Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Censo agropecuário: como medir avanços sem dados comparáveis?, por Rui Daher

Agricultura Censo

Censo agropecuário: como medir avanços sem dados comparáveis?

por Rui Daher

em CartaCapital

Várias vezes me referi na coluna sobre o atraso, pelo IBGE, na realização do Censo Agropecuário. O último, divulgado em 2007 com base em dados do ano anterior, fazia nossas análises defasadas em mais de dez anos.

Da mesma forma, insisti, inclusive com a ajuda de fontes internas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de que os novos conceito e formato dos levantamentos, ao invés de aperfeiçoá-los, viriam com graves vícios informativos.

Pressa contra o atraso: os trabalhos de campo foram realizados em pouco mais de quatro meses, período insuficiente mesmo com a utilização de questionários eletrônicos; alegada falta de recursos orçamentários; grau elevado de relativização com aspectos sociais e ambientais permitiriam apenas a visão do alto e o pequeno o uso da lupa.

Aconteceu. Entregues pelas próprias escusas do IBGE na introdução do trabalho: louvou-se as novas tecnologias eletrônicas de pesquisas; ainda assim, os resultados são “preliminares”; a base voltou a ser o ano-safra (outubro 2016/setembro 2017), o que dificulta qualquer análise regressiva; quando criado, como justo, foi pensado quinquenal, mas “devido a cortes orçamentários do governo”, os de 1990, 2000 e 2010 não foram realizados, e os de 2005 e 2015 saíram com dois anos de atraso.

Mais: não devemos comparar os dados dos Censos Agropecuários 1995/6 e o de 2017, em progressão, com o anterior (2006/7), referenciado no ano civil.

Em certos itens, então, como poderemos ser conclusivos sobre avanços e retrações?

Faz-me lembrar o poeta e diplomata Vinícius de Moraes (1913-1980): “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

O que escrevi até agora consta da Introdução do trabalho. Deve ser crível, o que nos faz, a partir de agora, seguir como Deus fez a mandioca, “de qualquer jeito”, sem levar em conta estatísticas passadas, ou fazer esforço hercúleo para as comparações.

Como era esperado e conhecido pelas torcidas de Flamengo e Corinthians, cresceu a concentração fundiária. Propriedades acima de 1.000 hectares passaram a ter maior participação sobre o total. As áreas médias, entre 100 e 1.000 hectares, tiveram queda.

Determina isso o brutal avanço de áreas plantadas com lavouras temporárias (55 milhões de hectares) – grãos, especialmente soja – com crescimento, entre 1975 e 2017, próximo a 80%, enquanto as lavouras permanentes – café e frutíferas – no mesmo período, ficaram estagnadas em torno de 8 milhões de hectares.

A forte predominância das lavouras temporárias, deixa claro o fator capital como motor de produtividade e aumento de produção, através de mecanização, irrigação, tecnologia de informação através da internet e, mais recentemente, o uso da agricultura de precisão.

Consequência direta e sem levar em conta aspectos sociológicos de maior amplitude e profundidade, desde o último Censo, 1,5 milhão de pessoas deixaram de ser ocupados no campo, processo e consequências pouco levados em conta, que ocorre há três décadas e que só a lupa saberá explicar. 

Nada disso, porém, fez as folhas e telas cotidianas deixarem de adiantar a vista assim do alto mais parece um céu no chão”. Conclusões críveis, mesmo sem GPS, mas que o meu amigo Pires veria como de pouca profundidade, pois de há muito já percebidas por quem anda por aí, a realizar o encontro dos rios Oiapoque e Chuí ou Chauí, conforme a linha editorial adotada.

Nada me surpreendeu nas consultas que fiz às tabelas do Preliminar Censo Agropecuário 2017, além de um instantâneo (selfie?), que retrata o óbvio e nada permite para análise, reflexão e prospecção.

Algo como “somos assim”. Nenhuma inovação. Pelo contrário, supressões importantíssimas sem nos permitir analisar com segurança o porquê até aqui viemos, as mudanças intestinas que aconteceram, e nem nos orientar qual a tendência para onde seguiremos.

