O consumo de energia na China

Consumo energético da China vai se estabilizar até 2035 

Berkeley Lab

Estudo do Berkeley Lab prevê pico do consumo de energia na China nos próximos 20 anos.
27 de abril de 2011

Julie Chao (510) 486-6491 [email protected]
Tradução: Marcos Costa

Como a economia chinesa continua a crescer, o uso de energia e as emissões de gases do efeito de estufa acompanharão este crescimento. Ao menos é o que diz a sabedoria convencional. Uma nova análise feita por pesquisadores do Lawrence Berkeley National Laboratory (Berkeley Lab) desafia esta noção, amplamente difundida nos Estados Unidos e China.

Bem antes de meados do século, segundo um novo estudo do Berkeley China Energy Group Lab, o consumo de energia na China se estabilizará, mesmo que sua população ultrapasse a marca 1,4 bilhões de pessoas. “Eu acho que essa é uma notícia muito boa”, diz Mark Levine, co-autor do relatório,“China’s Energy and Carbon Emissions Outlook to 2050”, e diretor do grupo. “Há uma percepção de que a crescente prosperidade da China significa crescimento desenfreado do consumo de energia. Nosso estudo mostra que este não será o caso. “

A ascensão da China como potência econômica mundial, provocou um rápido aumento do uso de energia e das emissões de dióxido de carbono. De fato, a China ultrapassou os Estados Unidos em 2007 como o principal emissor de gases do efeito estufa.

De acordo com esta nova previsão, a acentuda curva de crescimento da demanda por energia na China, começará a se estabilizar entre 2030 e 2035, e se achatará completamente em seguida. Chegará um momento, dentro das próximas duas décadas, em que o número de pessoas na China comprando automóveis, grandes casas e outros apetrechos das sociedades industrializadas atingirá o seu pico. É um fenômeno conhecido como saturação. “Uma vez que quase todas as famílias possuam uma geladeira, uma máquina de lavar roupa, ar condicionado e outros eletrodomésticos, e uma vez que a área de habitação per capita se estabilize, o crescimento do consumo per capita de energia elétrica residencial irá desacelerar”, explica Levine.

Da mesma forma, a China vai atingir a saturação na construção de estradas e ferrovias antes do período 2030-2035, resultando em diminuição muito grande na demanda por ferro e aço. Além disso, outras indústrias que utilizam energia de forma intensiva verão a demanda por seus produtos diminuir.

O relatório de Berkeley Lab também antecipa o uso disseminado de carros elétricos, uma queda significativa na dependência do carvão para a geração de eletricidade, e uma grande expansão no uso da energia nuclear, tudo contribuindo para reduzir as emissões de CO2 da China. Embora a China tenha suspendido temporariamente a construção de novas usinas nucleares, por conta do desastre de Fukushima no Japão, a previsão de novas usinas no longo prazo permanece inalterada.

A chave para estas novas descobertas é um profundo olhar para os padrões de demanda de energia na China: um sistema de modelagem “de baixo para cima” que se desenvolve com base em projeções de consumo de energia com muito mais detalhe do que os métodos comuns, e que exige muito mais tempo e trabalho para a sua elaboração. Os trabalhos se desenvolveram no decorrer dos últimos quatro anos. “Outros estudos não têm esse tipo de detalhe”, afirma Levine. “Não há modelo fora da China, que chegue perto de ter esse tipo de informação, tais como os nossos dados sobre as ações de habitação e equipamentos.”

Não só o relatório examina a demanda por aparelhos como geladeiras e ventiladores, como também faz previsões sobre a adoção de melhorias na eficiência energética destes equipamentos – do mesmo modo como os americanos agora estão comprando máquinas de lavar mais eficientes , carros com menor consumo de combustível, e menor gasto de energia para as lâmpadas.

