Delfim analisa o cenário econômico

Do Valor

Para Delfim, é preciso controlar o pessimismo

Sergio Lamucci | De São Paulo
09/03/2011

Um crescimento entre 4,5% e 5% ainda é possível neste ano, diz o ex-ministro Antonio Delfim Netto, contestando as avaliações cada vez mais frequentes dos economistas de que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) ficará entre 3,5% e 4%. Para que esse ritmo seja alcançado, contudo, é importante evitar o fortalecimento de expectativas pessimistas para a expansão do PIB e para inflação, analisa Delfim.

“No momento em que as pessoas acreditarem que haverá uma redução dramática do crescimento, você primeiro mata o espírito animal do empresário. Depois, começa a colocar dúvidas sobre o emprego e, em seguida, sobre o consumo. Aí se instaura um circuito perverso”, afirma Delfim, para quem “um crescimento de 4,5% a 5% em 2011 ainda é um número palpável”.

Delfim não vê como inevitável uma inflação na casa de 6% neste ano, como apontam as previsões de boa parte dos analistas. Segundo ele, um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dessa magnitude, bem acima do centro da meta perseguido pelo Banco Central, de 4,5%, “não está dado”. O grosso da pressão sobre os preços pode já ter ocorrido, diz Delfim, que considera “muito pouco provável uma aceleração”, a não ser que surja alguma coisa nova. ‘Hoje nós estamos mais ou menos protegidos da alta dos preços do petróleo, porque somos autossuficientes, embora existam limites.”

EleoEle observa ainda que há uma relação de “um para um” entre a valorização dos preços das commodities e a desvalorização do dólar no mercado internacional. Se a moeda americana voltar a se fortalecer, num cenário em que o crescimento dos EUA ganha força e há alguma mudança na política monetária americana, as cotações das commodities podem cair. Isso afetaria as exportações brasileiras de produtos primários, mas tiraria uma fonte expressiva de pressão sobre os preços.

Nesse quadro de incertezas, Delfim rechaça os que prescrevem a necessidade de elevar os juros a 13% ou 13,5% ao ano para combater a inflação. “Quem está falando isso não sabe nada. É como se eu dissesse que um juro de 9% é ótimo. É simplesmente uma opinião pessoal, desinformada. Não há nenhuma informação para você chegar a esse nível de taxa de juros.”

Um outro ponto importante, segundo ele, é que ainda não se sabe exatamente qual é o poder de substituição em relação aos juros que têm as medidas macroprudenciais adotadas em dezembro pelo BC, que contribuíram para restringir o crédito. É mais um fator a ser levado pela autoridade monetária para fixar os juros, aponta Delfim. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou os juros em 0,5 ponto, para 11,75% ao ano.

O ex-ministro vê com bons olhos o corte de R$ 50 bilhões no orçamento definido pelo governo neste ano. Para ele, apesar de algumas inconsistências, o programa tem como grande mérito apontar para um crescimento das despesas da União na casa de 3%, descontada a inflação, um ritmo inferior ao da expansão do PIB. “Não dá para chamar a política fiscal de contracionista, mas pelo menos ela não será estimulante.” É um ponto importante, que ajuda a tirar pressão da política monetária. E, com gastos não financeiros do governo avançando a um ritmo equivalente a três quartos do PIB, abre-se espaço para o governo investir mais.

Para Delfim, esse desenho de política fiscal, em que as despesas crescem menos que o PIB, deve prevalecer nos próximos anos. Com essa atitude mais sólida na condução das contas públicas, o governo dá musculatura para o BC caminhar na direção de igualar os juros domésticos aos internacionais, algo fundamental para eliminar os ganhos de arbitragem obtidos pelos investidores com a diferença entre as taxas internas e externas, que provocam a valorização excessiva do câmbio. “O governo tem que entender que ele só tem poder sobre a política fiscal, e ela tem que ser feita de modo a ajudar o BC a igualar o juro interno ao externo.”

E por que os economistas de mercado fazem tantas críticas ao programa de ajuste fiscal anunciado pelo governo? “A questão é que o mercado está em campanha, apavorado com a possibilidade de que o ajuste dê certo, porque daí o juro cairá. O mercado está em pânico, essa é que a verdade”, diz o ex-ministro que elogia a determinação da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, de “fazer mais com menos”. “Isso é o que me deixa entusiasmado com o governo, porque ataca o problema de gestão.”

Delfim faz reparos, porém, ao mecanismo de correção do salário mínimo, que define o reajuste pela inflação acumulada em 12 meses mais a variação do PIB de dois anos antes. “Ela tem todos os inconvenientes de todo tipo de indexação, sempre um bombom no curto prazo e uma pílula de veneno no longo.” Por essa regra, o salário mínimo, em 2012, subirá de 12% a 14%, contribuindo para manter as expectativas de inflação em níveis elevados, diz ele, para quem o governo deveria apresentar um projeto para “liquidar com a indexação na economia”, inclusive com a que prevê juros reais de 6% para a caderneta de poupança. Com o fim da indexação, a regra do mínimo também “iria para o buraco.” 

Luis Nassif

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