O desafio da substituição do petróleo

Do Portal Luís Nassif

Do Blog de N Almeida

A Difícil e Pouco Provável Substituição do Petróleo

O objetivo desta discussão é apontar dois pontos nevrálgicos para substituição do petróleo: o transporte, dependente em mais de 90% dele, e a agricultura moderna, também fortemente a ele associado. A situação destes dois setores esclarece, o quanto é gravíssimo o cenário mostrado pelo fenômeno do Pico do Petróleo. A segurança alimentar de quase sete bilhões de indivíduos depende, de uma agricultura movida a petróleo, em áreas distantes dos centros consumidores, e de um sistema de transporte, que precisa do mesmo petróleo, para distribuir a produção nas grandes cidades. Vou arriscar também, algumas previsões, um tanto polêmicas, para o mundo pós-petróleo, em franca decadência energética. A mais polêmica, adianto agora: conheceremos um mundo em decrescimento produtivo.

Já postei aqui neste espaço, sobre as dificuldades de substituição do petróleo no transporte aéreo. A discussão tem o título de “Um teto para a aviação”, lá faço considerações com mais detalhes sobre fontes alternativas de energia para a aviação. O voo do mais pesado que o ar só foi possível, com o advento do motor a explosão interna, a base de hidrocarbonetos líquidos, e assim permanece até hoje, com combustíveis de tal natureza. Os modernos jatos comerciais voam com o chamado querosene de aviação, originado do petróleo. Não há ainda, por exemplo, um bioquerosene para substituir o combustível dos jatos. Há problemas tecnológicos difíceis de contornar, para o emprego de combustíveis sólidos ou gasosos em aviação; os primeiros tem uso restrito aos foguetes balísticos e não fornecem meios seguros para controle da propulsão, os segundos são ultravoláteis e oferecem elevados riscos para aeronaves. Outras fontes energéticas que não sejam matéria combustível são inexequíveis na aviação.

Nos meios de transportes terrestres, a situação altera muito pouco. Também foi só com o advento do motor de combustão interna, com uso de combustível líquido, que o transporte terrestre pode sair dos trilhos de forma eficaz. A máquina a vapor permitiu o desenvolvimento da locomotiva, do trem, mas não foi capaz de permitir o desenvolvimento do automóvel, dos caminhões, dos tratores agrícolas. Estas são máquinas terrestres dependentes do petróleo e grandes consumidoras dele. Só em épocas recentes conhecemos adaptações eficientes delas para o uso do gás, mas com desempenhos limitados, quando comparado ao combustível líquido. A tração elétrica alcança algum resultado nos meios terrestres de transporte, mas está restrita ao uso de trilhos ou a localidades urbanas, não se observa tratores agrícolas ou veículos rodoviários movidos por tração elétrica. Resta ainda considerar que, a origem da energia ofertada para mover veículos tracionados eletricamente está, na maioria dos casos, em fontes de combustíveis fósseis. Das alternativas aos hidrocarbonetos de origem fóssil para uso no transporte, de caráter renovável, temos somente um programa em larga escala no mundo, situado no Brasil. Há dúvidas sobre a capacidade dos biocombustíveis virem a subsituir o petróleo, na escala gigantesca em que este é utilizado no mundo.

Foram os motores a explosão de hidrocarbonetos que permitiram a mecanização da agricultura, na escala hoje praticada, que resultou na intensa urbanização atual com o emprego mínimo de pessoas no campo. Nos países mais avançados, a população economicamente ativa empregada na agricultura oscila, entre um a três por cento do total. Essa agricultura mecanizada responde, pelo grosso da produção dos grãos que alimentam a humanidade. Uma situação de recuo na mecanização agrícola levará, necessariamente, ao emprego mais intenso de mão de obra na agricultura, com revisão das extensões das propriedades exploradas. Países que têm contingentes populacionais ainda com vocação para atividades no campo sofrerão, menor impacto de um previsível e necessário êxodo da cidade para o campo.

A navegação oceânica atual é praticamente toda a base de petróleo. A propulsão nuclear de embarcações ficou restrita ao uso militar. Recentemente, foram desenvolvidos navios com uso de gás natural liquefeito, que têm se mostrado eficientes em alguns aspectos. Se formos mencionar, o uso do carvão para substituir o petróleo nos navios, aí estaremos prevendo um retorno da navegação a vapor. Há ainda a alternativa do emprego de energia eólica, neste caso retornaríamos ao emprego de velas. O declínio do petróleo será o declínio da navegação interoceânica. Esse panorama para o transporte marítmo é muito ilustrativo, pois nos dá uma idéia da situação, a que estranho mundo, a decadência de fontes energéticas nos conduz; ele descortina um cenário de regresso ao século XIX, onde expressões como “embarcar num vapor com destino tal”, muito lidas em obras literárias daquela época, poderão ser de grande atualidade no futuro.

O quadro geral mostra que o petróleo não tem substituto com a sua versatilidade, este é o motivo dele ter assumido a primazia como energético, por ser a fonte mais prática e mais barata. Uma substituição completa é impossível. O recuo do uso de petróleo no transporte implicará, em sistemas menos eficientes e mais caros. O gás natural, que se mostra como um substituto imediato ao petróleo, e o carvão natural, que é o substituto de mais longo prazo, são os dois matérias primas esgotáveis, e se esgotarão mais rapidamente, na medida em que forem empregados, para substituirem o petróleo em decadência. O problema energético da civilização ficaria apenas momentaneamente mitigado, pelo uso de alternativas também não renováveis ao petróleo, e de uso menos eficiente, diga-se. Resta agora discutir se as fontes não renováveis terão essa capacidade de substituir essas três fontes energéticas. Lembrem-se que o combusível nuclear também é matéria prima esgotável. Fico por aqui, acho que já tem assunto suficiente acender a discussão, fico a disposição para esclarecer dúvidas, depois, na medida das intervenções, comentarei as limitações das renováveis.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. sua opinião

    Gostaria de te perguntar se : seria viável ao países mais pobres trocarem o petróleo pelas energias renováveis ( que são mais caras) ? afinal isso não iria causar uma desigualdade maior ? pois nem todos teriam asseço e seria muito difícil a implantação em paises extremamente pobres como o Congo

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