Os pesquisadores de Berkeley Lab Zhou Nan, David Fridley, Michael McNeil, Nina Zheng, e Jing Ke foram co-autores do relatório ao lado de Levine. Seu estudo é uma “análise de cenário” que prevê de dois futuros possíveis para a energia na China: “um cenário de melhoria acelerada”, em que se assume o sucesso de um esforço muito agressivo para melhorar a eficiência energética,  e outro mais conservador  o “cenário de melhoria contínua”, que atende a metas menos ambiciosas. No entanto, ambos os cenários, em ritmos diferentes, mostram um achatamento do consumo de energia bem antes de 2050.

No cenário mais agressivo, o consumo de energia começa a se achatar, em 2025, apenas 14 anos a partir de agora. O cenário mais conservador vê taxas de consumo de energia se estabizando em 2030. Por volta da metade do século, o consumo de energia no âmbito do “cenário de melhoramento acelerado” será de 20 por cento abaixo dos outros.

A análise de cenário também é usada em previsões mais convencionais. Contudo estas são normalmente baseadas em variáveis ​​macroeconômicas, tais como o produto interno bruto e crescimento populacional. Tais cenários são desenvolvidos, “sem referência à saturação, eficiência, ou ao uso de dispositivos consumidores de energia como, por exemplo, condicionadores de ar”, diz o relatório do Laboratório Berkeley. “Para os analistas e formuladores de políticas de energia, esta é uma omissão grave e, em alguns casos, põe em xeque o próprio sentido dos cenários.”

A nova previsão de Berkeley Lab também utiliza dois cenários para analisar as emissões de CO2 previstas até 2050. No cenário mais agressivo, as emissões chinesas de gases do efeito estufa atingem o pico em 2027, com 9,7 bilhões de toneladas. A partir daí, elas vão cair de forma significativa, para cerca de 7 bilhões de toneladas em 2050. No cenário mais conservador, as emissões de CO2 chegarão a um patamar de 12 bilhões de toneladas em 2033 e, em seguida cairão para até 11 bilhões de toneladas em meados deste século.

Várias hipóteses sobre os esforços da China para “descarbonizar” a sua produção e consumo de energia estão inseridas nas previsões otimistas para a redução do crescimento das emissões de gases de efeito estufa. Entre elas:

. A redução drástica da participação do carvão na produção de energia, diminuindo para 30 por cento em 2050, comparado aos 74 por cento de 2005
. A expansão da energia nuclear dos 8 gigwatts em 2005 para 86 gigawatts até 2020, seguido por um aumento para até 550 gigawatts em 2050
. A mudança para carros elétricos. O pressuposto é de que o total de carros privados urbanos irá atingir a marca de  356 milhões de veículos em 2050. De acordo com o “cenário de melhoria contínua”, 30 por cento deles serão elétricos; sob o “cenário de melhoria acelerada,” 70 por cento serão elétricos.

O relatório de 72 páginas de Levine e seus colegas do Berkeley Lab’s Environmental Energy Technologies Division, foi apresentado em uma coletiva aos funcionários do Congresso dos EUA. O estudo foi realizado sob contrato com o Departamento de Energia dos EUA, com financiamento do Programa de Energia Sustentável da China, uma parceria da Fundação David e Lucile Packard ea Fundação Energia.

O Lawrence Berkeley National Laboratory aponta os mais urgentes desafios científicos mundias, desenvolvendo fontes de energia sustentável, a protecção da saúde humana, a criação de novos materiais, e revelando a origem e o destino do universo. Fundado em 1931, as competências científicas do laboratório de Berkeley foram reconhecidas por 12 prêmios Nobel. A Universidade da Califórnia Berkeley Lab administra para o Departamento de Energia dos EUA’s Office of Science. Para mais visite www.lbl.gov .

http://newscenter.lbl.gov/news-releases/2011/04/27/china-energy-consumption-will-stabilize/

Para quem se interessar, está aqui o texto original do relatório:

http://china.lbl.gov/publications/2050-outlook

Luis Nassif

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