Cenário econômico em 2016 ainda deve ser marcado pela apatia

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – O tumulto do cenário político brasileiro acabou por comprometer o desenrolar da economia brasileira ao longo de 2015, que prometia ser complicado por si só por conta da necessidade de se controlar a inflação e ajustar as contas públicas. E todos os prognósticos inicialmente traçados foram, literalmente, atropelados pela instabilidade dos últimos meses.

“2015 já se sabia que seria um ano difícil pela necessidade de conter inflação, principalmente depois que governo decidiu dar tarifaço no fim do ano passado, e justamente a razão do tarifaço é a necessidade de ajustar as contas públicas”, explica Fernando Sampaio, sócio-diretor da LCA Consultores. “O segundo fator que sinalizava 2015 ruim, é a necessidade de ajuste das contas públicas. O ajuste das contas públicas e o combate à inflação foram dois fatores recessivos, mas a potência foi muito reforçada pela queda da confiança, seja da confiança entre consumidores e empresários, seja entre investidores internacionais que se traduz em risco Brasil”.

Segundo Mauricio Molan, economista-chefe do banco Santander no Brasil, em 2015 tinha-se o início do segundo mandato de Dilma Rousseff, com um ministro da Fazenda (Joaquim Levy) que faria ajustes e levaria o país a uma retomada no crescimento. “Na prática, não se teve condições políticas, a contração do PIB dificultou ajuste e a economia continuou piorando em um ciclo vicioso. A expectativa foi totalmente frustrada, e você termina o ano com uma condição fiscal e ambiente político ruim”.

Para os economistas consultados pelo Jornal GGN, as incertezas continuarão a pesar no cenário econômico brasileiro em 2016, pelo menos durante o primeiro trimestre – embora os fatores de influência acabem oscilando com maior ou menor intensidade. Confira abaixo os prognósticos dos economistas para alguns indicadores macroeconômicos em 2016:

PIB (Produto Interno Bruto): Sampaio diz que dificilmente o PIB não será negativo, uma vez que o carry over (carregamento estatístico de um período para o outro) deve ficar em torno de 3,5%. “O carry over faz diferença para a gente entender o que falamos em alguns números de atividade econômica. Se nossa projeção de 2015 estiver correta, a economia começará 2016 1,8% abaixo da média vista em 2015”.

Mauricio Molan, do Santander, também projeta PIB negativo, na ordem de -2%. “Em algum momento você vai parar de cair, vai se estabilizar e fazer oscilações entre dados positivos e negativos. A queda deve ser de -2%, com alguns trimestres positivos e outros negativos. Interrompe a queda, mas provavelmente não vai ter nenhum crescimento”.

“Na atividade econômica, reafirmamos nossa estimativa para o desempenho do PIB de 2015 de retração de 3,5% e para 2016 queda de 2,6%”, diz a Austin Ratings. “Se nossas projeções forem concretizadas, o ano de 2015 será o pior resultado desde 1990 (-4,35%), bem como será o primeiro biênio de retração econômica desde a década de 1930”.

Inflação – Molan acredita que a inflação apurada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) deve apresentar uma queda substancial em relação ao fechamento de 2015, e encerrar o próximo ano em torno de 7%.”Vejo analistas com projeção igual ou acima do que estimamos para o ano que vem, mas achamos que vai reduzir. A contração do mercado de trabalho está forte e a recessão também, e agora você tem fatores que jogam contra, como o cambio, que continua se deteriorando ainda mais e provavelmente vai ter um impacto inflacionário mais forte”.

Em relatório, a equipe do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco Bradesco explica que o fato de a inflação encerrar 2015 acima de 10,5% tem um papel importante na formação de preços do ano que vem. “Por exemplo, o salário mínimo sofrerá um reajuste elevado (cerca de 11%). Mas a indexação também está presente em diversos preços administrados, em aluguéis, e mesmo de maneira implícita em serviços (manicure, cursos, consertos) e outros itens da cesta de consumo das famílias”, dizem.

Taxa Selic – Para Sampaio, da LCA, a taxa básica de juros não deve apresentar mudanças, seguindo em 14,25% até o fim de 2016. Por outro lado, Molan acredita em uma taxa Selic de 13% para o fim do ano.

“O BC está sinalizando alta de juros, que deve aumentar no começo do ano. Contudo, em uma análise mais detalhada, vemos que a inflação vai cair no ano que vem, mas as expectativas estão piorando. Não é uma decisão em função de dados objetivos, mas para controlar as expectativas. Com a inflação corrente mais controlada, as expectativas também se controlam”, diz o economista do banco Santander.

