Cenário da semana: economia morna, sem riscos maiores

Nosso cenário econômico de curto prazo aponta para os seguintes pontos:

1.     Economia crescendo moderadamente em 2013 e 2014. Elevação moderada na inflação e redução do risco nas contas externas.

2.     Melhoria relativa na produção industrial, provocada pela desvalorização cambial.

3.     Possibilidade de mais pressão sobre o dólar até o final do ano, mas com o BC mantendo o controle da situação. De qualquer forma, caminhando para levar o dólar para patamares mais próximos dos R$ 2,40 do que dos R$ 2,20.

4.     Alguma redução no mercado de trabalho, mas nada que afete o consumo de forma mais acentuada

Para entender melhor as mudanças de humor no cenário econômico de curto prazo.

http://www.youtube.com/watch?v=Abq0sebclBM&feature=youtu.be height:200 align:center]

1. Para combater a crise de 2008, o Fed (Federal Reserve), o Banco Central dos Estados Unidos, adotou uma política de injetar dólares na economia. No vencimento dos títulos públicos, em vez de renovar a dívida, resgatava os títulos despejando dólares no mercado.

2. Com mais dólares circulando, as taxas de juros dos EUA ficaram próximas de zero. Mas, com a economia em crise, não houve demanda para crédito. Os bancos ficaram com dólares em caixa e saíram atrás de alternativas de retorno mais atraentes, especialmente em economias emergentes.

3. O aumento do fluxo de dólares para os emergentes provocou apreciação nas suas moedas – que ficaram mais caras em relação ao dólar. O real mais caro prejudicou as exportações, estimulou as importações e os gastos com turismo. Com isso, abriu-se um rombo nas contas externas, que passaram a depender cada vez mais dos fluxos financeiros para equilibrar as contas.

4. Por outro lado, o crescimento chinês ajudou a preservar as cotações de commodities brasileiras amenizando um pouco o déficit na balança comercial.

O resultado final foi um robusto déficit em conta corrente, necessitando ser financiado por fluxos financeiros externos.

Cenário de junho

Em junho, o cenário era de muita incerteza devido aos seguintes fatores:

Risco de aumento no rombo das contas externas – perspectiva de crescimento menor da China derrubando as cotações de commodities  Manutenção da recessão europeia, reduzindo as exportações brasileiras e aumentando os excedentes exportáveis europeus.

Risco de interrupção no financiamento externo – perspectiva de melhoria da economia norte-americana, levando o Fed a retirar os estímulos monetários, atraindo de volta aos EUA parte do fluxo financeiro internacional.

Ter-se-ia então o aumento do déficit em conta corrente e a redução do financiamento externo.

Nesses momentos, ocorreria o fenômeno conhecido como “overshooting”.

Os especuladores sabem que, assim que for confirmado o fim dos estímulos monetários pelo Fed, haverá uma corrida de dólares em direção aos EUA, valorizando novamente o dólar e desvalorizando as moedas que, no período anterior, sofreram apreciação.

Nestes momentos, quem sai por último perde dinheiro.

A explicação é simples:

1. Um investidor traz US$ 1 milhão com o dólar a R$ 1,90. Converte para R$ 1.900.000 e aplica aqui a, digamos, 10% ao ano. Um ano depois, terá R$ 2.090.000.

2. Se, na hora da saída, o dólar estiver valendo R$ 2,00, os R$ 2.090.000 valerão R$ 1.045.000; a R$ 2,20, valerão US$ 950.000; a R$ 2,50, valerão US$ 836.000. Quem sai por último, perde mais. Julgava-se que os dólares sairiam com força, provocando uma maxidesvalorização do real. Como as contas externas brasileiras poderiam não ser mais bancadas por financiamento externo, o “overshooting” seria radical, consumindo em pouco tempo as reservas cambiais brasileiras, ficando o país “default” – isto é, inadimplente.

O jogo do “overshooting”

Havia um nítido exagero, provocado pelos especuladores mais espertos e que já deu certo em outros momentos..

Como se viu, quando o real se desvaloriza, quem sai por último, perde mais. Mas depois que a desvalorização chega ao pico, quem volta primeiro ganha muito mais, pois se beneficiará da elevação dos juros internos e de uma nova apreciação do real.

O quadro abaixo fala por si.

A linha de cima mostra o US$ de entrada, isto é, quanto o investidor pagou para converter seus dólares em reais.

A primeira coluna mostra o US$ de saída, isto é, quanto pagou para converter seus reais em dólares novamente.

Pegue dois exemplos radicais, supondo que nos EUA a taxa de juros é 1% ao ano e no Brasil 10% ao ano:

1. O investidor traz recursos com o dólar a R$ 1,80. Dois anos depois, leva de volta o investimento com o dólar a R$ 2,60. Terá um prejuízo de 17,9%.

