Marfrig vende Seara para o grupo JBS

Do Estadão

Compra da Seara, do Marfrig, pelo JBS envolve cerca de R$ 5,5 bilhões

Com a negociação, que pode incluir outros ativos, o Marfrig consegue reduzir 60% de sua dívida líquida e ganhar fôlego financeiro para voltar a crescer; por sua vez, o JBS, maior processador de carne bovina do mundo, aumenta sua participação no segmento de aves

Alexa Salomão e Marina Gazzoni

São Paulo – O frigorífico Marfrig anuncia nesta segunda-feira, 10, a venda da Seara no Brasil ao JBS, em uma operação estimada em R$ 5,5 bilhões, que também pode incluir outros ativos do grupo, disseram ao ‘Estado’ fontes próximas à negociação. Com a transação, o Marfrig perde 30% do tamanho, mas, em contrapartida, consegue dinheiro para reduzir em mais de 60% a dívida líquida, que em março era de R$ 9,95 bilhões, apurou a reportagem.

A aquisição da Seara pelo JBS foi antecipada no sábado pelo blog da colunista do Estado Sonia Racy.

A venda da Seara foi a saída encontrada pelo Marfrig para reduzir rapidamente o endividamento e ganhar fôlego financeiro para voltar a crescer. “Com o negócio, o Marfrig não precisará vender outros ativos”, disse uma fonte próxima à empresa.

O alívio financeiro permitirá que o Marfrig preserve negócios considerados estratégicos em nível global. O mais importante deles é a Keystone Foods, que atua em mais de 50 países e tem acesso ao mercado chinês.

A Seara foi uma das cerca de 40 aquisições feitas pelo Marfrig nos últimos cinco anos, em uma estratégia para crescer rapidamente, mas que fez a dívida atingir níveis considerados elevados demais pelo mercado. A Seara foi comprada da Cargill em setembro de 2009, por pouco mais de US$ 700 milhões.

Hoje é a segunda maior produtora de carne de aves e suínas no Brasil, atrás da líder BRF, com presença também na área de alimentos processados, como pizzas e lasanhas, e faturamento anual de R$ 7,14 bilhões, segundo dados de 2012. Parte da expansão deveu-se à ajuda do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que em 2010 comprou R$ 2,5 bilhões de debêntures da empresa numa aposta de transformar o grupo numa gigante global de alimentos. O banco de fomento, que também tem forte participação no JBS, não quis comentar o negócio.

Sinergia. Se o Marfrig viu seu apetite por aquisições reduzido em função da dívida, o JBS continua a comprar no mercado. “Os produtos da Seara são complementares ao portfólio do JBS, principalmente na área de frangos e embutidos. O JBS ganha mercado em segmentos em que não é forte e poderá aproveitar sinergias na distribuição dos produtos”, disse o consultor na área de alimentos e bebidas Adalberto Viviani.

Para ele, o JBS tende a avançar em todas as categorias de produtos congelados e refrigerados. A unidade de lácteos do grupo, a Vigor, anunciou neste ano a compra da tradicional fabricante de leites e requeijão Itambé. “A área de alimentos refrigerados está se consolidando como um negócio para grandes empresas e com forte estrutura de capital. Nesse sentido, o controle da Seara pelo JBS cria um concorrente mais forte para a BRF e com muito mais gana para crescer (do que sob o comando do Marfrig).”

A compra da Seara é um passo importante no plano de expansão do JBS ao lhe garantir participação relevante no mercado de aves no Brasil, segmento que representa 40% das proteínas consumidas no País. O grupo é o maior produtor global de carne bovina, mas ainda tem presença tímida na área de frangos no País. Entrou no mercado local de aves em 2012, com o arrendamento das unidades do Doux Frangosul. Em 2012, sua capacidade de abate de aves no Brasil era de 1,34 milhão ao dia – 20% da capacidade da BRF. No exterior, porém, o JBS já lidera a produção de frangos, com 8,5 milhões de aves abatidas por dia.

Luis Nassif

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