Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Diagnóstico errado aprofunda a recessão, por Andre Motta Araujo

Na crise de 2008 o Estado americano injetou rapidamente US$ 708 bi para resgatar a solvência de bancos e empresas industriais, ou seja, foi o DINHEIRO PÚBLICO que acabou com a crise SEM CAUSAR INFLAÇÃO

Na última terça feira, 16 de julho, no programa Entre Aspas, de Mônica Waldvogel na GLOBONEWS, dois economistas debateram o rumo da economia brasileira. Um dos debatedores foi Ana Carla Abrão e o outro um economista da LCA, consultoria de Luciano Coutinho.

A economista Ana Carla não vê nenhuma possibilidade de aplicação de políticas públicas para a retomada da economia, com uma recessão prolongada atribuída ao governo Dilma Rousseff. O economista da LCA apresentou uma visão menos ortodoxa e timidamente propôs algum tipo de política pública de estímulos fiscais.

O impressionante na visão de Ana Carla, que se coloca no “mainstream” dos economistas neoliberais de mercado, é a cegueira absoluta sobre outras opções de combate à recessão aplicadas no passado e no presente em outros países, onde há um consenso geral de que sem ação de Governo não se sai de recessão e muito menos de depressão.

Esse consenso se manifesta por uma necessidade historicamente comprovada de forte ação governamental na POLÍTICA MONETÁRIA, onde se estimula a economia com AÇÃO DO ESTADO USANDO DINHEIRO PÚBLICO EMITIDO PARA ESSE FIM PELO BANCO CENTRAL, política que tem o nome de QUANTITATIVE EASING, já aplicada há muito tempo e hoje evoluindo para um nome mais abrangente: MODERN MONETARY THEORY, calcado em experiências reais.

Na mega crise financeira de 2008, nos EUA, foi o Estado americano que injetou rapidamente US$ 708 bilhões para resgatar a solvência de bancos e empresas industriais, quer dizer, foi DINHEIRO PÚBLICO que acabou com a crise SEM CAUSAR INFLAÇÃO, o que apenas documenta uma experiência empírica dos anos 30, o combate à Grande Depressão nos EUA pelo programa New Deal e o fim da mesma Grande Depressão na Alemanha pelas encomendas bélicas gerenciadas financeiramente pelo Ministro da Economia Hjalmar Schacht que, em dois anos, liquidou com um desemprego de 40%, pagando as encomendas com quase-moeda: os MEFO bonds, uma espécie de bônus rotativo e financiando as importações pelos famosos “marcos de compensação”, do qual o Brasil foi um dos maiores participantes.

Portanto, o combate à recessão e à depressão, que diferem apenas em grau, PODE E DEVE ser operava por AÇÃO DE GOVERNO, porque o MERCADO JAMAIS VAI TER O PODER de empreender essa tarefa.

O que parece de basilar lógica, comprovada por experiência histórica e agora novamente por elaboração teórica representada pela MODERN MONETARY THEORY, construção acadêmica promovida nos Estados Unidos e Inglaterra com os estudos sobre o resgate da crise financeira de 2008 e adicionalmente sobre os programas de QUANTITATIVE EASING nos EUA, União Europeia e Japão.

Ainda falta uma outra análise teórica sobre o manejo da política monetária na China, potência econômica com especial perícia na manipulação da MOEDA PARA O DESENVOLVIMENTO. Especialmente com o uso da taxa de câmbio para promover exportações, a moeda chinesa NÃO é de livre flutuação, é determinada pelos interesses do Estado chinês em crescimento da economia.

Portanto, está à vista de todos várias experiências no uso da POLÍTICA MONETÁRIA para sair da recessão que, sem uma ação de Governo, será permanente até a Depressão profunda, com estagnação econômica que desmontará o País por uma geração.

A RECESSÃO QUE SE RETROALIMENTA

A recessão, deixada livre para o mercado resolver, tem uma dinâmica de retroalimentação. A cada trimestre, mais fábricas e lojas não conseguem sobreviver por falta de demanda e fecham, promovem mais desemprego, que por sua vez provoca menos consumo e mais fechamento de fábricas e lojas, em um círculo vicioso infernal que leva um País ao abismo.

