O “colchão” das reservas internacionais brasileiras

Ouvi alguns comentários de “especialistas” dizendo que as nossas reservas seriam vaporizadas em uma crise mundial. Das duas, uma, ou não tem noção de quanto é 350 bilhões de dólares ou não tem noção de quanto é 350 bilhões de dólares. Prefiro ficar com os comuns.

Do Terra

Reservas internacionais 

“Colchão” ajuda a controlar o câmbio e ameniza crise

Pela primeira vez na história as reservas internacionais brasileiras (depósitos de moeda estrangeira, ouro e direitos especiais de saque e posição junto ao Fundo Monetário Internacional ) superaram a marca dos US$ 350 bilhões, de acordo com o Banco Central. E há uma série de motivos para esse valor acumulado que, no caso brasileiro, é feito na maior parte em moeda americana. O principal argumento é que um bom volume de recursos guardados funciona como um seguro contra crises internacionais.

Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, explica que países que têm mais reservas são vistos como mais seguros porque poderão passar melhor por abalos. “Em caso de uma grande fuga de capitais, por exemplo, se o país precisar usar recursos de emergência, ele busca nas reservas que acumulou. Se faltar linhas de financiamentos em dólares no exterior em função de uma crise internacional, o país com bom volume de reservas pode manter suas importações pagando normalmente em moeda americana, que tem circulação internacional ao contrário do real”, exemplifica.

Rocha cita a crise do petróleo nos anos 70, quando o Brasil precisava importar e não tinha reservas suficientes para dizer que pagaria a conta e não era deficitário. “Hoje pode dizer isso. Antes era impossível comprovar que o País poderia enfrentar uma crise temporária sem ter problemas nos pagamentos. Nos últimos anos isso mudou, tanto que foi o acúmulo de reservas que nos permitiu enfrentar melhor a crise de 2008”, conta.

Outro defensor das reservas como seguro contra sustos na economia é Marcelo Kfoury, economista chefe do Citi Brasil. “Se existir uma situação de pânico e muitos investidores saírem do País, o governo solta dólares no mercado, podendo fazer isso de um jeito mais ordenado. Caso sequem as fontes de financiamento para a economia brasileira, as reservas permitem suprir essa carência”, afirma.

Kfoury também explica o motivo da escolha do dólar como principal recurso das reservas brasileiras: a maior parte dos compromissos é firmada em dólar, então faz mais sentido investir em títulos da dívida americana. “Se a opção fosse buscar títulos de outro país, na hora de converter a moeda para o dólar haveria perda nessa transação”.

Melhor não arriscar

O investimento nos títulos do Tesouro americano leva em conta, principalmente, a segurança. Em segundo lugar, a preocupação é com a liquidez.  Para Rocha, é como se uma pessoa fosse acumulando recursos na conta e, como não está muito preocupada com o retorno e sim com o risco, investe em ativos. “Não adianta investir em um ativo que renda muito se o objetivo é proteger a economia brasileira caso seja necessário. Ou seja, não adianta ter retorno alto se o risco é alto. E os títulos americanos continuam seguros apesar de toda a crise que há na economia de lá”, opina.

Alguns analistas criticam a política brasileira de aquisição de dólares no mercado interno para investir nos papéis americanos. O problema estaria na baixa remuneração recebida contra a alta taxa de juros paga aos investidores que aportam no Brasil. Mesmo assim, Rocha defende a estratégia do governo: “Os títulos do tesouro americano vão continuar se mostrando um ativo de melhor qualidade de risco, apesar do rebaixamento do rating dos Estados Unidos. E quanto ao rendimento de 1% que recebemos contra os 12% que pagamos, acredito que esse é o custo que o Brasil tem para provar que está preparado para qualquer fluxo de capitais de uma maneira intensa e inesperada.”

O economista do Citi concorda. Para ele, os títulos da divida americana ainda têm a maior credibilidade do mercado. E como não é interessante que haja movimentos agudos no mercado num único dia é importante que o governo lance mão das reservas em algumas situações como forma de acalmar o mercado e não deixá-lo à deriva. “As reservas são uma munição nesses casos”, completa.

Controle do câmbio

Os economistas apontam outra função estratégica do acúmulo de reservas: o controle da taxa de câmbio, que é determinada pela oferta e pela demanda de moeda. Se as entradas de dólares não são iguais às saídas dessa moeda em determinado período, o preço do dólar em reais – a taxa de câmbio – muda. Se o Banco Central quer evitar essa variação, ele pode comprar dólares para evitar que seu preço caia (o real se valorize) ou vender dólares para evitar que seu preço suba (o real se desvalorize).

José Francisco de Lima Gonçalves, economista chefe do Banco Fator, esclarece a tática. Ele explica que ter reservas é importante para garantir que, dentro de certos limites, a taxa de câmbio não irá subir (desvalorização do real) além do desejável. “Se o país tiver que fazer pagamentos em dólares em determinado período e não puder contar com recebimentos da moeda americana nesse prazo, as reservas são usadas (vendidas) para evitar que a taxa de câmbio suba e/ou que o país não consiga fazer o pagamento (calote)”, aponta.

O professor do Insper reforça a importância das reservas no controle do câmbio. Se está entrando dinheiro no Brasil, tanto por meio de investimentos financeiros quanto pelo setor produtivo, é preciso haver uma contrapartida para retirar esses dólares do mercado. Se isso não é feito, a moeda americana fica desvalorizada, o que gera vantagens, mas também problemas, como a maior dificuldade das empresas nacionais para exportar.

Luis Nassif

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