Carlos Ghosn e o futuro do Brasil

Coluna Econômica 16/04/2010

Em sua visita recente a São Paulo, Carlos Ghosn, CEO dos grupos Renault e Nissan, deu uma aula sobre economia e gestão modernas no Monte Líbano.

Ao lado do judeu-egípcio-brasileiro Alan Belda, o libanês-brasileiro-francês talvez tenha sido o executivo brasileiro a galgar o mais alto posto no universo dos grandes CEOs da era da globalização.

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Quando assumiu a presidência da Nissan, a empresa caminha célere para a bancarrota. Não consegui crédito em banco, nem sequer para capital de giro.

Ghosn assumiu a empresa em um país – o Japão – amarrado a práticas empresariais ancestrais. Até então, não fazia parte da tradição japonesa a dispensa de funcionários. Sendo imprescindível, havia a prioridade para os mais jovens.

A crise obrigou a uma mudança de rota. Para ganhar a confiança da opinião pública japonesa, dos credores, fornecedores e trabalhadores, Ghosn firmou compromisso público: de por qualquer motivo, mesmo externo à sua vontade, as metas firmadas não fossem alcançadas após determinado período, ele e toda a diretoria se demitiriam.

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No primeiro ano, a meta foi alcançada. No ano seguinte, a Nissan foi a montadora a registrar a maior margem operacional dentre todas as montadoras mundiais. Ghosn ganhou a fama de “matador de custos”, reputação internacional e ponto de assumir o comando simultâneo da Renault.

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A experiência que acumulou no Brasil e dos demais países e culturais pelas quais transitou, ensinaram lições preciosas a Ghosn.

Seu avô veio para o Acre como mascate. Ele nasceu lá e viveu até os 6 anos. Depois, mudou-se para o Líbano, foi para a França terminar os estudos. A mãe e irmãs vivem no Rio de Janeiro, cidade que ele visita todo final de ano.

A lição aprendida foi sobre a importância de conhecer cada cultura, de cada povo, e atuar sempre levando em conta essas condicionantes.

Aliás, a grande virtude de sucessivos CEOs brasileiros, que têm assumido postos importantes de comando em multinacionais, é essa flexibilidade para tratar com várias culturas, entender os diversos povos e saber desenvolver uma linguagem universal.

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Respondendo às perguntas dos sócios do Monte Líbano, Ghosn garantiu que o Brasil é a bola da vez. Tudo conspira para que, nos próximos vinte anos – segundo seus cálculos – o Brasil se torne uma das grandes economias do mundo.

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Aproveitou para comparar com o Líbano. O país é excepcional. Tem recursos humanos de primeira, duas universidades modelo – uma coma França, outra com os Estados Unidos – experiência financeira, cidadãos globais. Mas não consegue sair do lugar. Gradativamente, está sendo ultrapassado pelos Emirados Árabes e por outros países do Oriente Médio.

A razão? O nó político, a falta de um norte. Ou, como diz ele, o excesso de norte, excesso de propostas sem que surja um Estadista capaz de mostrar o rumo e orientar o país.

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Esse nó político faz com que, anualmente, centenas de jovens brilhantes, os melhores cérebros formados nas universidades locais, saiam do país buscando oportunidades melhores em economias mais dinâmicas.

Levam consigo duas características do país e seus habitantes: valorização do trabalho e da educação.

Luis Nassif

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