Desde o começo, achei que o governo agiu corretamente no caso Brasil-Bolívia. O lado Petrobrás bateu duro; o lado Itamarati foi paternal.
É relevante levar em conta o grau de desenvolvimento institucional e diplomático da Bolívia. É um país atrasado, sem a menor experiência em fóruns internacionais, que foi profundamente espoliado ao longo dos anos. É eleito o primeiro presidente índio, Evo Morales, rústico, uma espécie de Heloisa Helena com penas, precisando reativar a auto-estima nacional, mas sem ter a menor idéia sobre como proceder, e com um arco de apoio amplo e heterogêneo, que vai de populações indígenas a radicais nacionalistas.
Sem coesão interna, provavelmente apenas com diagnósticos difusos sobre a realidade do país, tendo que enfrentar uma eleição constituinte, era natural que saísse dando cabeçadas. Se, na primeira cabeçada, o Brasil partisse para a defesa da “honra nacional”, o teria encurralado, deixando-o em uma sinuca de bico. Dali para identificar no Brasil o inimigo externo seria um pulo.
A segunda investida do governo Morales, esta semana, recebeu uma resposta mais dura do governo brasileiro -inclusive porque em período eleitoral. O resultado foi a queda do Ministro dos Hidrocarbonetos e Energia, Andrés Solíz Rada, um intelectual que, a exemplo dos muitos intelectuais que freqüentam o PSDB e o PT, gosta de radicalizar sem pensar nas conseqüências para o país.
A manutenção dos laços diplomáticos com Morales, da compreensão com suas cabeçadas, permitiu que o episódio depurasse o governo boliviano, expelindo Solíz, e fortalecendo setores mais moderados e pragmáticos.
O que teria acontecido se o governo tivesse ido defender a honra nacional contra o “rato que ruge”? Certamente teria fortalecido a banda radical que cerca Morales.
Poderão ocorrer outros incidentes, devido ao caráter volátil do governo Morales. Mas, até agora, o modo como o governo brasileiro tratou o caso foi correto: a Petrobrás bate, o Itamarati assopra.
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