Crime organizado, o desafio do milênio

Coluna Econômica

Os recentes acontecimentos no México, com o crime organizado assassinando dezenas de pessoas e colocando o governo no corner, escancarou um dos fenômenos mais preocupantes nos países emergentes: o avanço avassalador do crime organizado.

Recentemente, foi lançado um livro fundamental para se entender como se formam esses movimentos: “A Irmandade do Crime” (Editora Record) do jornalista Carlos Amorim, versão ampliada de outro livro seu, dos anos 90, o primeiro a desvendar o processo de formação do Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, que guarda semelhanças com o que ocorreu com as FARCs e outros movimentos latino-americanos.

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O primeiro passo é entender o ambiente selvagem dos grandes presídios: insegurança total, abusos sexuais, lei do cão.

Dentro desse ambiente, ainda nos anos 70 houve a convivência inicial com presos políticos, organizados, solidários, se autodefendendo naquele ambiente inóspito. Os presos políticos mostraram o poder das ideias como elemento agregador, a bandeira, a disciplina.

A partir daí, a marginalidade aprendeu rapidamente a lição. O CV surgiu com regras rígidas: não se tolerariam mais abusos contra os presos; haveria solidariedade; uma caixinha para amparar juridicamente os prisioneiros; o fim da exploração sexual; o amparo às famílias desassistidas; a busca incessante da liberdade; o planejamento dos assaltos.

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Com tais bandeiras, conseguem em pouco tempo a adesão da maioria dos presidiários. O passo seguinte é a liquidação das quadrilhas rivais. E, à medida que vão ganhando musculatura, o enfrentamento inicial com o poder público.

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O livro historia as diversas etapas do CV, a fase dos assaltos a banco. Depois, a fase dos grandes seqüestros, no início dos anos 90. Mais tarde, a dos pequenos seqüestros no varejo, com atitude inusitadas: como a de libertar reféns de seqüestros praticados individualmente por bandidos.

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Ponto importante é o relacionamento com o governo da Guanabara, depois estado do Rio de Janeiro. A eleição de Leonel Brizolla inaugura um período de defesa dos direitos humanos, mas que, segundo o livro, permite a ampliação da influência do CV.

Qual seria a alternativa? A repressão pesada legitimou o movimento. Quando as lideranças foram espalhadas por diversos presídios, espalharam-se também os princípios do CV.

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O jogo torna-se pesado quando entra em cena o tráfico de cocaína. Os valores envolvidos multiplicam-se, o sistema financeiro internacional passa a ser utilizado pesadamente.

Líderes do CV mudam-se para São Paulo e passam o know-how para o PCC.

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O levantamento da história do PCC não é tão minucioso quanto do CV.

Mas informações recentes dão conta de um poder maior, mais estruturado, em cima do estado de maior dinamismo econômico.

O livro deixa no ar a sensação de impotência do poder público para enfrentar o maior desafio desse início do século 21: a extraordinária expansão do crime organizado, suas vinculações com o poder financeiro.

Será um dos grandes desafios do próximo governo. 

Luis Nassif

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