Firme que nem geléia

Quando os mercados mundiais passaram a exibir sua exuberância quase irracional, os títulos brasileiros foram os que mais se valorizaram, e o risco Brasil foi dos que mais caiu.

Houve comemoração.

Agora, quando a crise se alastra, os títulos brasileiros são os que mais caem e o risco Brasil só não desabou ontem por conta da recompra de títulos da dívida externa pelo Tesouro.

Porque isso acontece? Porque os papéis do Brasil são pró-cíclicos. Significa que sempre que se inicia um ciclo nos mercados internacionais, os papéis brasileiros saem na frente, seja na alta seja na queda. Esse fato decorre do fato desses papéis serem os mais negociados entre os países emergentes. Quando o mercado está em alta, são os primeiros a serem comprados; quando em baixa, os primeiros a serem vendidos.

Tem-se então um mercado instável – o internacional – e, dentro dele, um mercado mais instável ainda – o mercado cambial brasileiro.

É em cima dessa geléia que estão cravadas as estacas que visarão dar sustentabilidade ao futuro desenvolvimento sustentado brasileiro. Não dá!

Tome a análise do excelente Paulo Tenani no “Valor” de hoje. Clique aqui para ver. Ele prevê um futuro esplendoroso para a economia porque, pela primeira vez desde o advento do Plano Real, haverá uma queda nos “yelds” (os juros em dólares da dívida soberana) que permitirá uma queda na taxa Selic e, com isso, a transferência da poupança dos títulos públicos para a capitalização das empresas.

O raciocínio expresso no artigo é perfeito, não fosse essa particularidade. O que acontecerá com esse desenho todo quando os dólares começarem a sair e o câmbio a se desvalorizar? Veja, a propósito, no mesmo jornal, artigo do Yoshiaki Nakano sobre essas dúvidas na economia internacional, clique aqui. Ou a excelente análise do economista Artur Candal sobre os ajustes futuros da economia mundial (clique aqui para assinantes).

Toda a estratégia do Tesouro, nos últimos anos, consistiu em tentar criar a chamada curva de juros (isto é, uma estrutura que remunerasse menos as aplicações de curto prazo e mais as de longo prazo). Para isso, no ano passado facilitou o ingresso de capital externo para financiar a dívida pública. A idéia é que esse capital está mais acostumado a aplicar no longo prazo, induzindo o capital interno a acompanhá-lo. Essa estratégia gradualista exigiria um mercado não exposto a crises intermitentes.

Agora, os EUA se movem, há dúvidas sobre o aumento de juros por lá. Os capitais que entraram, saem, provocam uma desvalorização do real e, com isso, todo o edifício erigido em cima desses dólares começa a balançar.

Luis Nassif

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