GM descarta demissão em massa em São José

GM quer flexibilidade para tornar planta joseense mais competitiva

Demissão em massa foi descartada após reunião neste sábado (4).
Empresa e Sindicato terão cerca de 60 dias para negociar novas medidas.

Por Carlos Santos e Márcio Rodrigues, Do G1

A General Motors se manifestou publicamente sobre o desfecho do encontro que evitou as demissões em massa na montadora, neste sábado (4), em São José dos Campos. Após mais de 9 horas de reunião, ficou decidido que a linha de produção do Classic vai continuar na planta joseense até o fim do mês de novembro.

De acordo com Luiz Moan, diretor de assuntos institucionais da empresa, nos próximos 60 dias serão negociadas flexibilizações junto aos representantes dos trabalhadores. “O caminho não são as demissões. O caminho é o diálogo com o Sindicato para que a gente possa trazer mais competitividade para a planta de São José dos Campos”, afirma.

Moan disse também que a montadora vai propor flexibilizações para solucionar a questão envolvendo os funcionários do setor MVA, que será desativado no fim de novembro. “Vamos colocar como proposta o banco de hora, a negociação da grade salarial, jornadas mais flexíveis, entre outros. Há um cardápio imenso de possibilidades que podemos negociar. É importante ressaltar que não temos nenhum projeto que possa ser alocado na unidade, mas nos comprometemos trazer uma negociação de investimento para a planta caso haja a possibilidade da vinda de um novo modelo para o Brasil”, explica.

Acordo
A produção do Classic será mantida na unidade até 30 de novembro em função de um acordo que será levado ao sindicato para a categoria em assembleia na próxima terça-feira (7). A categoria vai decidir pelo layoff, que é a redução temporária do período de trabalho ou suspensão do contrato de trabalho, durante um período de tempo, que no caso do acordo proposto será de 3 meses e 10 dias.

Nesse período, os funcionários que estiverem no programa receberão os salários integrais, que serão pagos pelo governo do Estado por meio do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e também pela empresa. Além disso, os operários deverão participar de curs

Após a aprovação dos termos, que deve ocorrer na terça-feira, os trabalhadores terão 15 dias de férias coletivas para que se cumpra o aviso prévio da licença remunerada. A medida vai afetar 940 funcionários do setor MVA. A produção do Classic vai continuar com 900 metalúrgicos, o que mantém o nível de produção da linha.

Outra proposta que deve afetar os trabalhadores é um Plano de Demissões Voluntárias que será executado em um prazo de 60 dias. Caso o acordo deste sábado não fosse concretizado, a previsão era de que 1.840 postos de trabalho fossem fechados na montadora.

A reunião de conciliação teve início por volta das 9h30, com participação de representantes da empresa, do Sindicato dos Metalúrgicos, o secretário nacional de Relações do Trabalho, Manoel Messias Nascimento Melo, o secretário estadual de Relações do Trabalho, Carlos Andreu Ortiz, além do prefeito da cidade, Eduardo Cury (PSDB).

Reunião impasse na GM (Foto: Carlos Santos/G1)

Solidariedade
Um grupo de 30 pessoas entre trabalhadores da GM em São José e representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, que vieram a São José dos Campos, foram ao local, mas não participaram do encontro, que discutia a possível demissão de 1,5 mil trabalhadores com o fechamento do setor MVA (Montagem de Veículos Automotores).

“Viemos em solidariedade aos trabalhadores e ao sindicato local, apesar de ser oposição. Pedimos que se evitem as demissões, porque sabemos que isso gera reflexos em toda a cidade. São milhares de empregos em jogo. A linha produtiva da GM é muito flexível. O Spin, por exemplo, poderia ser produzido em São José também”, disse o secretário geral do sindicato de São Caetano do Sul, Marcelo Toledo, que é ferramenteiro há 23 anos na GM.

Manifestantes na porta do Ciesp em São José (Foto: Carlos Santos/G1)
Manifestantes na porta do Ciesp, em São José,

durante a reunião. (Foto: Carlos Santos/G1)
Já o metalúrgico Luís Fabiano Costa, de 36 anos, que é montador no MVA, acreditava em um acordo contra as demissões. “Temos muita esperanças nessa reunião para que haja uma proposta que garanta nosso emprego. Hoje, o trabalhador tá muito aflito, com medo. Vivemos essa situação desde outubro e queremos uma solução concreta”, contou.

Impasse
A discussão para a manutenção das vagas gerou um impasse entre o Sindicato dos Metalúrgicos e a montadora. O último encontro havia sido realizado no dia 25 de julho e terminado sem acordo.

Na última quinta-feira (2), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) se reuniu com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos e se declarou contrário à ameaça de demissões. De acordo com os sindicalistas, o governador paulista afirmou que fará esforços para assegurar a manutenção dos postos de trabalho na planta joseense. Alckmin teria se comprometido a procurar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para tratar do assunto.

Mobilizações
Também na quinta-feira (2), os trabalhadores da planta joseense decidiram fazer uma manifestação e bloquearam os dois sentidos da Via Dutra, no trecho próximo à sede da empresa.

Manifestantes atearam fogo em pneus (Foto: Reprodução / TV Vanguarda)

Manifestantes atearam fogo em pneus em protesto

na Via Dutra. (Foto: Reprodução / TV Vanguarda)
O protesto aconteceu após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarar que “a GM contrata mais do que demite e está cumprindo o compromisso com o governo federal de manter o nível de empregos”.

A fala foi feita depois de um encontro com os representantes da empresa no início da semana. Porém, nesta sexta-feira (3), Mantega disse por meio de sua assessoria que não vai ‘tolerar’ demissões em setores com IPI baixo.

Portas fechadas
No último dia 24 de julho, a unidade da GM em São José dos Campos amanheceu fechada e isolada. A montadora alegou que dispensou todos os funcionários temendo possíveis mobilizações dentro da unidade.

Uma semana antes, dia 16, os metalúrgicos da GM aprovaram uma greve de 24 horas para tentar impedir os planos da montadora de encerrar as atividades do setor MVA no município – a segunda mobilização em menos de uma semana. No dia 12, os trabalhadores realizaram uma paralisação de advertência de duas horas e votaram estado de greve.

A situação
O complexo industrial da GM de São José dos Campos abriga 8 fábricas com cerca de 9 mil funcionários, que produzem, separadamente, automóveis, a picape S10 e o utilitário Blazer, além de kits desmontados para exportação, motores e transmissão.

A montadora afirma que apenas o setor de automóveis (MVA) enfrenta o problema com negociações sindicais para a implementação de novos projetos. Ali trabalham cerca de 1.500 pessoas.

No MVA de São José, eram fabricados os modelos Zafira, Meriva, Corsa Hatch, Corsa Sedan e Classic. Hoje, só a última linha funciona: a produção dos 3 primeiros automóveis cessou recentemente. A da Zafira e a da Meriva, neste mês. A do Corsa, na semana passada. Eles deram (ou darão) lugar a outros automóveis no portfólio da Chevrolet, que lançou 9 carros novos desde 2009 e renovou outros 3. Há outros lançamentos previstos para este ano.

Desses, só as novas gerações da picape S10 e da Blazer (esta ainda sem data de estreia), ficarão em São José, mas pertencem a outro setor que não o MVA. Entre os automóveis, nenhum novo modelo tem previsão de ser produzido no setor.

Luis Nassif

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