Crítica ao artigo de Lara Resende “Além da conjuntura”

Por Rui Daher

Não devemos mais perseguir o crescimento econômico?

Do Blog do Rui Daher, Terra Magazine

Preparem-se, mas coincidentemente com a época do ano, uma nova estrela-guia se mostra nos céus da economia.

Não sei se como Belchior ou Gaspar (Baltazar, por certo, não), o economista André Lara Resende surge nas páginas da última edição do suplemento Eu e Fim de Semana do “Valor” para anunciar que nada será como antes.

Se o leitor quiser colocar nesse “antes” a pregação neoliberal que Resende tanto defendeu, sinta-se a vontade. Ele não reclamará. Hoje, está “Além da conjuntura”, título do seu longuíssimo artigo.

Para o bem e para o mal, junto a outros economistas, Resende foi o responsável por alguns rebentos econômicos do país. Entre eles, os Planos Cruzado e Real.

Agora, escudado no mote ambientalista de que o crescimento econômico acelerado e indefinido compromete a sanidade e os recursos naturais do planeta, aproveita para repassar uma agenda, no mínimo, suspeita.

Antes, porém, de pedirmos que o mundo pare, não para Resende e seu grupo descerem, mas para que nele mantenham exclusividade sobre seus recursos, tentarei resumir o pensamento.

Tarefa hercúlea para este revoltado do MSF – Movimento dos Sem Feriados. O texto tem dez vezes mais caracteres que a média do que costumo aqui publicar.

Em estudo recente, o economista norte-americano Robert J. Gordon, professor da Northwestern, pergunta se o rápido crescimento dos últimos séculos pode ser indefinidamente mantido. Conclui que não há garantia de que este seja um processo contínuo e permanente.

É aí que bebe Resende, e penso que cai, quando contesta o fato de que governos e governantes centram-se no crescimento econômico, se democráticos para ganharem eleições, se ditatoriais para se perpetuarem no poder.

Pergunto: como não fazê-lo diante da manchete de hoje, da Folha de São Paulo? ”Renda per capita do país tem queda após ‘pibinho’”?

Até meados do século XVIII, o crescimento só se dava pelo aumento da população.

A partir daí, a teoria neoclássica explica. No curto prazo, aos países, bastaria aumentar as taxas de poupança e investimento, que no longo prazo a acumulação dos fatores de capital, trabalho e progresso tecnológico, completaria o trabalho.

Para as desigualdades, esperava-se convergência das nações mais pobres para as mais avançadas, que haviam conquistado suas posições com avanço tecnológico e produtividade do trabalho, através da educação.

A velocidade para a bem aventurança dependeria, ainda, da capacidade de poupança de cada país. A lição de casa.

Bem, segundo eles, tudo isso está em fase de esgotamento.

É impossível comparar a intensidade da última revolução tecnológica, a partir dos anos 1960, com base em informática e internet, das duas anteriores, com a introdução do motor a vapor e das estradas de ferro (1750-1830) e das eletricidade e água encanada, e o motor a combustão interna (1870-1900).

Aqui, tomo Resende literalmente: “A dificuldade de crescer, que hoje aflige todas as economias centrais, não é uma dificuldade circunstancial, decorrência de um acidente de percurso como a crise financeira de 2008, mas sim o resultado de uma desaceleração estrutural no ritmo do progresso tecnológico”.
Mesmo? Ou apenas assim se livra a cara dos mercados financeiros, travestindo de fim do mundo traquinagens da falta de regulamentação?

Chegamos, mas logo caindo fora, aonde Resende quer chegar:

“Infelizmente, numa atitude míope, em vez de aumentar a taxa de poupança e de investimentos públicos, optou-se por aumentar os gastos correntes do governo, por dar estímulos ao consumo privado, toda vez que o crescimento de curto prazo dava sinais de perder o fôlego”.

Que a forma como o mundo fez crescer a renda de parte de sua população, nos últimos séculos, foi realizada sem cuidar do esgotamento de recursos naturais e na contramão dos alertas da ciência e de grupos ambientalistas, não há mais dúvida. Luta-se para minorá-la.

Que as nações pobres estão longe de alcançar as avançadas, esfomeadas por sistemas políticos ditatoriais e perversos, precisando de crescimento e distribuição de renda, não há mais dúvida.

Como indubitável, que a nova estrela-guia de Resende deve-se aos últimos dez anos, quando esteve mais perto do poder financeiro do que do político.

Luis Nassif

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