Você está DEMITIDO!! Réquiem para a tecnologia brasileira.

 

Como antigo funcionário, hoje aposentado, da Smar Equipamentos Industriais Ltda. é com indignação e tristeza que acompanho o drama vivido pelos 180 funcionários demitidos em final de julho deste ano pela empresa. São ex-companheiros de trabalho de mais de 20 anos de convivência diária, que perderam o seu sustento de um dia para outro. É evidente que cada um deles está na busca de outra maneira de prover o sustento para sua família, visando a preservação de moradia, educação, alimentação e saúde.

Não que a demissão em massa tenha sido uma surpresa, pois que ela Smar já vinha em situação difícil desde que o governo federal, hoje PT, resolveu arrochar a cobrança dos tributos devidos, sim, sonegados não. O equilíbrio financeiro da empresa já havia sofrido bastante depois que o antigo banco BANESPA, estatal que foi privatizada na época em que o PSDB era governo, resolveu entrar com um pedido de falência, negado pela justiça local, por problemas de dividas cambiais não honradas por importadores de produtos Smar. A partir daí, o perfil financeiro da Smar passou para a “lista negra financeira”, significando que os bancos passaram a exigir mais da Smar em termos de garantia de pagamentos pelas operações envolvendo as instituições financeiras.

Mas a empresa não é obrigada a pagar tributos? Claro que é, da mesma forma que todas as outras. Só que parece que umas empresas são mais “amigas” do governo do que outras. Claro que a Smar também descuidou de ser “carinhosa” com as autoridades tributárias, diferentemente de muitas outras empresas, de grande porte, nacionais e transnacionais, que adotam manobras tributárias, jurídicas e contábeis para driblar o pagamento de impostos.

Essa ausência de “carinho” resultou em 2004 na prisão dos sócios da empresa, determinada por uma decisão da Justiça Federal de Ribeirão Preto-SP. Certo dia, a empresa foi ocupada por agentes da Polícia Federal, com a truculência própria da profissão, chegando a constranger funcionários que não tinham culpa alguma, para prender os sócios da empresa. O caso ganhou a mídia impressa quando Luis Nassif, publicou em sua coluna no jornal “Folha de S. Paulo”, a íntegra de um email da filha de um dos então sócios da empresa, conforme se lê em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi3001200409.htm.

Naquela ocasião, surgiu naturalmente um movimento de funcionários da empresa que resultou em uma manifestação pública em Sertãozinho, interior de São Paulo, onde está a sede da empresa. Nessa manifestação, se pedia o relaxamento da prisão dos sócios para que respondessem em liberdade as demandas jurídicas, dando à empresa condições de se manter operando e, com isso, pagar os salários daqueles que diariamente lutavam e contribuiam na preservação da empresa e enfrentavam a concorrência das grandes competidoras nacionais e internacionais. Não só o pagamento de seus salários, como também a manutenção da aplicação de recursos financeiros, parcos mas significativos, no desenvolvimento de tecnologia brasileira e fabricação brasileira de equipamentos de automação de alta tecnologia.

 

Manifestação dos Funcionários da Smar - 2004

Alguns dos funcionários da foto (Sertãozinho-SP, 2004) estão entre os demitidos em massa em final de julho de 2013.

Onde está a surpresa então? Na brusca mudança de rumo da administração da Smar. Recordo ainda da frase veiculada pela antiga administração: “uma empresa só tem o direito de sobreviver e crescer se dá mais à sociedade do que dela tira”. Esta era a postura adotada no dia a dia. Os funcionários sentiam-se parte da família, como mostra o cartaz da foto.

A família deu uma reviravolta. Novos administradores assumiram a empresa e afirmam: “vamos administrar a Smar como se faz em um banco”. Como assim? Banco é aquele que, segundo dizia Antonio Ermírio de Moraes, aposta da desgraça alheia. Banco é aquela entidade de empresta dinheiro para quem não precisa. Banco é aquele que mantem toda a população brasileira refém de suas tarifas e suas agências. O engraçado é que os bancos não fazem isso em outros países. Mas o Brasil é um país diferente. A Smar é uma empresa diferente.

Empresa diferente em país diferente requer procedimentos e soluções diferentes. Mas, a nova administração da Smar acredita que as receitinhas que funcionam nos Estados Unidos, Japão e Alemanha vão resolver os problemas da Smar, empresa diferente, no Brasil, país diferente. É bom lembrar que os remédios, mal aplicados, podem até curar, mas podem também matar o paciente. Hoje, por determinação judicial, a União sequestra uma percentagem significativa do faturamento da Smar, que é recolhido em conta específica para pagamento dos tributos. Estes mesmos tributos que acabam aplicados em projetos não muito bem explicados. O lucro da Smar está mais que comprometido. Duro remédio não?

É evidente a estratégia da atual administração zarolha da Smar: reduzir custos através das demissões em massa e jogar para o futuro suas dívidas para com a sociedade civil. Sim, sociedade civil, porque o governo já tem o dele garantido a cada fatura emitida pela empresa. Assim, propõe o pagamento dos direitos trabalhistas da demissão sem justa causa em 60 meses, com carência de 90 dias. Espera. Deixa eu ver se entendi direito: só começa a pagar uma dívida daqui há 3 meses, parcelada em 5 anos. (!!).

O que resta aos demitidos? A Justiça Trabalhista na busca de seus direitos. Mesmo aí, os novos administradores da Smar dão a entender que estão aprendendo as manobras jurídicas. E estão preparados para enfrentar as demandas trabalhistas através de petição de recuperação judicial, uma atitude anti-ética de calote nos funcionários demitidos.

A pergunta que fica é: por que não “aprenderam” as manobras jurídicas para administrar as dívidas tributárias com a União?

Pois é. A família Smar já está destruida. E isso não acaba aí. Tudo leva a crer que virão aí mais demitidos.

Redação

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