O relatório sobre o apagão no Nordeste

Do Valor

Relatório sobre apagão aponta erro de operação da Chesf

Josette Goulart | De São Paulo
15/02/2011

O relatório preliminar sobre as causas do apagão que atingiu oito Estados do Nordeste no início do mês aponta um erro de operação da Chesf, segundo alta fonte ligada ao governo federal. A subsidiária da Eletrobras tentava resolver um pequeno blecaute nas linhas de Sobradinho/Luiz Gonzaga, que liga Bahia a Pernambuco, mas a empresa liberou o circuito sem checar as proteções do sistema. Como essas proteções estavam alteradas, a pequena queda contaminou o sistema e se transformou em um blecaute, que derrubou sete linhas de transmissão e três usinas hidrelétricas deixando boa parte do Nordeste às escuras. Algumas cidades ficaram mais de quatro horas sem energia.

O presidente da Chesf, Dilton da Conti Oliveira, disse ontem ao Valor que a equipe técnica da empresa ainda avalia os acontecimentos, e garante que se houve erro ele será assumido pela companhia. A postura do presidente da Chesf reflete o duro tratamento dado pela presidente Dilma Rousseff às autoridades do setor elétrico na semana passada, em reunião no Palácio do Planalto, onde exigiu explicações mais convincentes sobre o ocorrido no Nordeste.

FontFonte presente à reunião conta que a presidente perguntou se o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, e seu secretário-executivo, Márcio Zimmermann, consideravam que todo brasileiro é burro, referindo-se às conflitantes afirmações das autoridades – um dia o sistema elétrico é considerado robusto, e em outro, o apagão se deu por conta de uma falha em uma “plaquinha”.

Na semana passada, o ministério informou que um defeito em uma cartela eletrônica na subestação Luiz Gonzaga teria causado todo o problema. Agora, não quis agora se manifestar sobre o relatório, que aponta falha de operação da Chesf.

Uma fonte graduada ligada ao Operador Nacional do Sistema (ONS) diz que as autoridades tentaram, nesse episódio, fazer o mesmo que foi feito no apagão do dia 10 de novembro de 2009: “Dividir a culpa, para que ninguém ficasse mal sozinho, às vésperas de uma eleição presidencial, quando a culpa nitidamente foi de Furnas “. A diferença agora é que a presidente Dilma não tem uma eleição pela frente e vai atrás dos culpados para tomar as providências.

No episódio do apagão de 2009 – em que linhas de Furnas caíram, derrubando Itaipu e criando um efeito cascata que provocou um blecaute em 18 Estados-, o Ministério de Minas e Energia, junto com ONS, divulgaram que a causa foi sistêmica, provocada por fortes raios que caíram na região de Itaberá, interior de São Paulo. Essa fonte graduada do ONS diz, entretanto, que não foram raios que causaram o blecaute, e sim a quantidade de chuva que atingiu a região. “Furnas já sabia que tinha problemas nas linhas sob forte chuva e que faltava manutenção”, diz a fonte.

A empresa foi multada pela Aneel em R$ 43 milhões pelo apagão. Apesar de o valor ter sido reduzido, a diretoria colegiada da agência manteve a decisão que coloca a culpa do apagão em Furnas, em reunião realizada quatro dias após o blecaute que atingiu dessa vez o Nordeste. 

Luis Nassif

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