O Banco Central com Tombini

Coluna Econômica

A indicação de Alexandre Tombini para a presidência do Banco Central é sinal de que o governo Dilma Rousseff não pretende adotar medidas heroicas para impedir a apreciação do real. Mas também é sinal de que haverá um BC menos cabeça dura do que aquele que vigorou na era Henrique Meirelles.

Há um conjunto relevante de aprimoramentos que poderão ser introduzidos no atual regime de metas inflacionárias – pelo qual a taxa Selic é balizado de acordo com metas futuras de inflação.

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OpriO primeiro passo é ampliar o escopo de consultas sobre as expectativas inflacionárias. É inconcebível que um dos preços mais importantes da economia – a taxa de juros – fique na dependência de expectativas fechadas em torno do restrito circuito de economistas ligados a bancos.

Assim como no FED, as consultas precisam ser ampliadas para associações de indústrias, de varejo, de supermercados, para pesquisas regionais mais detalhadas.

Da mesma maneira, a composição do COPOM (Comitê de Política Monetária) é um anacronismo em que prevalece a opinião de um ou dois diretores beneficiados pelo acesso aos departamentos técnicos do BC.

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Fosse um BC ao estilo norte-americano, a composição da diretoria e/ou os departamentos econômicos seria uma mescla de economistas de formação diversas, permitindo uma diagnóstico mais amplo da economia.

Houvesse essa diversidade, o BC não teria embarcado no erro histórico de considerar a atividade econômica “robusta” no relatório de dezembro de 2008, o que forneceu o álibi para a manutenção do nível absurdo de juros.

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Sem abandonar a ortodoxia, há que se considerar o uso de outros instrumentos para coibir eventuais excessos de demanda, como o depósito compulsório e o uso da tributação e de regulação para amenizar a virulência da entrada e saída de capitais especulativos.

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Há que se alterar o período de avaliação das metas inflacionarias. Hoje em dia, seguem o calendário gregoriano – a meta precisa ser alcançada a cada ano, o que pressiona demais a política monetária quando há algum atraso a ser compensado. Tem que se adotar o regime de doze meses para frente.

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Principalmente, tem-se que cobrar dos gestores da política monetária as metas de emprego. Hoje em dia o Copom só é “punido” quando erra a meta de inflação para cima. Mas é tratado com notável complacência quando comete erros de avaliação para baixo – como os enganos de dezembro de 2008. Se ele pode errar por exagero, sem ser cobrado, sempre tratará de exagerar na dosagem dos juros.

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Este ano o BC e o COPOM (Comitê de Política Monetária) passaram por mudanças pequenas, mas as primeiras em muitos anos. No primeiro semestre não cedeu ao canto de sereia do mercado, que queria aumento de juros para combater uma inflação decorrência do aumento dos preços de alimentos – influenciados por fatores sazonais e não de excesso de demanda.

É esse pragmatismo que se espera. Mais que isso: a ousadia de, no momento correto, ter a coragem de derrubar os juros para padrões civilizados. 

Luis Nassif

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