Nada disso comove os neoliberais que, até o fim dos tempos, acreditam, como ato de fé, que o mercado resolve as crises, crença que já foi derrotada na década de 30. Mas a fé é cega. Não entra na cabeça desses economistas neoliberais brasileiros, teimosos, fechados, limitados, infensos a outras noções de economia, que fujam da ultra ortodoxia da “meta de inflação” como o ápice da política monetária, sem outras ferramentas que possibilitem vencer uma recessão de cinco anos por ação de Governo, sem depender apenas de intenções de mercado, que são inconfiáveis, erráticas, imprevisíveis, dependendo de humores e variáveis externas caóticas desconhecidas e QUE JAMAIS DARÃO CABO DA RECESSÃO, por si só.

Para justificar sua teimosia, esses economistas nada modernos jogam a culpa da recessão em um governo do passado e que já deixou o poder há tempo suficiente para os sucessores implantarem outra política e dar fim à recessão.

O Governo Dilma cometeu vários e sérios erros de política econômica, mas esses erros não são a CAUSA da recessão. Seriam sim causas de inflação, porque expandiram gastos públicos, MAS não de recessão.

A recessão foi causada por erros de política monetária, que vem sendo comandada desde o Governo FHC por economistas neoliberais de mercado com vinculação no sistema financeiro. O sistema de “metas de inflação” como base da política monetária vem desde a gestão Armínio Fraga e é o Banco Central a raiz da recessão e não a política econômica e fiscal do Poder Executivo.

O Brasil se ISOLA, assim, do mundo e das correntes mais modernas de pensamento econômico. A CORRENTE CENTRAL DO PENSAMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO, expressa pelos economistas midiáticos, como Ana Carla Abrão, os únicos que têm espaço na mídia, acredita piamente que nada se pode fazer para sair da recessão a não se esperar pela bondade do mercado que “trará investimentos depois de feitas as REFORMAS ESTRUTURANTES”, quer dizer, se o mercado for bondoso, NÃO SE SAI DA RECESSÃO NEM EM DEZ ANOS.

MAS O MERCADO NÃO TEM NENHUM MOTIVO PARA INVESTIR NO BRASIL, EXATAMENTE PORQUE ESTAMOS EM RECESSÃO E NÃO HÁ DEMANDA PARA JUSTIFICAR INVESTIMENTOS. Então, nessa linha de mediocridade, JAMAIS O BRASIL SAIRÁ DA RECESSÃO.

No entanto, essa é a linha expressa cada vez com menos entusiasmo pelos Sardenbergs, João Borges, Mervais, pior ainda, essa é a linha de Paulo Guedes, um neoliberal antediluviano, de museu, sem propostas que não sejam as mais medíocres, como liberar contas do FGTS, sem projetos, que não sejam privatizações do que resta do patrimônio nacional mais estratégico, o que não gerará um único emprego, ao contrário, irá gerar uma onda de novos desempregados, tipo Eletropaulo que, ao ser privatizada, diminuiu a folha de 27.500 empregados para 3.800, ou uma Vale, que depois de privatizada deixou de inspecionar represas. A privatização não criará empregos e não tirará o País da recessão.

Não há mais outros projetos no Programa Paulo Guedes além de privatizações e concessões. Nem uma coisa e nem outra farão o Brasil crescer, apenas farão o Brasil voltar a Era Colonial.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

11 Comentários

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  1. Dos fatores mais recorrentes perante as crises em sistemas dinâmicos, as quais levaram a derrocada de muitos ao longo da história humana, é a concentração (riqueza ou poder). Como os sistemas tendem à organização, ao equilíbrio, a formação de crises costuma se dar quando as forças antisistêmicas, como a concentração que age minando o fluxo, passam a assim interferir no desenvolvimento dinâmico do sistema (ordem). Pois a cada dia o planeta vai sendo envolvido por esta gana concentradora e os países começam a se resguardar. Teve aumento nas notícias de que países de porte como China e Rússia não param de comprar ouro. É por que o metal está subvalorizado ou é por que o dinheiro que hoje em maior parcela, já está sem lastro e é apenas e exageradamente “virtual” e está prestes a ruir? É só gerra comercial, ou preparam-se para o pior cenário?

