O capital não tem a pretensão de buscar o pleno emprego

Comentário ao post “Ainda estamos aguardando o verdadeiro “gigante” acordar

O texto é precioso e faz um diagnóstico muito bom do que vem acontecendo no Brasil. Não só aqui como de resto em todo o mundo.

Vou repetir aquilo que já disse aqui. Há hoje no mundo um movimento, promovido pelo capital, na figura de suas mais representativas e mundialmente influentes instituições, principalmente o World Bank, no sentido de criar-se mundo afora uma nova classe social, não proletária e muito menos burguesa. Uma classe que viverá não mais a margem da economia, mas estará inserida nesta nova economia através dos Cash Trasnfers  Programs, ou Programas de transferência Condicionada de Renda, idealizados pelos economistas neo-liberais do WB, e implantados a princípio no Brasil, no México e na Turquia, a partir de 2002 e que hoje proliferam mundo afora. Essa nova figura econômica, nascida a partir do pós-Consenso, na virda do século, quando ficou frlagrante que a globalização neo-liberal geraria uma massa tão grande de excluídos nos países sub-desenvolvidos e em desenvolvimento, que tornaria esse países ingovernáveis e essa ingovernabilidade acabaria por gerar revoltas populares que colocariam em risco o domínio do capital internacional, abrindo flancos tanto para a volta dos movimentos de esquerda como para as direitas ultranacionalistas, ambos um risco para a estabilidade pretendida pelo capital.

Já está explícito atualmente que, com tecnologias que cada vez mais substituem o trabalho humano, incluindo indústrias totalmente robotizadas e agora até supermercados que dispensam o trabalho humano, que não haverá colocação para todos na economia que está por vir. Muitos imaginaram que o caminho natural seria a redução de jornadas de trabalho, que proporcionaria mais lazer, que por sua vez geraria mais postos de trabalho, etc.  Ledo engano. O capital não tem a menor pretensão de buscar o pleno emprego, na sua mais ampla forma dentro do keynesianismo. O capital está tratando de criar uma nova classe que simplesmente não precisará ser empregada na economia como força de trabalho, mas, por outro lado, não ficará a margem da economia, serão consumidores, porque a eles será destinada uma parte da renda, através de transferência. Evidentemente, esta nova classe não será restrita e isolada. Ela menterá seus vasos comunicantes com a classe trabalhadora e haverá por certo migrações entre estas classes. Muitos a abandonarão, ascendendo a classe trabalhadora, mais por outro lado, será cada vez maior o número de ex-trabalhadores descendo a classe não-produtiva e passando a viver exclusivamente de transferência de renda através do Estado. 

Engana-se quem pensa que isto só serve para os países com grandes índices de pobreza. O Congresso alemão já discute uma lei para regularizar o não-trabalhador. Mesmo com a diminuição de jornada, já se verificou que haverá mão-de-obra excedente num futuro próximo, e por mais que se o salário juntamente com a jornada, como se fez por lá ultimamente, sobra o custo, antieconômico, na visão capitalista de, no futuro ter-se que capacitar um trabalhador para trabalhar por exemplo, apenas 4 horas por dia. Melhor, numa visão capitalista, dispender custos de capacitação a 6 trabalhadores que trabalhem 6 horas/dia ( 36 horas/homem) , do que  ter que capacitar 9 para trabalhar 4 horas/dia, gerando as mesmas 36 horas/homens e manter os outros 3 a base de transferência de renda. Pelo projeto alemão, o não-trabalhador, poderia renunciar a disputar o mercado de trabalho para receber a renda do Estado. E poderia mesmo, ao final dos estudos básicos, optar por não disputar os cursos profissionalizantes, muito comuns, ou mesmo as Universidades. A Alemanha busca uma solução antecipada para o problema que se conhece hoje na Espanha dos mileuristas. Jovens com mais de 25 anos, graduados ou pós-graduados, que não conseguem ganhar mais que mil euros por mes, por falta de colocação no mercado de trabalho.

Luis Nassif

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