Os alertas de Mantega

Mantega volta a atacar ‘guerra cambial’ em evento nos EUA
Andrea López Cruzado, The Wall Street Journal, PORTUGUESE, OCTOBER 12, 2010, 5:36 P.M. ET

http://online.wsj.com/article/SB128691856626746213.html?mod=WSJP_inicio_…

A guerra cambial está se intensificando e os governos precisam chegar adotar uma ação coordenada no encontro do G-20 mês que vem em Seul, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em Nova York.
Se o grupo de 20 nações — entre as quais estão os países mais ricos do mundo, emergentes como Brasil e China e outros — não adotar uma posição a respeito, “cada país cuidará isoladamente de seus próprios interesses”, disse Mantega numa apresentação no Council of the Americas, um centro de estudos de assuntos latino-americanos. “Temos de reconhecer que há uma desvalorização do dólar.”

Mantega gerou manchetes em 27 de setembro ao dizer que o mundo estava numa “guerra comercial e cambial”, em que as diversos países tentam desvalorizar suas moedas para tornar as exportações locais mais competitivas em relação aos produtos da China.

“A guerra está se intensificando, os mercados não estão respondendo”, disse Mantega.

Já que a reunião do Fundo Monetário Internacional em Washington no último fim de semana não conseguiu um acordo sobre o câmbio, Mantega acredita que o encontro do G-20 gere mais resultados. O ministro crê que ali se pode obter algo parecido com o Acordo Plaza de 1985, quando ministro da fazenda dos EUA, Japão, Alemanha Ocidental, Fraça e Grã-Bretanha, reunidos no Hotel Plaza em Nova York, acertaram uma desvalorização do dólar em relação às moedas alemã e japonesa.

O governo chinês tem sido amplamente criticado por evitar que a moeda local, o yuan, flutue livremente. Os críticos dizem que, sem os atuais controles, a moeda subiria de valor. Isso, por sua vez, pressionaria exportadores chineses a aumentar seus preços, o que, na visão dos mesmos críticos, equilibraria o comércio mundial. O Brasil, que tem engrossado o coro dos que acusam a China de ter uma política cambial injusta, tem visto sua moeda subir de valor em relação ao dólar e isso virou um contratempo para o importante setor exportador nacional.

O governo chinês, em linhas gerais, argumenta que a valorização súbida do yuan causaria danos à economia da China que acabariam prejudicando o mundo todo. O yuan subiu 2% ante o dólar desde setembro.

A irritação tem sido forte em vários países, muitos dos quais grandes economias que têm tido dificuldade para recuperar um ritmo de crescimento sadio depois da crise financeira.

Dia 15 de setembro, o Japão interveio no câmbio pela primeira vez em mais de seis anos, ao vender estimados 1 bilhão de ienes para tentar conter a valorização da moeda local. O banco central brasileiro também tem comprado dólares regularmente, com o mesmo fim. Colômbia e Peru têm adotado o mesmo expediente.

O Brasil também está taxando investimento estrangeiro para tentar conter outra fonte de valorização do real: o investidor que toma emprestado em países de juros baixos, como Japão ou EUA, e investe em moedas de juros altos, como o real.

Segundo a firma de dados de mercado americana EPFR, investimentos em fundos voltados a renda fixa de mercados emergentes subiu quase US$ 40 bilhões de janeiro a setembro, enquanto nos primeiro nove meses de 2009 só subiram US$ 700.000.

Semana passada, o governo aumentou de 2% para 4% o IOF sobre investimentos estrangeiros em renda fixa.

O problema tem sido sentido em outros países em desenvolvimento. Ontem, a Tailândia restituiu um imposto de 15% sobre rendimentos de investimentos estrangeiros em títulos do governo.

Em todos os casos, a grande vítima da valorização cambial têm sido as exportações.

Segunda-feira, um grupo de empresários da Colômbia publicou uma carta aberta pedindo ao governo e ao banco central que façam mais para reduzir o avanço do peso, que já havia subido 13% ante o dólar este ano.

Em sua apresentação ontem, Mantega defendeu uma revisão das políticas fiscais que constituem o que ele chamou de “um abuso de valorização”

Em sua opinião, os pacotes de estímulo que as maiores economias lançaram durante o pico da crise financeira “foram retirados de maneira prematura”. Ele pediu que esses países desenvolvam políticas fiscais que aumentem a demanda nacional. “Só assim se poderá regressar aos limites [de crescimento] de antes da crise.”

“Os americanos só estão pagando suas hipotecas, não estão comprando (…) O comportamento do consumidor é muito ruim e o desemprego nos EUA continuará crescendo”, advertiu Mantega.

A crítica condiz com uma parte da oposição ao governo Barack Obama. Mas um grupo cada vez maior de críticos acha que o governo americano, ao contrário, já gastou demais, criando um déficit que será difícil pagar e pode enfraquecer ainda mais o dólar no futuro.

Quanto a seu próprio governo, o ministro brasileiro disse que “o Brasil tomará as medidas necessárias” para conter o câmbio, mas garantiu que já “fez a sua parte” e não precisa implementar mais estímulos fiscais.

A expectativa dentro e fora do governo é de que a economia cresca em torno de 7% este ano.

Mantega argumentou que o consumo interno no Brasil está crescendo o suficiente para se tornar mais importante que as exportações para o desempenho geral da economia.

Ainda assim, disse que o governo não permitirá “uma valorização excessiva do real” que prejudique a produtividade.

Segunda-feira, o Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento informou que o superávit comercial brasileiro somou US$ 14,4 bilhões em setembro, frente a US$ 22 bilhões no mesmo mês de 2009.

Em resposta a perguntas de repórteres, Mantega disse que o governo ainda deve “esperar um pouco mais” para avaliar o efeito da alta do IOF sobre investimento estrangeiro e que disse dependerão as ações futuras.

“Não anunciamos medidas cambiais com antecedência” porque isso poderia ter efeito adverso, disse o ministro.

“Estamos observando os mercados; se não se estabilizarem, daremos outros passos”.

Em setembro, as reservas de moeda estrangeira do Brasil, que engordam com as compras de dólar pelo Banco Central, chegaram a US$ 275 bilhões………………….

Luis Nassif

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