Concessões podem elevar investimentos a 20% do PIB

Por Roberto São Paulo-SP 2012

Taxa de investimento pode chegar a 20% do PIB com concessões

Segundo o economista Amir Khair, o programa de concessões de rodovias e ferrovias pode conduzir o número

Bianca Ribeiro e Ricardo Leopoldo, da Agência Estado
15 de agosto de 2012

SÃO PAULO – O programa de concessões de rodovias e ferrovias apresentado hoje pela União pode conduzir a taxa de investimento do País, que está em torno de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), em direção a 20% do PIB a partir de 2014, segundo o economista Amir Khair. Para ele, esse impulso, no entanto, dependerá do desempenho do setor privado nos projetos e do poder de fiscalização do governo na concretização dos investimentos previstos.

“É preciso ver se no contrato haverá transparência e se será possível fazer a fiscalização correta da realização dos investimentos e operação do sistema”, diz, reforçando que o governo federal não tem atualmente condições eficientes de monitoramento da realização dos projetos.

Desconsiderando as incertezas que ainda cercam as condições das concessões, Khair avalia que a iniciativa melhora bastante a perspectiva de médio e longo prazo no que diz respeito à competitividade. Com menos gargalos logísticos, a iniciativa privada pode melhorar as condições de operação e de ganhos. Com isso, “a taxa de investimento do País pode chegar perto de 20% a partir de 2014”, pondera.

Na visão do economista, o governo federal tomou uma medida acertada ao mostrar esforços de ativar a economia pelo lado do investimento e não apenas por meio do consumo. “Não há incompatibilidade em desenvolver os dois lados”, diz, lembrando que a ponta da demanda pode continuar sendo incentivada a comprar por meio de juros menores. “O governo não abandonou o estímulo ao consumo porque as empresas também investem mirando a perspectiva de consumo’, conclui.

Alavanca

Na opinião de Sérgio Werlang, ex-diretor do Banco Central e atual vice-presidente executivo do banco Itaú-Unibanco programa de concessões, se for bem executado será essencial para que o País possa alavancar a Formação Bruta de Capital Fixo dos 18,7% do PIB, registrados no primeiro trimestre deste ano, para 24% do Produto Interno Bruto em quatro anos.

“O conceito do programa é muito bom, pois tem o objetivo de ampliar os investimentos do País em infraestrutura com a participação do setor privado. O governo é bastante importante, mas não pode fazer tudo sozinho”, destacou Werlang. O ex-diretor do BC ponderou que a ação do Poder Executivo vai estimular empresários a investir mais no País no médio e longo prazos porque deverá ficar mais eficiente, e menos custoso, o transporte rodoviário e ferroviário. “Além disso, regras mais claras para diversos projetos de logística permitem, entre outros fatores, dar uma dimensão melhor de retorno financeiro para os empresários”, disse.

Para Werlang, as concessões que o Poder Executivo deverá fazer em infraestrutura indicam que há uma maior percepção da administração federal sobre a relevância das empresas particulares para ampliar o patamar de Formação Bruta de Capital Fixo no País, o que é reconhecido pela presidente Dilma Rousseff. O ex-diretor do BC avaliou como sintomática a avaliação do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, segundo a qual a ampliação substancial dos investimentos no Brasil precisa de menor participação relativa do banco oficial sobre empreendimentos de longa prazo de maturação.

“A iniciativa do governo vai possibilitar maior inclusão das empresas privadas no processo de expansão da economia”, destacou Werlang, o que, segundo ele, ajudará a melhorar as condições de crescimento do Brasil sem registrar pressões significativas de alta da inflação. Para ele, o “Programa de Investimentos em Logística: rodovias e ferrovias” é um contraponto relevante às avaliações recentes de investidores estrangeiros sobre o País, que demonstraram certo ceticismo com os resultados que poderiam surgir com o ativismo do governo federal na gestão da economia.

Inflação não preocupa

Na avaliação de Sérgio Werlang, não causa preocupação o recente choque de oferta de alimentos, provocado pela pior seca nos EUA em 56 anos. “Isso é coisa da vida. Fatos como esse acontecem, provocam um impacto temporário sobre os preços e depois passam”, comentou. Esse problema internacional fez com que o Itaú-Unibanco subisse recentemente sua projeção para o IPCA deste ano, de 4,9% para 5,2%. Mas como essa elevação foi provocada devido a uma questão pontual, a instituição não alterou sua estimativa de que o BC vai cortar a Selic mais duas vezes, em 0,50 ponto porcentual, na reunião que será encerrada no dia 29 de agosto e na que será concluída no dia 10 de outubro.

“Há condições para a queda da Selic em mais um ponto porcentual, pois a taxa nominal de juros de equilíbrio estaria perto de 7% ao ano”, disse. Segundo ele, uma das formas de estimar isso é verificar que o título federal NTN-B que vence em 2050 apresenta uma remuneração de 4,5% ao ano, somada a uma taxa ao redor de 2,7% ao ano medida por swaps entre dois e três anos negociados na BM&F Bovespa. O Itaú-Unibanco estima que o PIB neste ano deve crescer 1,9% e avançar mais em 2013, quando subirá 4,5%.

Em relação ao câmbio, Sérgio Werlang não acredita que o atual patamar, com um aparente piso de R$ 2,00, será forte o suficiente para aumentar a inflação no curto prazo. “Se a cotação começa a subir de forma intensa, isso pode causar alguma dúvida, mas como o real ante o dólar está num nível estabilizado, não vejo impactos tão negativos.” O Itaú-Unibanco estima que o câmbio fechará o ano em R$ 1,95 e chegará em dezembro de 2013, a R$ 1,90.

Luis Nassif

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