França – Sarkozy apela a dispositivo constitucional para passar reforma

Os franceses não se entregam. A adesão maciça às greves convocadas pelas maiores centrais sindicais francesas reunidas no movimentointersyndicale demonstra, com força, que uma das mais totalizadoras táticas da doutrina neoliberal, ou seja, a produção do discurso do consenso e da inevitabilidade para promover suas mudanças, ainda não funcionou em território francês.

 A sociedade, representada por trabalhadores e estudantes nas ruas, não aceita a imposição da conta aos mais fracos provocada pela crise de 2008 e tampouco está disposta a ceder. Mais duas mobilizações já foram convocadas: 28 de outubro e 6 de novembro. (libération)

Sarkozy contra-ataca: primeiro, pela criminalização simbólica dos movimentos de resistência. Aproveita-se dos tumultos e dos confrontos gerados entre polícia e manifestantes para dizer que “não se pode tomar como reféns as pessoas comuns que têm seu cotidiano abalado”, e sentencia: “não serão os bandidos os últimos a falar em uma democracia republicana!”. (lemonde)

Sarkozy sabe, como sabia o brilhante sociólogo Pierre Bourdieu (Le Monde Diplomatique), que as medidas neoliberais necessitam, primeiro, se impor como discurso para depois se legitimar como agenda política. A criminalização da resistência organizada da sociedade francesa procura eco e adesão justamente no individualismo promovido pelo capitalismo. As “pessoas comuns” de Sarkozy não querem ter seu caminho de casa até o trabalho bloqueado por aqueles que insistem em lutar pelos seus direitos.

Mas, se a vitória no campo simbólico não vier, como parece ser previsível, um último recurso ainda estará ao alcance do presidente francês: o “voto único”. Com o vote unique, a assembléia se vê obrigada a se pronunciar sobre o texto da reforma da previdência com um simples “sim” ou “não”, sem espaço para inclusão ou exclusão de pontos adicionais. “Ou se adota o projeto do governo com as alterações unicamente promovidas por ele, ou se rejeita o texto. (lemonde)

O “voto único” vai passar por cima de uma séria de alterações promovidas pela esquerda francesa ao texto da reforma da previdência, contendo, principalmente, caminhos alternativos para a resolução do problema. “O senado foi violado”, disse Jean-Pierre Bel do Parti Socialiste.

Se Sarkozy não consegue fabricar o consenso para suas reformas injustas, ainda pode passar por cima da vontade da maioria com a utilização desse dispositivo.

 

Redação

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