O ajuste da demanda

Do Valor

Secretário admite “ajuste” para controlar demanda

Danilo Fariello, de Brasília
05/05/2010

O Ministério da Fazenda vai rever para cima a sua previsão para a crescimento neste ano, oficialmente em 5,2%, mas com perspectiva de chegar a até 6%. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, uma nova previsão poderá variar até 6,5%. Nesse cenário, o governo deverá adotar políticas fiscais para conter a demanda, que pressiona os preços e pode comprometer a meta de inflação.

Barbosa disse que a nova projeção de inflação e as medidas de controle da demanda deverão ser publicadas dia 20, com o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas. Ele indicou ser provável que o governo adote medidas de controle do consumo público. Dessa forma, Barbosa assegurou que não serão medidas de contenção de consumo das famílias ou das empresas. “É um ajuste pontual, para moderar o crescimento, e não uma medida drástica.”

Segundo o secretário, o governo federal tem uma meta de crescimento sustentável de até 6% no longo prazo. Acima disso, seriam adotadas as medidas fiscais “pontuais” de controle da demanda. Para ele, porém, o ritmo de aceleração do PIB já deverá apresentar alguma desaceleração no segundo semestre, porque terminarão os impactos das medidas anticíclicas adotadas no auge da crise mundial do ano passado.

“Isso já resultará em alguma desaceleração”, avalia o secretário, que participou do seminário da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, sobre as políticas de juros e câmbio. Além disso, a elevação do juro básico pelo Banco Central também deverá conter o crescimento.

No mesmo evento, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, reconheceu que já existem sintomas de inflação de demanda no país, verificados nos números referentes ao primeiro trimestre do ano. Um desses sintomas seria o crescimento dos preços tanto dos bens comercializáveis (como produtos de consumo pessoal e industrial), quanto de não comercializáveis (serviços).

“Houve no trimestre uma pressão de preços escolares e reajustes de tributos, mas também houve pressões de demanda”, disse Mendes. Em sua apresentação ele destacou que também o núcleo de inflação (que exclui choques setoriais) apresentou aceleração no último trimestre.

Para o diretor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, Yoshiaki Nakano, o crescimento sem pressões inflacionárias só poderá ocorrer quando a Formação Bruta de Capital Fixo (taxa de investimento) superar 20% do PIB. “Para isso, os gastos correntes têm de crescer menos do que o PIB, o que abre espaço para investimentos.” Segundo Mendes, o Banco Central prevê crescimento do PIB em 5,8% este ano e avanço da taxa de investimento de 15,7%, a maior da década.

Sobre o impacto negativo da taxa de câmbio apreciada sobre as exportações e, principalmente, sobre a agricultura – tema de perguntas feitas por parlamentares -, Barbosa e Mendes ratificaram que o governo brasileiro tem apenas com metas para inflação e que, portanto, não há pisos ou tetos para o câmbio.

Luis Nassif

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