Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Folha de S. Paulo, não apenas mau jornalismo. Marotagem, por Rui Daher

Folha de São Paulo, não apenas mau jornalismo. Marotagem. 

Por Rui Daher

em CartaCapital

GGN.

Puta saudade de Ariano Suassuna. Darcy, não. Visita-me todas as noites. Tento falar com Ariano e não consigo. Sei ele, lá no céu, menos ocupado do que Darcy e suas mulatas. Mas como reabrir o Dominó de Botequim, (saldo de exemplares em liquidação, acionem e-mail) sem saber o que pensa Ariano. Primeiro, recorri às cabras, agora a Elomar. Ambos são, e sempre serão melhores do que os meus textos. E, se forem humildes, de muitos de vocês. A sagaz fala e escrita de Ariano é a que gostaria de ter. A poética e musicalidade de Elomar, também. Não tenho porra nenhuma disso, apenas 10 fiéis amigos que me leem. Moro me chamou a Curitiba. Conto no primeiro capítulo do Dominó. Se o Serafa deixar.

CARTACAPITAL.

Desde 3 de maio de 2013, esta coluna procura analisar as atividades agrárias brasileiras e mundiais, quando vistas “assim do alto” e com a lupa do social.

São quatro anos e meio neste site de CartaCapital, para dizer que “O campo não para”, a exemplo do título que a Folha de São Paulo, usou em caderno publicado 17 de setembro, a propósito de um “Fórum Agronegócio Sustentável”.

Não poderiam ser mais óbvios: “o agronegócio brasileiro se descola do resto da economia e aproveita bom momento para apostar em novas tecnologias e continuar em alta”.

Bem, hoje em dia, para se “descolar” da economia em geral, não precisa estar em grande forma.

Nem mais descarados, também, quando ao pretenderem usar a lupa, generalizam avanços sociais, partículas mínimas do universo rural. O empoderamento feminino, exemplificado no comando de mulheres em fazendas; o avanço tecnológico que amenizará a exaustão do trabalhador rural; as máquinas agrícolas “inteligentes” e as empresas start-ups agrotech.

Exemplos ridículos, coisa de rufiões patrocinados corporativamente diante das mazelas ainda existentes no campo.

Seguem ao que lhes convém: viés positivo na questão da venda de terras a estrangeiros; carne fraca já se fortaleceu; cavalo tá bom, logística tá ruim; proteção ao ambiente tá boa, seguro rural tá ruim. Um claro cardápio ruralista, com mais de 20 depoimentos de personalidades sorridentes e otimistas.

Que bom! Mas não.

https://www.youtube.com/watch?v=A0YaavA75bY]

Primeiro, prezados leitor e leitora, no Brasil, o campo nunca parou. Pelo contrário, foi como o país se formou e cresceu, o que nos fez atrasar a corrida para a industrialização, chegar tardiamente ao capitalismo produtivo, e nos enredarmos durante a globalização para, finalmente, ajoelhar aos pés dos mercados financeiros e do rentismo.

Qual, então, o motivo para a ênfase atual ao “agronegócio sustentável”?

Seria por que, depois de derrubar um governo democrático, este o único feito a ser mostrado, apesar das vitórias nada terem a ver com o governo Temer?

Ou, assanhados pela destruição neoliberal, esperança de que estando tudo esburacado, institucionalidade, economia, sobretudo nos setores de indústria, comércio e serviços não financeiros, comprometendo emprego, renda, e aparelhos públicos e privados de saúde e educacionais, também as atividades agrárias primárias e de valor agregado fossem à pindaíba? Nunca se sabe aonde a psicopatia pode chegar.

O fórum, seminário, caderno, sei lá, o “siri recheado e o cacete” (obrigado, mais uma vez, Bosco e Blanc), recebeu verbas publicitárias de governos estaduais, Banco do Brasil, APEX, e patrocínios de Bayer, Aérea Azul, Siemens.

Tudo em inteligente artimanha dos irmãos Frias, o Estúdio Folha -projetos patrocinados. Merecem. Afinal, por quantos anos urdiram a trama golpista?

A pergunta que não deve calar é por que o ensaio artístico dedicou poucas linhas à agricultura familiar? Qual o motivo de nenhuma linha sobre a situação dos assentamentos de sem terras, dos conflitos indígenas (o governo do Mato Grosso do Sul é um dos patrocinadores), das comunidades quilombolas, da entrega de grande área da floresta amazônica, dos preços dos alimentos que, por falta de consumo, exterminam a produção hortícola?

Apesar de uma página inteira do Banco do Brasil, nada foi dito sobre a falta de acesso de pequenos agricultores aos financiamentos, penhoradas que estão suas terras e tomados os equipamentos.

Termino com a impressão de que nenhum dos patrocinadores da Folha aceitará patrocinar minhas colunas em CartaCapital.

https://www.youtube.com/watch?v=00xVCMF_sqk

[video:https://www.youtube.com/watch?v=oVwJ1riNEA8

 
Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

18 Comentários

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  1. Fala sério.

    Rui talvez não o número de leitores que você merece pela qualidade de seus textos, que primam pela informação, pela sua sensibilidade social e seu extremo bom humor. Nunca pouco, imaginando  seus assuntos e o interesse dos leitores do blogs e da Carta Capital.

  2. Caro Rui (com i):
    Vc queria o

    Caro Rui (com i):

    Vc queria o que de um jornal(?) como a fel-lha? Um coisa que tem cadernos nomeados como ilustríssima, serafina, e ainda coluna social?

    Como diz o PHA, a fel-ha não é jorna é não deve ser deixada na sala de visitas!

    1. Ricardo,

      Há 4 anos, deixei de assinar essa escrotidão. Só tive conhecimento da matéria porque um cliente me trouxe, achando que me interessaria. Interessou. Pra mandar à merda.

      Abraços 

  3. Folha….

    Caro sr., continuo sem saber onde está a culpa do Agro? Ou do Agronegócio? Ou da Agropecuária? Ou da Agricultura e Pecuária? Que de tanto Familiares, algumas Empresarias até se tornaram? As Únicas Elites Brasileiras, o Poder Público Ditatorial, usar este segmento conforme seu interesse Político é culpa da Agropecuária? Morde e Assopra. Onde está o escrachado, transparente, incontestável apoio à Agricultura Brasileira? Empresarial ou Familiar? Quando que a Empresarial foi antagônica à Familiar? Quando a omissão e incompetência dos Governos pôde ser atribuída ao Agronegócio? Não existe uma confusão de competências sobre este assunto? Meio Ambiente, Trabalho Escravo, Proteção às Minorais, Regularização Fundiária é muito pior nas cidades, onde mora a maciça maioria da População Brasileira, que no interior ou áreas rurais. Mas Documentários Espetaculosos, Ações Cinematográficas da Polícia Federal, Prisões de Escravagistas Urbanos, Pressão Internacional de Artistas e Ong’s renomadas ou Artigos críticos na Imprensa Nacional nunca são para estes crimes praticados nas Áreas Urbanas. Aí tem dois interesses canalhas: a ideologização política e interesses internacionais. Estes problemas se resolvidos nas Cidades aumentaria de forma impressionante o Padrão de Vida dos Brasileiros. É isto que interessa? “Me engana que eu gosto”. (P.S. Quanto a seus “amigos” sempre citados. A cara do Brasil. Elite que não se enxerga. Um inclusive de Família Coronel. Um Representante das Esquerdas e do Povo. Mas que nunca abandonou nem renegou a Casa Grande, onde nasceu. Secretário de Arraes, outro da elite que não se enxerga. Filhos, Netos e Bisnetos, estes últimos mesmo antes de terminar a Faculdade, já começam a tomar conta da parte da Capitania Hereditária que crêem que lhes pertence. Elite são os outros.abs)  

    1. sem delegação do Rui, mas, sobra de tempo

      Zezinho, meu filho…

      Estou cá, horas à espera de um vôo, ainda por cima atrasado e a letargia que me assola é terrivel. Estou à beira de pegar sono e encarando o risco de babar na gravata de tanto olhar para aquele maldito ecrã (como dizem meus primos da Terrinha) para ver se o status do meu vôo muda de “delayed” para algo como “just arrived” ou “aeronave no pátio”. Tá f…

      Então, Zezinho, se me permite a intimidade, arvorar-me-ei (gostou da mesóclice?) em defensor dos argumentos Daherianos para constestar aos seus.

      A agricultura nacional nasceu no Império calcada em 3 pilares. Pilar 1 – a cessão de terra pela Coroa. Pilar 2 – sustento pelas pelas burras da Metrópole que a financiava e comprava sua produção. Pilar 3 – mão-de-obra escrava.

