Economia: os três grandes mistérios de 2012

Por Assis Ribeiro

Os três mistérios de 2012

Armando Castelar, Correio Braziliense – 26/12/2012 

Como em todo fim de ano, nestes próximos dias vamos refletir sobre o ano que passou. Muitos pensarão em como o ano passou tão rápido. Os mais místicos vão pensar no calendário maia e por que o mundo não acabou semana passada.

Os economistas de profissão, imagino, vão refletir sobre os três grandes mistérios de 2012. Primeiro, por que o mercado de trabalho teve desempenho tão bom em ano em que a produção foi tão mal? Segundo, por que, apesar de o PIB ter crescido 1% ou menos, a inflação foi tão alta, de quase 6%? Terceiro, por que os estímulos monetários, fiscais e creditícios dados pelo governo fracassaram tão redondamente em acelerar o crescimento?

A taxa de desemprego em novembro foi a segunda mais baixa da série histórica do IBGE, iniciada em 2002, e a menor já registrada para um mês de novembro. Nos primeiros 11 meses do ano, o emprego cresceu 2,1% em relação ao mesmo período de 2011, e a taxa de desemprego foi meio ponto percentual mais baixa. Já o PIB, nos três primeiros trimestres do ano, aumentou apenas 0,7%, enquanto a produção industrial caiu 2,8% nos 10 primeiros meses do ano, nos dois casos em relação ao mesmo período de 2011.

Uma explicação para o aparente paradoxo é que as empresas estariam otimistas em relação ao futuro e, por isso, mantendo trabalhadores ociosos, esperando que a economia vá se aquecer. Isso para não correr o risco de não encontrar trabalhadores qualificados no mercado quando necessário. Mas como conciliar essa explicação com a queda de mais 3% do investimento este ano? Empresas otimistas não param de investir.

Uma explicação mais relevante parece ser o fato de que setores intensivos em mão de obra, como comércio, construção e serviços vêm crescendo mais do que os que puxam a produção para baixo, como a indústria. De fato, em novembro, a alta em 12 meses no rendimento real habitual foi de 10,6% para “serviços prestados a empresas, aluguéis, atividades imobiliárias e intermediação financeira” e 7,2% para construção, mas apenas 1,7% para “indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água”.

Apesar de na média de 2009-12 o PIB ter crescido apenas 2,7% ao ano, a inflação anual ficou em 5,6%. O potencial de crescimento não inflacionário parece ter caído. A expansão desbalanceada que marca a economia brasileira há anos ajuda a explicar por quê. Em especial, por que a inflação de serviços está girando a taxa que é o dobro (8,2% nos 12 meses terminados em novembro) da de bens comercializáveis (4,1%). Com o rendimento médio nominal aumentando 9,2% ao ano em 2009-12 e a produtividade do trabalho subindo apenas 0,6% ao ano, como esperar inflação mais baixa?

O mistério de por que os estímulos dados à economia não surtiram efeito passa pelo aumento da incerteza gerado pelo maior intervencionismo estatal. Mas o desbalanceamento setorial também é parte da explicação: os setores que puxavam o crescimento agora esbarram em um mercado de trabalho apertado, com menor disponibilidade de mão de obra qualificada e salários mais altos, comprimindo as margens. Com isso os estímulos monetários, creditícios e fiscais não estão tendo os mesmos efeitos de anos atrás. Outra razão é a saturação na capacidade de endividamento das famílias, outro aspecto central do padrão de crescimento dos últimos anos.

Como esses mistérios e paradoxos vão se resolver determinará que tipo de desempenho econômico teremos em 2013. Há uma expectativa renovada de que a política econômica expansionista finalmente surta efeito ano que vem, levando o PIB a crescer entre 3,0% e 3,5%. Mas isso não é certeza: essa era a mesma projeção que se tinha para 2012 ao final do ano passado. A aceleração do crescimento vai depender do que ocorrer com o investimento e o ritmo e condições com que forem feitas as concessões de infraestrutura.

É provável, por seu lado, que no próximo ano aumente a preocupação com a inflação, que dá sinais de querer subir. Se a economia de fato acelerar como previsto, podemos nos ver outra vez perto do teto da banda com que trabalha o Banco Central, especialmente se mantida a atual banda cambial e se as isenções tributárias dadas este ano forem revertidas.

Também é possível, porém, que 2013 simplesmente repita 2012: crescimento baixo, mas com o mercado de trabalho indo bem. Isso ajudaria a manter a inflação e as taxas de juros e câmbio próximas ao patamar atual.

Armando Castelar é economista

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador