Nova Economia: Erik Reinhart, um dos autores fundamentais

Economistas desenvolvimentistas o colocam no mesmo nível de importância de Joseph Stiglitz.

Um dos gurus da Nova Democracia é o noruguês Erik Reinhart. Economistas desenvolvimentistas o colocam no mesmo nível de importância de Joseph Stiglitz. Seu livro “Como os países ricos ficaram ricos” é considerado um marco, recolocando no debate das políticas desenvolvimentistas os ensinamentos de Friedrich Lizt e Alexander Hamilton, no século 19, sobre a importância das estratégias públicas de estímulo à industrialização.

Como explicar Jorgemar Soares Felix, em um paper sobre Reinhart, o Fundo recomendava um conjunto de práticas ortodoxas, acenando com a possibilidade de um catching up (um salto no crescimento) em relação aos países ricos. O que se verificou foi a frustração das promessas de aumento do bem-estar da população.

O exemplo citado foi o do Chile, que seguiu todos os preceitos do livre mercado de 1973 a 1990.

É nesse contexto que é lançado no Brasil a tradução para o português do clássico “Como os países ricos ficaram ricos… e por que os países pobres continuam pobres”.

Em sua opinião, 2016 marca oficialmente o fim da utopia do livre mercado, iniciada nos anos 70 com a decisão de Richard Nixon de desvincular o dólar do padrão ouro. Três episódios, em 2016, definem o esgotamento do ciclo: o Brexit (a saída da Inglaterra da União Europeia), o discurso contra o livre-comércio de Donald Trump e Bernie Sanders.

Nesse ano, o FMI (Fundo Monetário Internacional) revê suas próprias políticas, através de um estudo dos economistas Jonathan D. Ostry, Prakash Loungani e Davide Fuceri (2016), sob o título “Neoliberalism: oversold?” (Neoliberalismo: exagerado?), visto como uma mea culpa do FMI sobre seu receituário econômico a partir dos anos 1980, aplicado principalmente na América Latina – o chamado “Consenso de Washington”.

Em 2017, no Fórum de Davos, a diretora-geral do FMI Christine Legarde rebateu o Ministro da Fazenda brasileiro Henrique Meirelles, defendendo as reformas seguindo as recomendações do consenso de Washington. Lagarde recomendou maior preocupação com a desigualdade social.

Repete-se o mesmo ciclo do século 19. Em 1848, após uma grave crise financeira, John Stuart Mill reviu seus conceitos sobre o livre comércio. Em 1930, a reação contra o livre mercado resultou em três ideologias, o nazismo, o comunismo e o New Deal, de Franklin Delano Roosevelt.

Em uma substanciosa entrevista a Sérgio Lamucci, do Valor Econômico, Reinhart coloca como o grande desafio discutir o formato que o New Deal teria no cenário atual.

Os ciclos

Para Reinhart o ciclos obedecem a uma mesma dinâmica.

Depois da Segunda Guerra Mundial, sob os princípios do Plano Marshall, seguiu-se a máxima de que todas as nações deveriam poder se industrializar. A consequência foram os 30 anos gloriosos, período de maior crescimento da história, incluindo o chamado “milagre brasileiro”.

O incentivo à industrialização, com a proteção das indústrias infantes, sempre foi ponto central nos processos de desenvolvimento.

A Inglaterra protegeu a sua indústria por mais de 300 anos, a Coreia do Sul por algo como quatro décadas, mas as nações que se tornaram ricas seguiram por esse caminho.

A repetição das crises sistêmicas obedece à mesma lógica. O sucesso econômico induz ao fundamentalismo de mercado e a confiança excessiva acaba levando a uma forma de colapso econômico que, por sua vez, obriga à revisão dos dogmas do período anterior.

Durante 300 anos a Inglaterra protegeu sua indústria manufatureira, diz ele. No começo dos anos 1800já era a maior potência industrial e não precisa mais de proteção. Baseia-se então na teoria de comércio de David Ricardo, e passa a difundir a ideologia do laissez-faire. O ciclo dura até a grande crise financeira de 1847 e por revoluções em todos os grandes países europeus.

A crise de 1929, por sua vez, decretou o fim do ciclo liberal do fim do século 19.Em 1933, John Maynard Keynes reviu suas ideias sobre o livre-comércio.

O reconhecimento da industrialização

Economistas que se debruçaram sobre processos históricos não tardaram em reconhecer a importância da industrialização. Recentemente, o ex-economista-chefe do  Banco Mundial Justin Yifu Lin constatou: “Exceto por alguns poucos países exportadores de petróleo, nenhum país jamais se tornou rico sem primeiro ter se industrializado”.

Reinhart lembra que a Inglaterra protegeu sua indústria por mais de 300 anos, a Coreia do Sul por 40 anos. Algumas vezes a proteção ocorreu por imposição de boicotes, como na África do Sul e no Sul da Rodésia sob o apartheid. Mas todas elas foram extremamente bem-sucedidos do mesmo modo.

Esses resultados não intencionais dos boicotes comerciais foram devidamente captados, diz ele. Quando o Ocidente quis punir a Rússia recentemente, optou por um boicote financeiro, e não por um boicote comercial.