    https://br.sputniknews.com/economia/2019042413748043-por-que-cada-vez-mais-paises-retiram-reservas-ouro-eua/

    https://br.sputniknews.com/economia/2019040813632471-china-compra-ouro-rservas-russia/

    https://br.sputniknews.com/economia/2019052213927744-russia-reservas-ouro-compras-eua-dolar/

    https://br.sputniknews.com/economia/2019012213159736-apostando-barras-porque-russia-compra-tanto-ouro/

    https://br.sputniknews.com/economia/2019021313303610-china-aumenta-reservas-ouro/

  2. Um economista neo liberal tem interesses, não e fé cega. Tem olho nos seus investimentos e nos seus lucros. Assim derrubar os Estado, aumentar o desemprego, etc. Sempre e considerado para seus ganhos.

  3. “…Então, nessa linha de mediocridade,…” Caro sr. não aprendemos, por que não foram expressamente combatidas e divulgadas a tal mediocridade e aberração das Privatarias. Depois de FHC, bastaram alguns anos para voltarmos à linha da mediocridade. E pensamos que ficariam apenas nos desastrosos e medíocres anos de Tucanistão. Mas não !!! Não aprendemos ou fingimos não aprender, com a enxurrada de dinheiro público que o sr. cita nestes anos de 2008. Na salvação da Economia NorteAmericana e Gigantes como a GM com “Estatização” destas Empresas. O inacreditável é que as correntes políticas e partidárias no Brasil, parecem não querer usar tais argumentos. Não é que parece, não o fazem. AntiCapitalismo de Estado. 9 décadas onde o fundo do abismo não chega nunca. É esta página que precisa ser virada e lamentada. Uma Nação formada sobre um baú de ouro e reclamando por passar fome. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

  4. Caro André,
    Apenas uma pergunta é capaz de destruir toda a crença de economistas mercadeiros, como esta que você assistiu na GN: se o governo não tem nada que fazer para tirar o país desta recessão, que medidas Dilma foi capaz de usar para cria-la? Uma simples multiplicação por -1 não deveria ser suficiente?
    O que estes patifes não relatam, é que trabalharam arduamente na construção da tal “tempestade perfeita”. Ninguém mais lembra dela, mas não se falava de outra coisa desde o primeiro mandato de Dilma. Os geniais que criam a tal tempestade, não tiveram a criatividade e clarevidência para bolar as operações de resgate?

  5. Prezado André
    Sempre fomento seus artigos, sua erudição é uma oportunidade para aprender. Sempre vou verificar o que vc escreve, para avaliar se ; o que irei comentar, está correto ou não . I invariavelmente, sua opinião é acertada.
    Sou engenheiro do governo do estado, e observo que, em licitações de 700.000 reais, há uns 5 anos atrás, apareceriam 3 interessados.
    HOJE, em serviços de 70.000 reais, temos 10 caras brigando com faca para pegar o serviço. E o pior é que os panacas não percebem que Bozo (um boneco do mercado), que faz o que p mercado manda; vai enterra -los todos

  6. O Paulo Guedes e os economistas que estão no governo sabem muito bem o que estão fazendo. A idéia é transformar o Brasil numa “grande roça” de cana, soja, gado, etc.
    Neo colonialismo e neo escravidão.
    Não podem dizer abertamente isto, então inventam mentiras.
    O sadenbergue e a Miriam leitão, a sebosa, sabem. A maioria dos jornalistas da grande mídia sabem. A maioria dos economistas também sabem, mas difundem a mentira. Alguns economistas são burros e difundem a burrice e a mentira que, por sua vez, chega no cidadão comum e o emburrece, o entorpece.
    Exemplo maior disso são os manifestoches e os bolsominions.
    A economia é escrava da política.
    E a política brasileira agora é está. Aqui neste país “tropical e abençoado por Deus” está “tudo dominado”. É isso que a burguesia deseja.
    Daqui a 50 anos dirão que o problema foi o PT.
    Sem ironia, ouvi um imbecil me dizer que o problema do país tinha duas letras: JK. Isso. Quase desmaiei de vergonha. É nesse nível, nessa toada que se manipula tudo.
    Estes “jornalistas” da grande mídia merecem cadeia.
    Mas vão continuar lá infernizando o país. Demonizando quem deseja o progresso do país e o bem comum.