Dólar – Para Molan, a cotação deve se estabilizar entre R$ 4 e R$ 4,20.”No ajuste real da taxa de câmbio – quando você ajusta pela inflação -, (a cotação) está em um nível compatível com uma melhora importante das contas externas. Não vejo a necessidade de um ajuste mais forte, e por isso acreditamos em uma estabilização na casa de R$ 4”.

Na visão dos economistas do banco Bradesco, por conta da forte correlação do câmbio com a percepção de risco aferida pelo CDS (Credit Default Swap) de 5 anos, haverá alguma acomodação do risco na sequência da definição do processo de impeachment ao longo do ano novo, qualquer que venha a ser o seu desfecho. “Assim, nosso cenário é o de que o risco Brasil, ao final de 2016, possa estar em torno de 350 pontos básicos o que seria coerente com uma taxa de câmbio em torno de R$3,80/US$ ao final do ano que vem. Se o risco país se mantiver no patamar de 500 pontos básicos, o cenário de câmbio para o final de 2016 se deslocaria para R$ 4,00/US$”.

Balança comercial – Na visão de Sampaio, da LCA, o comércio exterior deve fechar o novo ano com um superávit de US$ 38,8 bilhões. “A única coisa boa para a atividade econômica é a desvalorização cambial, que melhora as condições de competição com os produtos estrangeiros”.

Para Molan, a depreciação cambial vai gerar um impulso no processo de substituição de importações e ajudar a atividade econômica. “Vemos dois fatores promissores: o impacto do câmbio na troca de importação, mais do que qualquer impacto em exportação, que é mais lento”. A queda da taxa de inflação também vai ajudar no componente de expectativa, diz o economista. “A recuperação sustentável requer, na nossa visão, exige uma sinalização mais robusta, mas tais fatores devem impedir queda”, diz Molan, que projeta um superávit comercial na ordem de US$ 37 bilhões para o próximo ano.

Contas Externas – Para Agostini, o saldo de transações correntes ao fim de 2016 deve atingir US$ 55 bilhões negativos, menos do que o projetado para 2015 (em torno de US$ 60 bilhões), mas o comparativo ante o PIB deve apresentar piora. “Em 2015 estamos com 3,3%, e ano que vem em 3,7% – em termos relativos existe piora, pois falamos de uma desvalorização do câmbio de 10% se considerar o fim de ano”.

De acordo com o banco Bradesco, uma notícia favorável é a expectativa de redução do déficit em conta corrente ao longo do ano.O déficit do balanço de pagamentos medido pelo critério clássico (que é o único relevante) saiu de US$ 91,3 bilhões de dólares (quase 4% do PIB) no final de 2014 para um pouco abaixo de US$ 50,0 bilhões (nossa estimativa é US$ 48,9 bilhões, 2,7% do PIB) em 2015”, diz o banco. Esse ajuste em grande parte pode ser explicado pela forte contração das importações (US$ 231 bilhões para US$ 172 bilhões, na mesma base de comparação) e pela redução do déficit da conta de serviços e rendas, especialmente na conta de viagens e de lucros e dividendos.

“Para 2016, acreditamos que o ajuste externo deve continuar impulsionado pela queda das importações (-9%) e recuperação das exportações (+6,5%), que resultarão numa forte melhora de saldo comercial que saltará para US$ 44 bilhões em 2016, compatível com um déficit em conta corrente bastante próximo de zero (de US$ 5,1 bilhões equivalente a -0,3% do PIB). Trata-se, na nossa visão, do mais brutal ajuste de balanço de pagamentos da história em um período de dois anos”, pontuam os economistas do Bradesco.

Contas Públicas – “Na parte fiscal, projetamos um déficit de US$ 64,9 bilhões, quase 1,1% do PIB, enquanto a dívida líquida pode chegar a 42% do PIB”, explica Alex Agostini. “O cenário econômico de contas públicas continua bem ruim, e o governo tem pouca margem de manobra, e  na que tem não deve mexer”.

Segundo Sampaio, da LCA, a projeção aponta um resultado primário de -1,5% do PIB no próximo ano, revertendo o superávit de 0,3% em 2015. “O desempenho péssimo da arrecadação não é surpresa pois a arrecadação é pró-cíclica, e reage mais proporcionalmente quando PIB cresce e vice versa. Teve corte de gastos, mas queda de receita foi tão forte que anulou o impacto sobre o superávit primário”, explica. “Quanto ao ajuste fiscal: a gente tem uma ilusão parece não tão complicado pois já aconteceu várias vezes, mas é muito difícil. Das ocasiões que o Brasil conseguiu fazer ajuste no meio da recessão, contamos com mercado internacional tendo ajuste forte que levou a aumento das exportações, isso aconteceu em 1984 na saída da recessão dos anos 80, no que houve durante período Itamar Franco – tinha crise por falta de dólar, que não está presente nessa crise”. 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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