O autismo do Copom

Coluna Econômica – 19/12/2008

No dia que se fizer a crônica desses tempos loucos, que marcam o fim de um ciclo econômico e o início de outro – que nem se sabe direito como será – a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) de dezembro de 2008 entrará para a história como símbolo do maios profundo autismo que se tem notícia no período.
Em outubro se observou a mais rápida inflexão da história – em termos de economia mundial. Em se tratando da economia nacional, provavelmente nem no Cruzado Dois, nem em 1995, houve inflexão mais rápida.
Mas a ata do Copom teima em considerar a série histórica como se fosse seqüencial, como se não houvesse crise, quebra do Lehmann, o outubro negro.
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Nenhum analista sério embarcaria nessa conta furada. O Copom embarcou.
No capítulo “A Evolução Recente da Economia”, limita-se a falar da inflação. Analisa a inflação anual até novembro sem sequer levar em conta a queda nos preços das commodities e no nível de atividade interno e externo.
O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) é o que reflete de forma mais intensa a influência dos preços externos. Ele recuou de 1,09% em outubro para 0,07% em novembro. Ou seja, os preços estabilizaram-se em novembro. Qual a conclusão? “A despeito de arrefecimento em novembro, nos primeiros onze meses do ano, os preços industriais no atacado tiveram elevação de 13,80%, ante 3,39% em igual período de 2007”. Usou o passado.
É inacreditável! Esse mesmo erro monumental de análise se repete na avaliação do PIB. Toma os dados até o terceiro trimestre – antes da crise – e considera que a economia continua crescendo de forma robusta. Nos jornais, informações sobre formação de estoques, queda de vendas, redução nos níveis de financiamento depois de outubro. Mas a ata trabalhando em bases anuais para poder justificar a manutenção dos juros escandalosamente elevados.
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Na análise da situação externa, a ata abdica de qualquer análise sobre os riscos da economia, com a volta dos déficits externos. Esses déficits foram provocados pela valorização do real, em função dos erros na fixação da taxa Selic – que acabaram atraindo muito capital externo. Em vez de analisar essas vulnerabilidades, a ata se limita a estimar o impacto de novas desvalorizações cambiais sobre a inflação.
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Com a atividade econômica desabando, em função da crise do crédito, a ata diz que “O Copom considera importante ressaltar, mais uma vez, que há defasagens importantes entre a implementação da política monetária e seus efeitos tanto sobre o nível de atividade como sobre a inflação. Dessa forma, a avaliação de decisões alternativas de política monetária deve concentrar-se, necessariamente, na análise do cenário prospectivo para a inflação e nos riscos a ele associados, em vez de privilegiar os valores correntes observados para essa variável.”
Na hora de tentar comprovar que a inflação continuava elevada, o Copom se baseou nos dados correntes. Na hora de alegar que a inflação continuará elevada, se baseia nos dados prospectivos.
O BC e o Copom ainda acabarão por jogar o país de cabeça na crise.

Luis Nassif

9 Comentários

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  1. Nassif, a inflação fechou ,
    Nassif, a inflação fechou , no ipca 15, em 6,2%, no ano….

    Cadê a super inflação???? O pior de tudo q o BC vai se vangloriar de ter trasido o inflação para o centro da meta, mesmo sabendo que isso foi resuldado da queda das comodites e não dos juros altos praticados…

    Cade o superaquecimento da economia???

  2. Mais uma oportunidade
    Mais uma oportunidade perdida.

    Várias conquistas realizadas pelo Governo do Presidente Lula estão em risco em função dos erros do COPOM.

    Os desdobramentos da crise financeira acabou umpondo uma forte queda da liquidez interna, justamente o que o COPOM deveria ter feito no começo de 2008, aumentando o compulsório e IOF, e não o fez por preferir usar apenas o juros da Selic para reduzir a atividade econômica no Brasil, o que provocou um aumento ainda maior do dólar no primeiro semestre de 2008.

    Agora basta controlar o crescimento do crédito com o ajuste do compulsório em função da forte queda da liquidez, há espaço não só para reduzir os juros da Selic como para reduzir ou eliminar temporariamente o IOF, reduzindo o custo da rolagem da dívida pública e os custos financeiros da empresas e das pessoas físicas.

