Por César Feira
Vamos lá:
Não sei se essa carta do IEDI tem caráter de alarme, mas vamos aos fatos que eu posso vislumbrar aqui do sertão baiano, de dentro da terceira escola de engenharia mais antiga da Bahia, na Universidade Estadual de Feira de Santana. Formamos engenheiros desde 1983. Temos ex-alunos espalhados em todo o Brasil e no exterior, em pequenas empresas até grandes corporações como Odebrecht, Vale, Gafisa e até na Microsoft, em Seattle, bem como em órgãos públicos, sejam eles pequenas prefeituras do interior, sejam a Caixa, o DNIT ou a Embasa (companhia de águas e saneamento estadual), dentre outros.
Desde 2004 temos um mestrado em Engenharia Civil e Ambiental. Esse preâmbulo é apenas para situar de onde estou vendo as coisas. Fiz pós na UFF e na UFRGS. Fiz pesquisa cooperada junto com USP, UFMG, UFBA, UFC dentre outras. E, a despeito dessa minha posição enviesada, não compartilho de um pessimismo. Apenas constato que, como um dos fatores de produção do macro-complexo da construção civil, a formação (oferta) de engenheiros é mais inelástica do que os demais fatores.
Só que eu estou olhando à frente, e como membros da academia, estamos tentando aperfeiçoar essa oferta. A demanda de candidatos por vaga na nossa universidade saltou de 7,3 em 2006 para 22,77 agora no vestibular desse final de semana. Isso implica em quantidade e em qualidade.
Estamos tentando aumentar as vagas ofertadas por semestre, para diminuir um pouco essa situação. Agora não é possível tirar 30 anos de atraso em 3 anos. A remuneração dos engenheiros tem aumentado progressivamente, mas as pessoas falam como se um engenheiro atuando no mercado financeiro há anos fosse sair diretamente para o mercado sem passar por uma reciclagem.
Não há resposta de curto prazo. Aqui no sertão depois do boom, abriram mais duas escolas de engenharia civil, em faculdades particulares, fora mais outras 5 em outras especialidades como elétrica, mecânica e de produção. Mas estes profissionais só estarão formados em 5, 6 anos. Outro impacto é a importação de engenheiros, que já começaram em grandes companhias de telecomunicações, e tende a se acelerar.
O país vai ter de conviver com esse gargalo por muito tempo, fruto de políticas equivocadas que advêem do final dos anos 70 e que foram massivamente aplicadas como verdades no turbilhão neo-liberal dos anos 90. Mas eu, como engenheiro, prefiro ter problemas como esse gargalo do que a estagnação criminosa defendida pelos economistas financistas “head-sheet”, como diz o Nassif.
Cristóvão César
Por rafael
Sou professor do Curso de Engenharia de Produção do Cefet do Rio de Janeiro e posso dizer que a Carta do IEDI é bastante exagerada. O empresariado brasileiro se acostumou a ter oferta sobrando de engenheiros no país. Nos anos 90 era comum ter 100 engenheiros brigando por uma vaga que mal pagava o salário mínimo de engenheiro e qualquer profissional com mais de 35 anos era tratado como lixo imprestável.
Os tempos mudaram mas parece que o empresariado nacional continua pensando da mesma maneira. Quais engenheiros faltam para o mercado? Os engenheiros que faltam são aqueles com 25 a 30 anos de idade que possuem pós-graduação, falam duas ou três línguas estrangeiras, já tenham experiência internacional e que aceitam um salário mensal em torno de R$ 3.000,00 (só para lembrar, o mínimo para engenheiros é equivalente a 8 salários mínimos para jornada de 8 horas).
Nós fazemos pesquisas sistemáticas com os egressos do nosso curso e podemos dizer que mais de 90% dos nossos alunos já terminam o curso de Engenharia de Produção empregados, mas a maior parte deles não recebe o salário mínimo de engenheiro após a formatura. Os formados acabam deixando a atividade de engenharia em favor de trabalhos com melhor remuneração.
Ao invés de pedir às Instituições de Ensino para formarem mais quadros de reserva, O IEDI deveria começar a se perguntar por que tantos engenheiros preferem fazer concursos públicos de fiscal a continuarem engenheiros, por que as empresas continuam a querer remunerar seus quadros abaixo dos 8 salários mínimos ou por que as empresas continuam a não querer empregar pessoas com mais de 35 anos. Garanto que rapidamente iriam descobrir que não faltam tantos engenheiros assim.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.