Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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De agricultura, namorados e Santo Antônio, por Rui Daher

Santo Antônio de Lisboa

De agricultura, namorados e Santo Antônio

por Rui Daher

adaptado de CartaCapital

Escrevo de Palotina, Paraná. Na capital do estado está preso, sem provas, através delações premiadas em quermesses judiciais permissivas a eleições fraudadas, o melhor presidente e maior estadista que o Brasil teve em tempos recentes.

No dia 12 de junho, participei de um dia de campo agrícola, em que produtores rurais e profissionais inovadores tecnológicos trocaram conhecimentos. No mesmo giro da roda, contatos, conversas, opiniões, e o caderninho de notas, como julgava essencial o jornalista e escritor Ivan Lessa. Ouvir muito mais, anotar, falar o essencial, então, escrever.

Poucas foram as menções políticas. Eu sabia onde estava e os muitos amigos, sabem, há décadas, que minhas opções não são as deles. Respeitamo-nos, fazemos silêncio, e oramos juntos até começar o tradicional almoço sulino. Bão demais!

Já passou, os enamorados trocaram presentes, mas a exuberância do volume de soja colhida, o milho prestes ao debulho e recolhimento em estruturas próprias, de cooperativas, ou em condomínios de armazenagem (quem para acreditar em investimento público?), esperam, de olho em Chicago, o momento e os destinos da comercialização.

Foram mais de 300 pessoas que se mostraram felizes com o que fazem. Se ouvi falar em crise? Não. Um pouquinho sobre os transportes e a certeza de que garantem dedicação irreversível ao País.

Como disse acima, passou. Na região, embora denegridores assim pensem, pelas características das culturas aqui plantadas, as propriedades não são “latifundiárias”, mas a maioria médias e pequenas.

Um dia depois, veio o 13 de junho, número politicamente expressivo, mas nossa caravana ficou entre Lisboa e Pádua, na companhia de Santo Antônio. Saíamos da troca de presentes apaixonados, para os da sobrevivência, na forma de alimentos, sobretudo os pães. E a extensão dos campos de trigo recém plantados.

Antônio nasceu perto do ano 1200. Um dia antes de mim, 15 de agosto, só que 745 antes. Talvez, daí a minha mania de lutar por igualdade e distribuição.

O oeste do Paraná já foi um dos baluartes da produção brasileira de trigo, o pão de Santo Antônio. Ora a área fica estagnada em outras horas até declina. É muito suscetível aos eventos climáticos. Perigoso arriscar. Pensem: com sorte de clima, naquela região, poderíamos colher num prazo de menos de um ano, três safras de grãos: soja, milho safrinha e trigo.

Quero saber em que país do mundo isso seria possível?

Contam as calendas: “Antônio comovia-se tanto com a pobreza que, certa vez, distribuiu aos pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro ficou em apuros, quando, na hora da refeição, percebeu que os frades não tinham o que comer: os pães tinham sido roubados. Atônito, foi contar ao santo o ocorrido. Este mandou que verificasse melhor o lugar em que os tinha deixado. O Irmão padeiro voltou estupefato e alegre: os cestos transbordavam de pão, tanto que foram distribuídos aos frades e aos pobres do convento”. (Revista “Grande Sinal”, Frei Alberto Beckhauser)

Vendo a abundância do que aqui se produz, o interesse não apenas pelo plantio de grãos, mas convivendo com hortaliças, frutas, plantas forrageiras, reafirmo a minha confiança na integração entre a agropecuária de exportação e a voltada à alimentação para a segurança alimentar dos brasileiros.

Com um senão. É necessário haver mercado interno. Povo empregado, trabalhando ou, em tempos de crises provocadas pela ganância do 1% rentista (exagerei?), quando não, sem medo do Meirelles, apoiado em programas sociais, para que todos possam se nutrir de forma adequada.

Produção existe, dá e sobra para alimentar-nos e sermos, também, o Santo Antônio do planeta.

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

3 Comentários

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  1. A AGROPECUÁRIA NOS MOVE

    Caro sr., se pelo menos conhecessemos a história do nosso país, do estado do PR. Da Reforma Agrária que transformou o estado em milhares de pequenas e médias propriedades. Propriedades que eram somente Café até os anos 80. Depois Trigo e Algodão. Algodão Brasileiro  que o ‘iluminado’ FHC destruiu com abertura de mercado, sem reciproca, ao algodão chinês. Nossos ‘Gênios’ de Academicismos e Ilusões. Então Milho, Sorgo, novamente Algodão, Laranja, Soja, Cana de Açúcar. E Apucarana, Londrina, Maringá, Guarapuava, Cianorte, Cascavel, Umuarama, Toledo,…. CURITIBA !! Erros e tropeços houverão. Onde que não houve? Mas se focassemos no sucesso, na realização, no projeto e trabalho. Que país !!! E tudo isto apenas com Agropecuária. Que Nação não teremos ao desenvolver todos os outros Potenciais que são soberanamente nossos? Quanto a Santo Antonio, minha Filha nasceu em frente a Igreja de Santo Antonio. Onde fui agradecer às 2 da manhã. Não precisava de mais nada para ser meu Preferido. E seus pâezinhos.( e olha que tenho uma queda por São Paulo. E São Judas. E Bom Jesus de Pirapora. E Nossa Senhora da Candelária,…) Fantástica Igreja Católica que exprime toda nossa Latinidade. Mesmo quando fala mais em Politica que em Fé e pensa que Comunismo é religião) Mas o perdão é nosso Alicerce. E Viva Santo Antonio. E São João. E São Pedro. E o PR. E todos que trabalham e querem melhorar este país. abs.  

  2. Zé Sérgio,

    que bom ouvir de você essa “louvação a quem merece, deixando o que é ruim de lado”. Confesso, mais uma vez, ter ficado impressionado, tanto nas zonas rurais como nas urbanas. O mais pobre produtor rural é rico perto do proletariado que anda perto de nós. O curioso, nem tanto assim, é que tanto em CartaCapital como aqui, saber disso é um tema menor. Abraços

    1. Zé….

      ‘Tema menor’ não exprime sua coluna, nem sua área de atuação, muito menos a Agropecuária. Mas a ignorância e desinformação tupiniquim. Mostra claramente porque um país multibilionário é formado de miseráveis. Em todos sentidos, não apenas financeiro. E miséria não é pobreza. Miséria é doença. Patativa do Assaré ou Mestre Vitalino sempre foram pobres. A maioria do Brasil não os conhecem? Também à sua Agropecuária. (P.S. Faltou dizer do Café que retornou, do Girassol, da Banana, Palmito ou Chá na Serra do Mar, além de importante criação de bois, gado leiteiro, ovinos, porcos e frangos. É fraco este Paraná? É o Brasil. abs.

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