Commodities: maior queda desde 2008

Por Paulo Cezar

Desvalorização do Real impacta preços internacionais das commodities

O mais interessante da matéria é o depoimento de uma consultoria americana de que a desvalorização do real tem influência direta na queda dos preços das commodities no mercado internacional….

Ou seja quando nossa moeda se desvaloriza, isso por si só faz os preços das commodities caírem, diminuindo o risco de impacto inflacionário no mercado brasileiro ………..

Interessante como isso foi solenemente ignorado pela “Wall street” brasileira….

COMMODITIES TÊM MAIOR RECUO DESDE A CRISE DE 2008

COMMODITIES TÊM PIOR MÊS DESDE 2008
Autor(es): Por Gerson Freitas Jr. | De São Paulo
Valor Econômico – 30/09/2011
 

As cotações das commodities tiveram em setembro o pior desempenho desde outubro de 2008, ápice da crise financeira detonada pela quebra do banco Lehman Brothers. A nova crise que se desenha agora na zona do euro, que pode se transformar em nova crise bancária, a instabilidade dos mercados e a ameaça de recessão na Europa e EUA estão forçando uma correção de rumos que pode pôr fim a um ciclo exuberante de demanda aquecida e preços estratosféricos. Tudo dependerá em grande parte da China, a grande consumidora, e uma ampla pesquisa feita entre investidores pela Bloomberg apontou que a economia chinesa vai desacelerar nos próximos anos e avançar a um ritmo de 5%.

Segundo o Valor Data, os contratos futuros de segunda posição nas bolsas de Nova York e Chicago – geralmente os de maior liquidez – tiveram desvalorização em sete de dez commodities agrícolas monitoradas, se considerar-se a a cotação média do mês contra a média do mês anterior. Quando considerada a variação acumulada no mês, as perdas foram generalizadas, sendo que a maioria dos mercados agrícolas amargou recuos de dois dígitos. O grupo de commodities agrícolas do índice Dow Jones-UBS, que compõe uma cesta de produtos alimentícios negociados nas bolsas internacionais, apontou queda de 15,2% – a maior desde outubro de 2008.

As commodities agrícolas tiveram em setembro, até o fechamento de ontem, o pior desempenho desde o ápice de crise financeira detonada pela quebra do banco Lehman Brothers, em 2008. Segundo o Valor Data, os contratos futuros de segunda posição – geralmente, os de maior liquidez – recuaram em sete dos dez mercados monitorados, considerando-se os preços médios praticados.

Na bolsa de Chicago, o trigo registrou a maior queda média mensal (-4,23%), seguido por milho (-2,54%), farelo (-2,10%) e soja (-0,94%). No mercado nova-iorquino, a maior queda foi a do cacau (-5,60%), acompanhada por açúcar (-4,23%) e suco de laranja (3,84%). Na contramão, tiveram ganhos os contratos de algodão (2,96%), café (0,99%) e óleo de soja (0,08%).

Mas as médias mensais não captaram o tamanho do estrago provocado pelo recrudescimento da crise nos países desenvolvidos. Quando considerada a variação acumulada no mês, as perdas foram generalizadas, sendo que a maioria dos mercados agrícolas amargou perdas de dois dígitos.

Mesmo com a recuperação de ontem, uma reação dos investidores à divulgação de notícias positivas na Europa e nos Estados Unidos, os contratos de milho acumulavam queda de 15,86%, os de soja, 14,84% e os de trigo, 13,36%. Em Nova York, o café registrava queda de 18,68%, acompanhada por açúcar e suco de laranja, que recuavam respectivamente 10,42% e 5,6% em setembro. O melhor desempenho foi o do algodão, que recuou apenas 3,39% desde o fechamento do dia 31 de agosto.

O grupo de commodities agrícolas do índice Dow Jones-UBS, que monitora uma cesta de produtos alimentícios negociados nas bolsas internacionais, registrou queda de 15,2% – a maior desde outubro de 2008. Os produtos agrícolas caíram mais que a média das commodities. Em setembro, o índice CRB, que acompanha também matérias-primas metálicas e energéticas, caiu 10,69% – também neste caso, o maior recuo desde outubro de 2008.

As commodities, como um todo, sofreram com a piora dos indicadores econômicos globais. Os sinais de recessão nas economias maduras e os temores de um calote soberano por parte da Grécia fizeram crescer a aversão dos investidores a ativos de risco. De acordo com o analista do Jefferies Bache, em Nova York, Vinícius Ito, fundos liquidaram quase 100 mil contratos futuros de soja, 50 mil de milho e 17 mil de trigo ao longo do mês.

Segundo Ito, fatores sazonais também influenciaram a aposta contra os mercados agrícolas. “A colheita da safra de grãos nos Estados Unidos exerce uma pressão natural nesta época do ano. Além disso, o mercado havia exagerado na precificação dos problemas climáticos americanos e da demanda chinesa”, avalia.

A desvalorização do real frente o dólar também influenciou diretamente as commodities agrícolas. “O “crash” da moeda brasileira mudou dramaticamente a estrutura de preços necessária para uma equação adequada de oferta e demanda para a maioria das commodities agrícolas nos Estados Unidos”, afirma Shawn Hacket, presidente da Hackett Financial Advisors em um relatório enviado por e-mail. Ele lembra que o real é uma das moedas mais correlacionadas aos preços agrícolas internacionais. “Ainda há espaço para mais correções até que o novo regime de preços encontre um equilíbrio”, alerta.

Contudo, analistas ainda rejeitam uma comparação com o cenário observado em 2008, após a quebra do Lehman Brothers. “Tudo ainda é muito incerto, mas a situação, embora muito grave, é melhor do que a de 2008. Havia então a expectativa real de um colapso do sistema financeiro, o que parece não haver agora”, afirma Ito.

Rodrigo Costa, analista de mercado da Caturra Coffee Corporation, em Nova York, observa que o nível de alavancagem é muito menor do que nos meses que precederam a crise americana, razão pela qual não vê muito espaço para um grande volume de liquidações nos próximos meses. “Tudo vai depender do quão grave vai ser a recessão, de que forma vai atingir os Estados Unidos e se vamos ter a quebra de bancos nos países desenvolvidos. Mas é claro que, se tivermos novos surtos de aversão a risco, as commodities serão afetadas, principalmente pela via do câmbio”.

Ito acredita que os preços podem experimentar uma retomada no início de outubro, encerrado o período de ajuste nos portólios dos fundos de investimento. “No mercado da soja, os compradores veem a queda dos preços como uma oportunidade. Os fundamentos são positivos. Os estoques estão em níveis historicamente baixos, e há uma procura muito grande por parte da China e da União Europeia por soja e derivados”, conta.

Com a queda deste mês, praticamente todas as mercadorias estão no vermelho em 2011. A exceção fica por conta do milho, que até ontem acumulava valorização de 1,18%. Nos 12 meses, porém, a maioria ainda contabiliza ganhos – destaque para o milho, com valorização de 26,71%, e o café, com 28,31%.

Luis Nassif

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