuperar dados de pré-crise.

Agora, governo reconhece crise da alavancagem, mas não sabe como tratar desses juros.

Parte 6 – inflação baixa e juros altos

BC teve movimento tardio de redução das taxas de juros. Inflação dos últimos 12 meses, 2,70 do IPCA mostrando que BC claramente errou na mão nos juros. Inflação fora da meta é erro dos dois lados, abaixo ou acima da meta.

Nesse período, o BC deveria colocar taxa de juros baixa e mantê-la por período prolongado para balanços se recomporem.

Outro problema são juros muito elevados na ponta.

Parte 7 – a PEC do Teto

Dois erros. O primeiro, de não perceber que toda limitação de gastos afeta, em primeiro lugar, investimento público, especialmente em infraestrutura. São esses investimentos que permitem ganhos de produtividade. E comprometem crescimento potencial da economia.

Parte 8 – o não cumprimento da PEC do Teto

A regra de ouro não será cumprida no próximo ano. A PEC foi mal desenhada. Agora, problema grave porque engessou completamente a máquina governamental.

Parte 9 – como reduzir spreads bancários

Mudança no marco regulatório, acabando com o compulsório. Modernizar a atuação do BC com pagamento de juros sobre reservas excedentes, com alívio sobre operações compromissadas. O custo de um sistema bancário robusto se dá à custa de uma baixa alavancagem (pouco recurso de terceiros). Embora aumentando a alavancagem, aumenta a possibilidade de crise sistêmica. Outro caminho seria o desenvolvimento dos mercados de capitais.

Parte 10 – o livre fluxo de capitais

Estudos inclusive do Fundo Monetário Internacional sugerem que controles de capitais, especialmente para especulativos, são bem-vindos, gerando ganhos de eficiência. Controles de cambial são úteis para estabilizar taxa de câmbio.

Parte 11 – da riqueza financeira para a economia real

O dilema é como criar incentivos para que toda capacidade de financiamento seja alocado em ganhos de eficiência. Uma das maneiras é canalizar bancos de desenvolvimento. Brasil em posição invejável, porque já tem seu banco de desenvolvimento. O banco de desenvolvimento chinês criado na década de 90 e a expansão aconteceu em oito setores-chaves, voltados para infraestrutura. Porque ali é que tem o impacto maior no balanço, se se recorre a financiamentos externos.

Em vez disso, no Brasil programa de concessão não resolve problema da economia brasileira. A economia brasileira precisa de investimentos novos de infraestrutura não de concessões, que são investimentos maturados. Não está na pauta.

 

 

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Ou seja, a bomba econômica

    Ou seja, a bomba econômica está armada. E quando ela detonar de vez, a gente do andar de baixo terá saudade do desgraceira de hoje. Enfim, o Brasil preparou o caminho pra ser, em termos de caos econômico-político, um grande Rio 

  2. Isso tá mais pra desabafo 

    Isso tá mais pra desabafo  ..vdd é que o estrago vem desde Mama Vana ..isso enquanto o desgoverno do golpista Vampiroso não tem legitimidade pra fazer nada de LP.

    O BC continua sendo entregue aos banqueiros  ..é tipo uma agencia capturada ..inclusive recentemente ganhou poderes pra fazer acordo com o fiscalizado (o patrão deles) ..surreal

    Ao menos neste artigo vc não falou da falta de compromisso deste DEPARTAMENTO no que tange a LIquidez do Estado, emprego, desenvolvimento HUMANO e crescimento ..matérias que sem duvida são multidisciplinares e exigem muito mais do que meros financistas formados em Harvard, sob a influência de outras realidades e MOEDAS, pra serem tocadas.