    Já está passando da hora de mudar radicalmente a Política Monetária, as cartas de demissão já estão impressas, se o COPOM não der um sinal as cartas de demissões serão entregues a milhões de pessoas e a dívidas de milhares de empresas não será refinanciadas, em razão da diminuição do mercado interno.

    Este cenário provocará uma forte queda da arrecadação de impostos, aumentando a dívida pública.
    O modelo usado pelos membros do COPOM não se aplica para avaliar a atual situação, é evidente que a falta de dados também dificultam as decisões, mas a situação exige um mínimo de ação ativa por parte do BACEN.

    A magnitude do compulsório liberado, a forte queda dos preços internacionais, a forte queda da demanda internacional é que permite um corte agressivo nos juros da Selic.

    O corte necessário é tão grande que não possível realizá-lo de uma só vez, o que torna injustíficável a indecisão dos membros do COPOM desde setembro de 2008.

  3. Nassif,

    Um autismo nada
    Nassif,

    Um autismo nada ingênuo, pois que deu sinais claro em não concordar com as diretrizes fixadas pelo governo e defender, de forma soberba, interesses dos bancos.

    E, não venham me dizer, que o BC está certo sob risco de crise bancária pois esta inexiste e a estratégia para conter supostos surtos inflacionários estacionadas no passado recente não corresponde ao cenário de deflação atual e futuro.

    abraços

  4. É o fanatismo
    É o fanatismo Estatístico-Gaussiano, coisa aliás d Não Estatísticos…
    Dá até pela proximidade do Natal pra fazer comparação com a anedota do peru cabeça d planilha;
    este Analisando as centenas e centenas e centenas d dias em q foi alimentado e cuidado por humanos, conclui q os humanos são uma raça amiga e q aquele único dia ( 2 no caso Americano ) do ano anterior no(s) qual(is), eqto crescia, observou os seus colegas serem levados pra mesa …não devem ser levados em conta, pois na Média são irrelevantes…

    Alguns a chamam d anedota do avestruz…

  5. Nassif, desculpe-me, mas quem
    Nassif, desculpe-me, mas quem vai jogar o Brasil de cabeça na crise é o presidente Lula ao manter o Meirelles no comando do BC.

  6. Creio que o enfrentamento da
    Creio que o enfrentamento da crise financeira internacional pelos Bancos Centrais dos EUA, Europa e Japão, criam condições para viabilizar uma estabilidade cambial com padrão monetário internacional em US$1,00, EUR€ 1,00 e JPY$ 100.

    Mais do que uma estabilidade, está aberta a oportunidade para uma unificação monetária, com apenas um Banco Central Unificado para as três regiões, dirigido por colegiado com um representante de cada região.

  7. A saída do estrangeiros de
    A saída do estrangeiros de mais de 13 bilhões entre julho e outubro de 2008, a queda do valor da ações em reais e a correção cambial já derrubaram a posição dos investimentos estrangeiros em carteira no Brasil de UU$ 252,7 bilhões em julho de 2008 para US$ 124 bilhões, uma queda de mais de 50%.

    Em relação as reservas cambiais a posição dos investimentos estrangeiros em carteira caiu de 124% para 60% das reservas cambiais.

    Em novembro de 2008, os investimentos estrangeiros em carteira registraram saídas líquidas de US$4,5 bilhões, os preços das ações recuaram cerca de 5% e a correção cambial foi de 10%., o que deve ter reduzido o saldo de investimento estrangeiro em carteira para US$ 114 bilhões ou 55% das reservas cambiais.

    Este cenário está reduzindo a pressão dos investimentos em carteira, ações e renda fixa, sobre o câmbio, sendo já perfeitamente administrável.

    A projeção atual para o déficit em conta corrente é de US$ 25 bilhões, mesmo que passe para 40 bilhões e o investimentos estrangeiro direto seja reduzido em 2009 para US$ 20 bilhões contra os 40 US$ bilhões deste ano, provocando um déficit na balança de pagamento US$ 20 bilhões de dólares mais o saldo do investimento estrangeiro em carteira.

    Creio que as reservas cambias de mais de US$ 200 bilhões são mais do que suficiente para financiar a balança de pagamentos, permitindo uma correção gradual do atual déficit em conta corrente, via aumentos do superávit comercial.

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