Para ele, a teoria do comércio internacional, de David Ricardo, se tornou a principal responsável pela desigualdade de renda entre as nações. Vizinho da Rússia, crítico do comunismo, Reinhart admite que foi o medo do comunismo que deu poder aos sindicatos e salários decentes na indústria manufatureira.

Na entrevista, ele retoma a visão de janelas de oportunidade, que surgem com mudanças tecnológicas permitindo arrancadas de países que conseguem se preparar para as novas ondas. Os 30 anos gloriosos foram possíveis devido à expansão da produção padronizada em massa de bens industriais.

Quando se perde uma oportunidade, fica difícil reconquistar o terreno perdido.

 

Para saber mais de Reinhart:

Como os países ficaram ricos – Amazon

(PDF) Introdução à Economia do Subdesenvolvimento – ResearchGate

https://www.researchgate.net/…/277021744_Introducao_a_Economia_do_Subdesenvolv…

Como os países ricos ficaram ricos … e por que os países … – SciELO

www.scielo.br/pdf/se/v33n2/0102-6992-se-33-02-00607.pdf

Ha-Joon Chang

https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=1641281

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. L problema é que o Brasil “se jogou” do barco da industrialização a partir dos anos 90 com a combinação de juros pornograficos e moeda valorizada. Um esforço de gerações se perdeu por pura ideologia. E continuamos caminhando cegamente para voltar a ser um pais de plantação e mineração.

  2. O problema é que o Brasil “se jogou” do barco da industrialização a partir dos anos 90, com a combinação de juros pornograficos e moeda valorizada. O esforço de gerações se perdeu por pura ideologia. Voluntariamente – o que nao quer dizer de modo esclarecido – os patrões abriram mão de suas empresas pra viverem de juros, da “renda do Estado”. E continuamos caminhando cegamente para voltar a ser um pais de plantação e mineração. Desde os anos 70 que as outras Ciências Sociais (fora a economia) já mostravam que o conflito distributivo não estava mais no “chão de fábrica”, por assim dizer, mas, nos Orçamentos, nos fundos públicos. Nao é à toa que vemos todo esse esforço para tirar o pobre do orçamento.

  3. Resumindo: essa tal de “Nova Economia” não tem nada de novo. É só fazer o que sempre se fez para a coisa dar certo: utilizar o Estado como planejador, regulador, organizador, redistribuidor e estimulador da riqueza produzida pela sociedade.
    Se não me falha a memória qualquer país desenvolvido já faz isso a bem mais de 100 anos. Mais recentemente Coréia do Sul e China não fizeram o mesmo? Então onde a “novidade”?
    Mas, como bons vira-latas que somos, temos que aplaudir esses sacos vazios do Primeiro Mundo, porque o óbvio saído da boca deles fica mais bonito….

  4. Caro Nassif
    Como admiro seu trabalho jornalístico, sinto-me à vontade para fazer uma pequena correção? a ideologia comunista não nasce em 1930, se queremos definir uma data, esta é 1848, quando é publicado o Manifesto Comunista. Atribuir o nascimento do comunismo à crise de 1930 é associá-lo a Stalin, que assume o poder em 1929, o que é uma falsificação histórica.

  5. Caro Nassif
    Uma pequena correção a ideologia comunista não nasce em 1930, se queremos definir uma data, esta é 1848, quando é publicado o Manifesto Comunista. Atribuir o nascimento do comunismo à crise de 1930 é associá-lo a Stalin, que assume o poder em 1929, o que é uma falsificação histórica.

  6. “…Depois da Segunda Guerra Mundial, sob os princípios do Plano Marshall,…” Estabilização Política da Europa com estabilização econômica e financeira para impedir o avanço dos ideais socialistas que varriam o Mundo. Esta Política foi ampliada aospaíses que compunham a Comunidade Britânica como Canadá, Nova Zelândia e Austrália. E Japão seguido por Coréia, que tornaram-se Bases NorteAmericanas para segurar esta expansão socialista no Pacifico. Esta aí o Mundo Industrializado e Desenvolvido que conhecemos. O inacreditável é que alguns querem crer que exista um tal “Livre Comércio” ou “Livre Qualquer Coisa” sem que absurdas e poderosas Pressões Políticas alterem tal realidade. Aqui no Brasil tem quem acredite nisto e em Saci-Pererê. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação. (P.S. O mais absurdo é que até o início da Grande Guerra éramos a vanguarda mundial. O país que mais crescia no planeta. Vanguarda Intelectual. Miseráveis Suíços, Alemães, Russos, Espanhóis, Ucranianos, Franceses, Italianos, do QuintoMundismo da Europa e do Japão, lotavam Navios em desespero, fugidos da Fome, do Nazismo, do Fascismo, do Totalitarismo, do Atraso, em busca da Pátria da Democracia, do Progressismo, do Voto Livre e Facultativo. Em 1930 trocamos esta Realidade Fabulosa por Golpe Civil Militar Ditatorial Absolutista Esquerdopata Caudilhista Assassino Fascista. As 9 décadas que se seguiram explicam a Latrina Histórica onde Nos enfiamos)

  7. O nome do economista é Erik Reinert, não Reinhart. Este é o sobrenome de Carmen Reinhart, outra economista que tem criticado os excessos da hiperfinanceirização da economia mundial.

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