    Pro leitor faltou vc deixar claro que a PUXADA de juros veio por meio da SELIC (e mamam vana deixou em 14,5 %)  ..com alto custo pro governo  ..e não por redução de prazos e linhas de crédito pra empréstimos e finaciamentos por exemplo ..ou com aumento do compulsório  ..meios que tornariam o custo do ajuste muito mais dinâmico e equanime entre os agentes

    O endividamento das famílias promovido pós 2010 a custa de consumo exacerbado de carros e de porcarias ao invés de, por exemplo, moradia, teve tb um custo deplorável que, somado a crise das commodities e a especulação na BOLSA e Valores  selaram-nos a sorte duma melhora no CP ou, a esperança pela manutenção dum crescimento de mais longo prazo, com números mais modestos, porém constantes, evitando-nos gargalos

    Sobrou-nos finalmente ficarmos vendo os “analistas econômicos” vibrarem com os números de fusões e aquisições, como se isso fosse sinal de propseridade, e não de decadência econômica

    ..mas vamos ver o lado bom da coisa  ..isso meio que enterra a possibilidade dum Meireles ou dum Maia pós 2018, já que a possibilidade de barrarem LULA, infelizmente, nosso MAIOR LIDER de todos os tempos, parece ganhar corpo com o povo continuando se fingir de morto

  3. Eles mantêm as mais alta taxa
    Eles mantêm as mais alta taxa de juros dos títulos públicos para atrair investidores… E, assim… Aumentar o valor da moeda frente ao dóla… E, facilitar as importações de produtos com alguma tecnologia agregada… Diminuindo a inflação no valor destes produtos importados… Isto basicamente porque o país se tornou um importador nato de produtos com algum valor agregado? Ou, o país se tornou um importador nato de produtos com algum valor agregado por causa disto? Creio que seja a segunda opção… Estão usando este sistema de altos juros para forçar o país a se tornar um importador de produtos com algum valor agregado, ao invés de produzir em seu próprio território… E, um exportador de matéria prima bruta e barata… A não ser a inflação no valor de produtos com dificuldades de serem produzidos aqui como o trigo por exemplo… Não vejo vantagem nesta alta taxa de juros para combater a inflação no valor de produtos com baixo valor agregado como uma cama de hospital por exemplo… Na verdade, é está alta taxa de juros que está gerando a tão famigerada inflação… Muito pelo contrário do que eles dizem para nós… Este sistema talvez tenha sido implantando para bloquear a economia brasileira e tornar o país subserviente da tecnologia e da importação de produtos estrangeiros com baixo e até alto valor agregado… Afinal… Durante décadas o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo no âmbito industrial e comercial… Talvez isto tenha assustado os norte americanos… E, esta política de altos juros atreladas a importação de tecnologia e produtos estrangeiros, tenha estancado a suposta sangria na visão de um norte americano em relação a nós… Pode parecer teoria da conspiração… Mas, basta analisar os dados… Com um alto juros para combater uma suposta inflação sobre o valor dos produtos importados, a indústria reduziu a pouco mais de 5%… E, na época que esteve na ponta do crescimento mundial… Ela representava 30% da economia… Conforme dados obtidos por mim em explanações daquele um Ciro Gomes… Hoje, nós importamos até macas de hospitais conforme este mesmo um Ciro Gomes… Derivados de petróleo que teríamos condições de produzir aqui… Isso só mostrou que os altos juros não vieram para combater a inflação… Mas, para gera-la e forçar que nós nos tornaremos importadores de produtos de baixo até alto valor agregado… Nós nos tornamos meros exportadores de matéria prima bruta e barata… E, importadores de produtos com alguma tecnologia… Seja de que nível está tecnologia for… Ou seja, nós nos tornamos um grande celeiro agro-pecuário… E, importadores de tudo aquilo que o dinheiro pode comprar… Ou, nós produzimos estes produtos aqui com mão de obra barata através das multinacionais… E, exportamos para outros países… A indústria local está sendo engolida por multinacionais e importação de produtos do exterior… Para resumir toda a tragédia… É isto! A alta taxa de juros nunca foi para combater a inflação… Mas, para gera-la… Por isso que, mesmo com uma inflação no valor de produtos importados supostamente baixa… Eles não diminuem a taxa de jutos… Pois, na prática… Eles querem nos destruir industrialmente… E, que nós nos tornemos importadores de produtos com algum tipo de tecnologia…. E, no máximo… Que nós nos tornemos exportadores de matéria prima bruta e barata… Eu digo no máximo que nós nos tornemos exportadores de matéria prima bruta e barata… Porque eles querem aprovar isenção de impostos na importacão e exportação de produtos por parte das multinacionais… E, nós não teríamos retorno nem com este tipo de atividade e deixaríamos de fato de ser uma patria… já que pátria tem haver com patrimonio… E, com esta inserção dos políticos para as multinacionais não arrecadado nem nisto… Além de desejarem… E, isto é claro para mim…. Destruir o nosso futuro… Nos tornando de fato uma colônia… Um anexo…