      Cresceu e se desenvolveu com base nesses pilares, mudando algumas circunstâncias. A cessão de terras continuou na República, até recentemente, e, ainda hoje, ocorre de forma transversal pela grilagem consentida. A mão do Estado continuou agindo pesado em favor do setor primário. Até os anos noventa, em boa parte, a produção era financiada, comprada, armazenada e até comercializada pelo Estado, por meio de órgãos e empresas estatais, como a Cobal – Cia. Brasileira de Alimentos, CFP – Cia. Brasileira de Produção, Cibrazem – Cia. Brasileira de Armazenamento e o Banco do Brasil. Até o Banco Central entrava na jogada financiando (Banco Central daquela época funcionava como banco de fomento) investimentos em lavoura, pecuária e logistica de abastecimento por meio de programas como o Pronagri que concedia crédito com 20 anos de prazo, juros de 12% a.a. fixos, sem correção monetária, em épocas de inflação estratosférica. A maioria da teconologia usada no campo foi gerada em laboratórios do Estado, na Embrapa, nas universidades públicas e nas empresas estaduais de pesquisa agropecuária e difundida e implantada pelos serviços públicos de assistência técnica e extensão rural.  Além do mais, não olvidemos, ó caro Zezinho, do juros subsidiados, da isenção ou redução de impostos e dos subsídios diretos com que o setor agrícola contava (e conta), assim como, do seguro agrícola oficial, o Proagro, que era uma festa, pagava até sem plantar. Ainda conta com o Proagro, mas ora, mais regulamentado e controlado, não a zona que foi em outros tempos. Por último, a mão-de-obra escrava foi substituida por mão-de-obra subempregada, explorada ao máximo, a quem, até muito recentemente, era negado o mais elementar dos direitos e que, agora, frente à nova CLT vai perder muito do pouco que conquistou.

      Logo, não há como ignorar que o agronegócio chegou onde chegou graças ao amparo e à proteção governamentais e, também , há que se reconhecer que muito dos esforços dispendidos pela Nação em favor do setor primário foram desperdiçados ( e aonda o são). Esse disperdício se deu, pela frouxidão da Lei e das normas, dos instrumentos institucionais de controle e pela incompetência e leniência do Estado, por meio de desvios de objetivo, fraudes, sonegações e uma série intermináveis de crimes de corrupção, peculato, estelionato, crimes contra o sistema financeiro, contra a ordem pública e contra as relações de trabalho. Se tivesse espaço te ilustrava caso a caso, infelizmente não dá, mas, pergunte ao Rui que ele confirma.

      Há, nessa narrativa que se relativizar alguns pontos. O setor primário no mundo inteiro tem proteção do Estado. É apoiado e incentivado ao longo de toda a cadeia, desde o desenvolvimento tecnológico até a comercialização.  Quanto ao, digamos, “lado sujo” da história, precisamos lembrar que, como em todas os países, o processo de avanço econômico, da transmigração de uma situação de sub-desenvolvimento atropela as estuturas e causa essas distorções e mal feitos.

      Sem dúvida, há que se reconhecer o esforço, a persistência, a dedicação e o empreendedorismo do homem e do empresário brasileiro que lidam no campo, assim como, daqueles que trabalham em todas as atividades e nas atividades conexas ao agronegócio. Contudo, não é possível ignorar a responsabilidade social que assumem e a contrapartida que estão obrigados a fornecer ao País e ao seu povo.

      Principalmente, não é aceitável esse discurso churumela de que o agricultor, o agropecuarista ou o empresário rural são titãs da resiliência, bravos que lutam contra tudo e contra todos para vencer e que, ao vencer, tem a exclusividade do mérito. Têm é xongas, Zezinho

      E, se agora, vão ter que encarar um governo que não olha para o médio e pequeno, não está nem aí para nada que não implique em divisas na balança comercial e nem se o cara é brasileiro, chinês ou raio que o seja, é muito bem feito. Quem mandou…

      E tem mais, o Governo divulgou um plano safra com um monte de dinheiro. O que ele não falou é que na hora de liberar os recursos da exigibilidade obrigatória, já minguados pela redução dos depósitos à vista nos bancos, vão todos para os brande tomadores com rating triple A e, naquilo que depender do Banco do Brasil, o crédito arícola vai sair a conta-gotas, selecionadíssimo, para clientes de baixo risco. Ter orçamento, meu caro Zezinho, não significa ter crédito no bolso do produtor. Se essa última safra foi boa, é graças a São Pedro e aos Governos Dilma e Lula que apoiaram como “nunca antes neste País” o setor primário. De agora em diante é morro abaixo, então, se segura meu filho.

