O Copom e o crescimento chinês

Coluna Econômica – 10/06/2010

São escandalosos os álibis utilizados pelo Banco Central para aumentar a taxa Selic, reforçados pelo mercado e endossados pela parcela mais visível do jornalismo econômico.

Atropelam a lógica, desprezam dados fundamentais de análise, tudo em nome de um jogo em que o que menos importa é o interesse nacional.

Tome-se a decisão do COPOM (Comitê de Política Monetária) de aumentar a taxa Selic. Antes, o dia foi tomado pela divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estaística). No primeiro trimestre de 2010, houve uma alta de 9,5% em relação ao primeiro trimestre de 2009.

Imediatamente TVs, rádios e sites jornalísticos foram invadidos por beatos Salús prognosticando o fim do mundo. O Brasil não teria condições de suportar o “crescimento chinês”, diziam eles, como se essa alta de 9% fosse se repetir pelo ano todo. Alguns por malícia, outros por pouca familiaridade com os números, sofismavam indo contra as projeções do próprio mercado.

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Os indicadores do PIB são relevantes quando demonstram superaquecimento da economia. Com crescimento muito rápido, a produção ocupa a capacidade instalada das fábricas. Há uma corrida por estoques que infla o preço das mercadorias, provocando inflação.

O que mede de fato o ritmo da economia não é a alta média do PIB, mas o chamado PIB na ponta – isto é, como o PIB está correndo no dia de hoje.

Explicando melhor.

A alta de 9% se referiu a um período de atividade econômica aquecida (atual) frente a um período de atividade econômica morna (ano passado). Se a economia corre a 80 km/h, por exemplo, de repente a velocidade cai para 40 km/h e, passada a crise, volta para 80 km/h, o desempenho retorna ao mesmo ritmo anterior à crise. Depois disso, poderá manter o mesmo ritmo ou aumentar um pouco. Mas na passagem dos 40 para os 80, a variação foi de 100%.

O que a nata da malandragem faz é pegar os 100% e espalhar que a economia continuará crescendo a 100%. Aí vira o tal “crescimento chinês”, utilizado para aterrorizar a população – quando era para ser comemorado.

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Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa fez algumas simulações. O mercado aposta que o PIB deste ano poderá fechar em 7%. Como o PIB é uma media das variações trimestrais, para chegar aos 7% (partindo de 9% no primeiro trimestre), a alta nos próximos trimestres deveria ser de um ponto percentual por trimestre – ou entre 4% a 4,5% ao ano.

O próprio mercado está estimando, portanto, que depois dessa alta do primeiro trimestre o PIB passe a correr a taxas razoáveis. Então, onde está o tal “crescimento chinês”?

Além disso, ao contrário do que foi veiculado por muitos desses analistas, houve um aumento nos investimentos e na poupança interna: 1,5 do PIB, graças à melhoria da arrecadação pública, da renda das famílias e dos lucros das empresas.

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Na realidade, o risco real da economia foi apontado pelo candidato da oposição José Serra: o do crescimento, ainda que em ritmo brasileiro, pressionar mais ainda as contas externas. É esse o perigo real. 

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