2. O investidor traz recursos com o dólar a R$ 2,80. Dois anos depois, resgata o investimento com o dólar a, digamos, R$ 2,20. Seu ganho será de 51%.

[video:http://www.youtube.com/watch?v=e5e_Sm4qNMo&feature=youtu.be height:300 align:center

É por isso que, sempre depois de uma corrida para retirar dólares, eles acabam voltando com mais força ainda. Porque ganha-se com a nova valorização do real e ganha-se com o aumento interno das taxas de juros para enfrentar a pressão nos preços.

O novo cenário

De junho para cá, o cenário se desanuviou bastante, devido aos seguintes fatores:

1. O Banco Central iniciou um processo controlado de desvalorização do real – que foi para o piso de R$ 2,20. Esse movimento ajudará nas exportações e na defesa (relativa) da produção interna contra importados. Assim, o aguardado “overshooting” será menor do que se temia.

2. O Fed adiou o fim dos estímulos monetários. A notícia acalmou momentaneamente o mercado. Mas tem-se como certo que seja adotada até o fim do ano. De qualquer modo, os impactos sobre o mercado internacional serão menores. O tema já está aguardado há tanto tempo que provavelmente não se irá conseguir as catarses de outros tempos. Além disso, o fim dos estímulos monetários chegará quando se considerar o fim da recessão norte-americana. E a recuperação norte-americana tem impacto positivo direto sobre as exportações brasileiras.

3. A economia da China está se sustentando, reduzindo os receios de queda muito acentuada nas cotações de commodities. E as da Europa começam a se recuperar, trazendo algum alento para o comércio mundial.

Esse é o conjunto de fatores que permite apostar no cenário acima.

Pontos de observação

Economia internacional – acompanhamento dos principais blocos econômicos, com destaque para EUA e China. Indicadores melhores dos EUA acelerarão o fim dos estímulos monetários. Indicadores piores da China pressionarão as commodities para baixo.

Contas externas – olho especialmente na balança comercial, pelo impacto sobre o câmbio, e na inflação, pelo impacto sobre a taxa Selic..

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Pincei da Radio do Moreno

    Pincei da Radio do Moreno (aquele que aumenta e também inventa ). Bom, quais ministros que saem ? Nassif tem noticias se The Economist sera atendido ao seu clamor ?

     

    Nhenhenhém

    Reforma será daqui a 90 dias

    Duas coisas a Dilma detesta, necessariamente nesta ordem: o “Coisa-ruim” e vazamento de conversas suas com ministros. Ela já dissolveu o conselho político só por isso. 

    Só que, desta vez, ela não vai ficar com raiva. E, se ficar, não vai poder punir o vazador. Ela não deve ficar com raiva porque a notícia servirá de alerta aos que estão pensando diferentemente do que a sua decisão. E, segundo, a confidência foi feita em, pelo menos, duas conversas distintas com distintos ministros, no sentido de pessoas diferentes, obviamente, e, assim, ela jamais saberá quem cometeu a indiscrição.

    O meu excesso de zelo tem explicação: a presidente já decidiu que não vai esperar, como a maioria dos seus auxiliares deseja, o prazo de desincompatibilização para mandar embora os ministros candidatos. 

    Não; daqui a, no máximo, 90 dias, todos serão obrigados a deixar seus cargos.

    Aos de olho nas vagas, saibam que assumirão os secretários-executivos.

  2. Pedro Zogbi

    Prezado Nassif, como tem passado?

    Moro em Varginha e escrevi um livro sobre a Paróquia da Sagrada Família, de Três Corações, a pedido do antigo pároco, Pe. Daniel. Sabendo que vc admira as pinturas do Pedro Zogbi, tomo a liberdade de perguntar-lhe se é de seu interesse receber a pequena obra e qual o endereço mais viável para envio. Não pude aprofundar na pesquisa sobre o prestigiado pintor, uma vez que o tempo para a publicação do livro era exíguo, em razão do aniversário da paróquia. Dá, entretanto, par ter uma noção sobre ele e despertar interesse sobre a belaobra que fez. A igreja da Sag. Família está em processo de reforma. Deus queira que a consciência do povo e de quem tem poder possa se movimentar em favor das restauração dos afrescos maravilhosos. Conhece a igreja de Três Corações? 

    Espero que tudo corra bem para vc e que continue firme nesse processo tão valioso de abrir os olhos e o espírito dos seus leitores para a nossa realidade, às vezes tão mesquinha, e para nossa arte que tanto enlevo nos traz.

    Abraços, 

    Marcos Valério.

  3. Morna esteve até agora

    Com a estabilidade cambial, um leve crescimento industrial, com aumento da mão de obra temporária,  um aquecimento no comércio pré-natalino e obviamente o comportamento externo da economia  em expansão. Sem contar com o leilão de libra e as negociações bi- laterais advindas do evento na ONU. Poderemos esperar um pouco mais. Não é não???

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