      Se não acreditar, tudo bem, conversamos em 45 no máximo 60 dias, quando tiver terminado a maioria do plantio da lavoura de verão e os financiamentos de custerio da safra 2017/18 já tiverem sido liberados. Daí me fala, Zezinho.

      Logo, o Rui está absolutamente certo e amparado na história e na atualidade do agronegócio quando mostra que o agro não é tudo nem está isolado do resto, que está relativamente bem (ênfase no relativo), mas que ainda está tem muito que avançar, principalmente, em mentalidade. Deixa evidente, ainda que implicitamente, um fator essencial: os ruralistas não representam o agronegócio, sequer são solução para os desafios que a globalização e o capitalismo impõem. São, na verdade o tijolo amarrado no pé do setor primário nacional.

      Zezinho, o eclã ainda mudou o status. Então continuo aqui. Na mesma. Vou tomar o 5o. café com pão de queijo e pagar uma fortuna. Pelo visto o Temer e o Meirelles falharam nisso também, não conseguiram fazer com que a queda dos preços do café, do açúcar, do polvilho e do leite chegassem na tabela de preços da Casa do Pão de Queijo. Mas, sem dúvida, a culpa é da Dilma.

      1. Boetorum, meu caro

        Tá delegado. Texto primoroso. Gostaria de aproveitá-lo em minhas colunas. TÔ quase desejando atrasos em aeroportos para ampliar suas colaborações. Disse tudo, eu não faria melhor. Abração 

    2. Zé Sérgio,

      gostaria de saber em qual passagem do texto critiquei o agronegócio?. O fiz para uma matéria mentirosa e mal escrita da FSP; simples assim.

      Abraços

       

      1. zé….

        Caro sr.Rui, gostaria de saber em que passagem do meu comentário eu fiz esta afirmação? Critique a ideologização do assunto, recorrente na Imprensa Nacional. Esta sim espetaculosa na crítica ao Meio Rural e omissa sobre o mesmo tema, quando em áreas urbanas. Geralmente divididas entre “Mortadelas e Coxinhas”. A cara do país que não sai do lugar. abs. 

  4. E ainda há quem acredita e

    E ainda há quem acredita e até lute, através de protestos, para que Frias saia dessa…

    Esse moço jogou o nome da firma e de seu produto (Folha e Folha) no lixo, se pensarmos em Jornalismo. Claro que como firma ainda tem jeito, pode resultar em dinheiro e poder político para Frias, diretores, empregados e terceirizados, mas como jornal?… Acho que não adianta nem protestar nem lamentar, por mais dolorosa que seja a perda: morreu. E pronto.

    “Ah, mas e os roteirtos culturais ‘decolados’? E o Laerte? E o Janio de Freitas?” E outros tantos bacanudos e profissionais sérios e conscienciosos?”

    Ok, mas quanto custam esses pouquinhos ante o estrago que essa firma faz? Valem? Se fosse apenas nesse golpe do capital contra a democracia… mas esse não é um ponto fora da curva. Pontos fora da curva são aqueles atrás dos quais Otávio se esconde para vender papel impresso. Aliás nem pontos fora da curva são, são apenas argumentos de venda, blá-blá-blá de vendedor. Embalagem.

    1. Renato,

      vou direto. Falta de caráter do Otávio e de quem lá trabalho. Salva-se o Jânio, não me pergunte o porquê. Os demais, honestos, estão lá por prestígio e soldo. Se me pagassem, nunca irão, para escrever no lugar do Caiado, não aceitaria. Vergonha. Abração

  5. Caro Rui, uma pesquisa

    Caro Rui, uma pesquisa Data-Folha recente feita para uso interno mostrou que restam apenas 7 leitores desse jornalão. Como são bem velhinhos há um dilema na Barão de Limeira, não sabem quem vai morrer primeiro, se os velhinhos, e aí o jornal fica sem leitores, ou o jornal, deixando os velhinhos sem o que ler. E não leia mais esse jornal nem por dever profissional, para não distorcer uma suposta próxima pesquisa, pois poderão pensar que os jovens estão voltando a ser leitores. Grande abraço.

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