Para usar a lupa, serão necessárias muitas Andanças Capitais. Quase o mesmo que fazer um Censo Agropecuário do B, que explique papel e importância da agricultura familiar no Brasil, aí entendida não como algo tosco, rudimentar, de assentamentos estigmatizados, pessoas economicamente ativas apenas para a sobrevivência, mas intimamente inseridas nos agronegócios, sem tech que não recebem, pop que não escutam e muito menos tudo, que nunca foram.

https://www.azlyrics.com/lyrics/bobdylan/maggiesfarm.html – LETRA (EM INGLÊS) DE MAGGIE’S FARM

 
Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

1 Comentário

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  1. AGRO É TECH. É POP. É TUDO. MAS ANTES DISTO É BRASILEIRO.

    O Brasileiro do trator, depois de gradear a terra deve estar nivelando e quebrando os torrões. Não é importante às massas de leitores? Quando falta o tomate ou a batata ou o feijão na suas mesas, então percebem o quanto é importante. Mas não é o Brasil? Tech, Pop, Tudo é ter celular caro, fazer beicinho e pensar que pertence à tal Aldeia Global que desenvolveu todos estes produtos e tecnologias. Imbecis que pagam absurdamente caro pelo Trabalho dos outros, enquanto substimam e denigrem o Trabalho de seus Compatriotas. Já começamos a enxergar a Agricultura Familiar como realmente sempre foi. Praticamente toda Agropecuária é Familiar. Não precisa plantar ‘bandeirinha vermelha’ na porta da casa.´Faz parte de uma Cadeia Produtiva Imprescindível e Complexa. Produtores de Queijo e Muçarela começam a romper barreiras de ‘Academicismos e Ilusões’ de Socialistas Ambientalistas Intelectuais de Shopping Center’s.  Uvas e outras frutas já haviam conseguido. Cadeia Produtiva do AgroNegócio, que foi lembrado pela burocratização e Criminalização de Códifgo Florestal e Polícia na porta de chacaras, sítios e pequenas fazendas. Mas gostaria de comentar sobre assunto pouco discutido. Graziano, seu ‘amigo’ da FAO disse que a alimentação global estará em declínio (matéria deste veículo) AH! Esquerdopatas AntiCapitalistas!! 88 anos tornando a maior potência da Terra em QuintoMunismo. Os Coreanos compraram no interior da BA, Fazenda de 10.000 hectares. O sr. sabe o que são 10 mil hectares. A maioria dos Brasileiros não faz nem idéia. Um “pedacinho” de terra de quase 5 mil Alqueires. Algo como 10 mil Campos de Futebol ou 10 mil Quarteirões. Administrado por Coreanos. Tocado exclusivamente por Coreanos. Só se fala e se aprende em Coreano. Produção Exclusiva para abastecer a Coréia. Em Município, em que Esquerdopatas dão Bolsa Família para a população se sustentar. Onde, até ontem, Coronéis, Direita, Caudilhismo Fascista Militar inaugurado por Getulio vargas mantinha a Indústria da Pobreza. Pasto generoso para SUDENE’s. Indústria da Seca. Saques à Armazéns da Cobal para que JN mostrasse Desesperados como Criminosos. Maior mortalidade infantil do planeta, fora de áreas de conflito e guerra.  A Coréia toma posse e produz, enquanto Nós Brasileiros estamos teorizando sobre nossas Ideologias. Somos de outro planeta. A Coréia não compra diretamente do Brasil, por imposições de guerra de um país dominado, invadido, dividido, controlado por Nações Estrangeiras ( e muitos a mostram como exemplo para o Brasil? Surreal). Seu comércio é comandado e administrado pelos EUA. De quem deve priorizar seu comércio. Inclusive e principalmente de Produtos Agropecuários. Então, ao invés de quebrarmos estas regras e impormos nossa produção, alavancando nossa Economia. Cedemos território para que produzam e tenha garantias alimentares, como se fossemos uma propriedade arrendada ou alugada !!! E nossa discussões em 2018 ainda são sobre Academicismos e Ilusões? Pobre país rico. Passou duas vezes na fila da bunda e esqueceu de passar na fila de cérebro. Somos de muito fácil explicação. abs.          

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