    1. É só pensar no seguinte…

      É só pensar no seguinte… Durante um período… Tinha uma economia com 30% de seu faturamento advindo da indústria… Agora não temos nem 10% deste faturamento vindo da industria… Quando a maior parte dos produtos de um país é fabricado no próprio país… Não há inflação no valor deste produto… Pois, ele é fabricado em quantidade suficiente para abastecer o mercado local… Agora, vamos olhar o seguinte… O trigo não é produzido em grande quantidade aqui… Então, ele tem que ser importado… Como ele é importado através de uma moeda estrangeira… E, o valor desta moeda esta mais alto que o valor da moeda local… O valor deste produto sofrerá uma inflação… Ou seja… Diante do valor que ele é comercializado aqui… Ele será mais caro importando do que se ele fosse fabricado aqui… Ainda mais se o valor da moeda estrangeira com a qual ele é importado for maior do que o valor da moeda local… Mas, agora imagine… Se, de repente… Este país focasse em uma política de importação ao invés de produção local? O valor de todos os produtos sofreriam uma inflação… Porque eles deixariam de serem produzidos aqui… E, passariam a ser importado de uma outra região de planeta em uma outra moeda… Se o valor desta moeda for maior do que o valor da moeda local… O valor destes produtos será um absurdo… Se dependermos da maior parte destes produtos para a nossa subsistência… O valor será mais absurdo ainda… Então… Ou, aumentariamos aprodução deste produtos aqui… Com um crédito barato e baixo juros… Junto a um investimento do estado em vários setores… Ou, colocariamos títulos do governo a venda com uma alta taxa de juros para trair capital estrangeiro e valorizar a nossa moeda… Comprometendo a economia local… Pois, com estes altos juros… O estado perderia sua capacidade de investimento… E, as empresas não teriam crédito na praça para desenvovler os seus negócios… Além dos empresários preferirem investir o lucro de seus negócios nestes mesmos títulos com um alto retorno… Comprometendo todo o desenvolvimento da encomia… Mas, para quem quer comprar um video game da atualidade… Ou importar produtos com qualidade boa e barata de forma quase instantanea… Mas vale comprometer todo um país do que apostar em seus dsenvolvimento… Desenvolvimento de um video game local… De uma montadora de automóveis local… De uma montadora de celulares local… Afinal a tecnologia da maior parte destes automóveis, celulares e video games é compartilhada… Estamos comrpometendo o dsenvolvimetno de todo um país para nos satisfazermos do consumismo rápido e barato que os chineses nos proporcionam… Afinal… É muito mais barato importar da china… Ou, comprar de alguém de que importa de lá… Do que produzir aqui com estes altos juros… Esta alta carga tributária para pagar estes juros… E um grande volume de pessoas sugando e privatizando os recursos públicos… Que poderiam subsidiar o dsenvolvimento da industria local como vinha acontecendo a umas dezenas de anos atrás,,, Cresciamos mais do que a China… Hoje somos seus devotos… Seja na venda de recursos naturais… Como na importação de produtos manufaturados e industrializados! Temos milhões de pessoas em idade para trabalho… Temos recursos naturais… Mas, não temos condições economicas… Pois a economia foi comprometida por sistema de importação de produtos com algum valor agregado… e exportação de produtos naturais…

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