    1. GV ‘inventou’ a Previdência, que no Governo JK, está transbordando cofres públicos (muita receita em contribuições e praticamente nenhuma aposentadoria em cerca de 20 anos) Toda esta ‘hecatombe’ de dinheiro foi enterrada em Brasilia. E no financiamento tipo Ditadura Caudilhista AntiCapitalismo, da nossa “Abertura de Mercado” com Dinheiro Público (Abertura de Mercado, Investimentos Estrangeiros com injeção de dólares, apenas atrelado à segurança de garantia institucional do Estado Brasileiro. Apenas isto. Entrada de concorrentes estrangeiros que elevariam o padrão da economia e das nossas empresas,…É familiar este tipo de imbecilidade ou você crê que é algo novo da Mediocridade Tucana e de Paulo Guedes? Nosso Capitalismo sem Capitalistas, Empresas sem Empresários. AntiCapitalismo de Estado ideologicamente instituído desde 1930 ) JK, fantoche do parente do Caudilho, Tancredo Neves e a República de Juiz de Fora, que retorna ao poder juntamente com o golpe. A vanguarda mineira que dava apoio ao Governo Paulista. ‘Política do Café com Leite’, também é afastada. MG se torna isto que conhecemos). Pobre aís rico. Mas de muito fácil explicação.

  7. E quem disse que eles desejam sair da recessão? O que querem é destruir/desmontar o país e vender as peças/sucatas a preço de banana podre. como diz o Sidnei: ” transformar o Brasil numa grande roça”. No quintal, principalmente, dos USA.
    e o pior é isso, todo mundo sabe o que está acontecendo…
    Enquanto isso: não há fome no Brasil, não há desmatamento, o cinema brasileiro é pornografia pura e super “ideológico”(é, eles gostam de redefinir conceitos), depois da reforma da previdÊncia o país volta a crscer (claro, aí eles vão dizer que na verdade só voltará a crescer depois da reforma tributátia, e depois que, não, só vai voltar a crescer depois que trocarmos o português pelo inglês: o fritador de ham,burguer é um grande exemplo: vai falar inglês bem lá na China (ops! na China, não!)

  8. E quem disse que eles desejam sair da recessão? O que querem é destruir/desmontar o país . como diz o Sidnei: ” transformar o Brasil numa grande roça”. No quintal, principalmente, dos USA.
    e o pior é isso, todo mundo sabe o que está acontecendo…
    Enquanto isso: não há fome no Brasil, não há desmatamento, o cinema brasileiro é pornografia pura e super “ideológico”(é, eles gostam de redefinir conceitos), depois da reforma da previdÊncia o país volta a crescer (claro, aí eles vão dizer que na verdade só voltará a crescer depois da reforma tributátia, e depois que, não, só vai voltar a crescer depois que trocarmos o português pelo inglês: o fritador de ham,burguer é um grande exemplo: vai falar inglês bem lá na China (ops! na China, não!)

  9. Enquanto isso: não há fome no Brasil, não há desmatamento, o cinema brasileiro é pornografia pura e super “ideológico”(é, eles gostam de redefinir conceitos), depois da reforma da previdÊncia o país volta a crescer (claro, aí eles vão dizer que na verdade só voltará a crescer depois da reforma tributátia, e depois que, não, só vai voltar a crescer depois que trocarmos o português pelo inglês: o fritador de ham,burguer é um grande exemplo: vai falar inglês bem lá na China (ops! na China, não!)

  10. Como é comum, muito boa análise do André.
    Sob um ponto de vista sério, interessado no desenvolvimento do Brasil como nação.
    Não como uma grande fazenda agro-mineral.
    Administrada, loteada, exlplorada e vendida por capatazes e corretores locais a seus clientes de fora.
    O único problema de uma análise séria sobre este país, infelizmente,
    É que eles não estão errados ou equivocados.
    Eles estão “certos”, pois sabem o que estão fazendo.
    Porque eles não são sérios.

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